Política

Governo traça plano para evitar problemas no escoamento da safra e conter alta dos alimentos

Alta de preços dos alimentos entrou no centro das discussões após cobranças de Lula

Por Notícias ao Minuto 28/01/2025 08h08
Governo traça plano para evitar problemas no escoamento da safra e conter alta dos alimentos
Governo traça plano para evitar problemas no escoamento da safra e conter alta dos alimentos - Foto: Getty

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) planeja uma força-tarefa para se antecipar a problemas nas rodovias, ferrovias e portos que possam prejudicar a logística de escoamento da safra agrícola neste início do ano, o que poderia gerar mais aumento dos preços dos alimentos.

O secretário-executivo do Ministério dos Transportes, George Santoro, disse à reportagem que a estratégia de escoamento da safra está sendo traçada em conjunto com os ministérios da Agricultura e Portos e Aeroportos, além de Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), PRF (Polícia Rodoviária Federal), ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) e Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários).

Santoro afirmou que uma reunião está marcada para esta semana, na qual cada área envolvida levará os pontos de atenção que possam surgir.

Ele ressaltou que o custo de operação e o tempo entre o produtor e o local de venda têm efeito direto nos preços.

"Se uma rodovia estiver em pior estado de conservação, o custo para entregar a mercadoria no mercado, nas ceasas [centrais de abastecimento], será muito maior", afirmou.

A safra começou a ser colhida agora e, segundo ele, deverá se estender neste ano até abril em razão das chuvas. O secretário disse que a ANTT fará a articulação com as concessionárias de rodovias e ferrovias, e o Dnit, o monitoramento das rodovias que não são concessões à iniciativa privada.

Esse modelo de governança conjunta já foi adotado no ano passado. São ações de curtíssimo prazo, como gestão de filas e redução de danos nas rodovias, e medidas de médio e longo prazo. O plano está atrelado a investimentos de 60 obras estruturantes de melhoria do chamado corredor de agro para o escoamento da safra.

O secretário citou como exemplo os casos em que ocorrem deslizamentos nas rodovias e é preciso agir rápido para liberar o trânsito. O governo agora tem contratos de manutenção que permitem agir imediatamente para desobstruir a via e permitir o seu funcionamento.

"Tínhamos boa parte da malha sem contrato de manutenção. Isso era muito ruim, porque se acontecesse um deslizamento, eu teria que fazer uma contratação emergencial que ainda demora para liberar o trânsito", disse. Hoje, mais de 95% da malha rodoviária federal tem contrato de manutenção.

No caso dos investimentos em obras, a estratégia é retirar os gargalos logísticos que dificultam o transporte de mercadorias. Santoro deu como exemplo a passagem urbana de Gurupi, no Tocantins, que destravou um gargalo logístico relevante no escoamento da produção da safra.

Nos portos, a força-tarefa faz um trabalho de controle do fluxo de desembarque da mercadoria por meio de agendamento para evitar que todos os caminhões cheguem ao mesmo tempo nos terminais. O controle começa nas rodovias até chegar ao porto.

No médio prazo, é feito o mapeamento para identificar com antecedência onde devem aparecer os gargalos na infraestrutura do porto para que investimentos sejam feitos no local. Um terminal portuário ineficiente, que demora mais tempo para carregar e onde o navio fica mais tempo parado, representa custo de locação do equipamento, que acaba sendo repassado para o preço final do produto.

A alta de preços dos alimentos entrou no centro das discussões do governo neste início do ano, após cobranças de Lula, que comandou uma reunião ministerial na semana passada.

Lula cobrou de ministros medidas que propiciem o barateamento dos preços dos alimentos.

A movimentação do governo, entretanto, gerou ruídos e dúvidas sobre a eficácia das propostas aventadas. Entre elas, a redução do imposto de importação, regulamentação da portabilidade do PAT (Programa de Alimentação do Trabalhador), que usa o vale-refeição e vale-alimentação, além de medidas com efeito mais demorado, como a adoção de estímulos para a produção de alimentos básico, como arroz e feijão.

Após informações desencontradas e desmentidos de que o governo adotaria medidas intervencionistas, duas preocupações permanecem no radar dos investidores e agentes econômicos: o risco de ações com custo para as contas públicas e a possibilidade de Lula lançar mão de taxação das exportações para reduzir os preços no mercado interno.

Como mostrou a coluna Painel, da Folha de S.Paulo, o governo identificou cinco produtos que despertam mais atenção na atual escalada dos preços dos alimentos: carne, café, açúcar, óleo de soja e laranja.