Paula Gomes é a “menina dos copões” do TikTok: a jovem de 19 anos ficou conhecida desta forma por seus conteúdos fazendo drinks de bebidas alcoólicas, ou “copões”, como ela mesma chama. A estudante de psicologia chegava a beber quatro vezes na semana, algumas vezes mais de duas vezes no dia, e não percebia que o consumo de álcool se tornou um problema. Agora, a paulista tem compartilhado com os mais de 500 mil seguidores, de forma muito sincera, a sua jornada sóbria há um mês.

“Eu comecei a beber muito nova, aos 12 anos”, lembra, em entrevista à Marie Claire. Foi nesta idade que Paula ficou inconsciente por conta do excesso de bebida pela primeira vez: “Não bebia socialmente, naquela época eu já dava ‘PT’ [gíria que significa ‘perda total’] mesmo.”

A jovem diz que começou a beber cedo influenciada pela família, que também tinha a o hábito de beber bastante. “A minha mãe sempre bebeu, assim como meu pai e meu padrasto. Desde muito nova, via isso com frequência. Minha mãe sempre dizia: ‘É melhor você beber em casa comigo do que na rua com pessoas que você não conhece’”.

A relação com o álcool se intensificou na adolescência e Paula admitiu ter um vício quando completou 18 anos. “Eu mudei de cidade para fazer faculdade, então não tinha mais responsáveis me ‘vigiando’. Podia beber em casa sozinha ou sair com meus amigos para beber”, afirma ela, que saiu de Pitangueiras para viver em Ribeirão Preto, as duas cidades no interior do estado de São Paulo. Na nova cidade, a estudante passou a comprar garrafas de energético e vodca para fazer seus “copões” semanalmente.

Para Paula, não existia tempo ruim para beber. Começou a criar o hábito de beber sozinha à tarde, assim que chegava da faculdade. “Se chegasse mais cedo, às 10h da manhã, já preparava o primeiro do dia e ficava bebendo no meu quarto”. Neste período, começou a compartilhar o "modo de preparo" das bebidas no TikTok, inclusive um "copão" preparado para o café da manhã.

“O vídeo viralizou e depois disso comecei a gravar sempre que fazia. Foi bem espontâneo. As pessoas visualizavam, comentavam muito e demonstravam preocupação com a minha saúde, mas também recebia muitos comentários satíricos e piadas sobre o assunto”.

A questão com o alcoolismo

Apesar dos comentários preocupados de terceiros, Paula não percebia que seu alcoolismo era um problema. Nem mesmo sua pausa na bebida se deu por escolha, de forma consciente: “Eu fiquei uns quatro dias sem beber por conta do trabalho e da faculdade, porque não tinha tempo. Depois desse período, percebi que o álcool era um problema na minha vida e decidi parar. Agora, faz 31 dias que estou sem beber”, comemora.

“Olhei para trás e percebi como o álcool influenciava minha vida e me deixava mal. Só fui entender que era um problema depois que parei, porque antes eu não enxergava”.

Um estudo de 2018 publicado no periódico BMJ Open revelou que os benefícios de um mês sem álcool podem durar mais tempo do que isso: segundo pesquisadores, pessoas que pararam de beber por 30 dias apresentaram melhorias significativas na saúde metabólica, mesmo sem mudar outros hábitos.

Paula reparou uma melhora significativa principalmente em sua saúde mental: “Sou diagnosticada com depressão e tinha muitas crises depressivas quando bebia. Eu passava muito tempo na cama, adiava meus compromissos e não queria fazer quase nada. Minha vida girava em torno do álcool, era ele que me controlava”.

“Depois que cortei a substância, consegui me regular muito mais. Hoje percebo uma diferença enorme no meu psicológico, tenho muito mais ânimo para fazer as coisas. Além disso, sinto diferença na minha saúde física. As pessoas do TikTok também notam essa mudança na minha aparência, comentando que estou com a pele mais bonita, parecendo mais jovem e saudável”.

O único sintoma de abstinência que sentiu também está relacionado à tentativa de parar de consumir cigarros eletrônicos. “Como tentei lidar com os dois vícios ao mesmo tempo, tive três dias de uma crise de abstinência muito forte, com náuseas, tontura e sensação de desmaio”.

“Parar de beber não significa que nunca mais vou consumir álcool, mas que não vou deixar a bebida me controlar. Eu achava que não conseguiria e que seria algo passageiro. Estar há um mês sem beber já é um avanço muito significativo para mim, considerando que antes não conseguia ficar nem dois dias sem.”

Geração Z tem bebido menos no Brasil

Paula faz parte da estatística que mostra que a geração Z brasileira tem bebido menos álcool. Dados de 2023 do Relatório Covitel revelou que o consumo frequente de álcool entre jovens adultos diminuiu nos últimos anos: a porcentagem de jovens entre 18 e 24 anos que bebem três ou mais vezes por semana caiu de 10,7% para 8,1% desde o início da pandemia.

Em sua jornada, a estudante tem o apoio da família e de seus amigos. "Minha mãe foi minha maior apoiadora, pois ela também enfrenta esse problema e sabe o quanto o álcool pode interferir na nossa vida. Ela me parabeniza todos os dias por passar mais um dia sem beber. Meus amigos também reagiram muito bem. Quando saímos, mesmo em festas, eles respeitam minha decisão e não me oferecem bebida".

No TikTok, a influenciadora avalia a repercussão de sua sobriedade como algo "muito mais acolhedor". "Antes, sentia que havia pessoas que não queriam me ver bem e estavam apenas me acompanhando. Hoje, percebo que quem vê meus vídeos realmente deseja o meu bem. Recebo muitos parabéns por mais um dia sem beber, e sinto que meu público está muito mais engajado nesse sentido".