Cultura

Feirante de Arapiraca viraliza fazendo fotos inspiradas em capas de álbuns da MPB

Ele literalmente viralizou com uma coisa que é difícil de emplacar: Ccltura

Por 7segundos com assessoria 19/08/2025 13h01 - Atualizado em 19/08/2025 14h02
Feirante de Arapiraca viraliza fazendo fotos inspiradas em capas de álbuns da MPB
Uma das obras do artista arapiraquense - Foto: Assessoria

Ele teve seu trabalho reconhecido em uma das principais revistas independentes de música do país, mas pouca gente em sua cidade o conhecia, até agora.

No início de julho deste ano, a revista NOIZE entrevistou David Emanuel, fotógrafo arapiraquense que tem atraído olhares de fora para o trabalho que vem exercendo com a captação de imagens de um tempo em que nossa Música respirava ares de esperança.

Era o nascimento e o alvorecer da Música Popular Brasileira, a MPB, em seu estado mais puro e sereno.

“Meu gosto pela música surgiu de forma muito natural. Não veio de influência externa; foi a partir de mim mesmo, de minha curiosidade. Sou o tipo de pessoa que faz praticamente tudo ouvindo música. Tenho uma verdadeira paixão por descobrir novos sons, conhecer diferentes artistas e me deixar levar por cada experiência musical. Entendo que a MPB é um conjunto completo de arte, de expressão. Ela vai muito além de um gênero musical: a MPB é um sentimento. Está nas capas únicas dos discos — que já são obras de arte por si só — e nas músicas que ensinam, fazem refletir e transformam a forma como enxergamos o mundo”, diz David, ressaltando os fotógrafos Thereza Eugênia e Cafi como inspirações.

Inspirado nas capas dos álbuns daquela época, primando pelos anos 1970, 1980 e 1990, ele (que é também feirante da Feira da Fumageira vendendo grãos e legumes) tem ampliado seu fazer artístico com uma série fotográfica sendo publicada regularmente em suas redes sociais no Instagram e no TikTok, através do perfil @davidfotografiias.

Nesta terça-feira, 19 de agosto, em que se celebra o Dia Mundial da Fotografia, esse jovem de 25 anos nos mostra que com um celular na mão, um rebatedor de luz na outra e uma ideia na cabeça, pode-se ir longe — e alcançar mais e mais gente com sua arte.

As pessoas que acompanham o trabalho primoroso dele já somam mais de 17 mil no Instagram e 40,5 mil no TikTok — não só de Arapiraca ou Alagoas, mas de todo o Brasil, inclusive de fora.

Ele literalmente viralizou com uma coisa que é difícil de emplacar: Cultura.

No Instagram, um de seus posts atingiu mais de 479 mil visualizações e 79,9 mil curtidas. E no TikTok, uma das publicações alcançou a marca de 2,3 milhões de visualizações e mais de 245 mil curtidas. Bem mais que o total de habitantes de Arapiraca, segundo o último censo do IBGE.

Mesmo assim, apesar dos relevantes números no ambiente virtual, o nome de David Emanuel está só agora começando a se destacar nas rodas arapiraquenses e a aparecer conforme o destino opera seus mistérios.

“Até agora, o local mais distante de Arapiraca em que fui contratado para fotografar foi Aracaju. Mas quero muito viajar por todo o Brasil, fotografando e espalhando minha arte. Esse é um dos meus maiores sonhos: quando alcançar uma visibilidade maior, poder abrir agenda para atender em diversos estados”, revela.

FEIRA DE DOMINGO


A feira em Arapiraca tem uma valoração imensa. E tudo o que vem dela carrega um significado ainda maior.

De lá, vieram violeiros, cantadores, emboladores, cordelistas, sanfoneiros. Inclusive, um tal de Hermeto Pascoal fez sua escola na tradicional Feira Livre da Capital do Agreste, assim diz o próprio.

Mais recentemente, outro talento também está surgindo em meio àquelas vivências todas, desta vez a partir da feira do bairro Primavera.

David Emanuel mora na Taboquinha, zona rural de Arapiraca, no Agreste alagoano, e é daqueles feirantes que sai de casa às 3h15, a fim de chegar no local bem antes de o sol raiar, para começar a negociar e pegar os melhores clientes.

Atua sempre aos domingos na Feira da Fumageira, apoiando a família na labuta. Teve como principal inspiração nesse ofício a sua mãe, a dona Lúcia — adoentada por agora, ela não está indo mais às feiras. O pai de David, o seu Manoel, é agricultor. Ou seja, total envolvimento com o campo, com a terra.

O fotógrafo segue indo para a Fumageira, tendo herdado o vigor de sua mãe. Em sua banquinha, ele vende feijão, cebola e coentro.

“Inicialmente, trabalhava com minha mãe, que sempre vendeu verduras na feira. Desde criança, eu já a acompanhava, mas comecei a trabalhar vendendo feijão por conta própria aos 15 anos, para conseguir meu próprio dinheiro”, conta ele.

David não esconde que o local é, ainda, fonte de inspiração para ele. “A feira impacta meu olhar. Ela é vida pulsando o tempo todo. Cada cor, cada cheiro, cada voz se mistura e cria uma cena única, cheia de movimento e autenticidade. Para mim, estar na feira é como estar diante de um retrato vivo do povo de Arapiraca: a força do trabalho, a simplicidade, a criatividade para lidar com as dificuldades e, principalmente, o calor humano. É um lugar onde vejo a cidade como ela realmente é — diversa, intensa e cheia de histórias para contar”, pontua o fotógrafo.

Ele fica de olhos bem abertos para as pessoas que passam, para ver se alguém se encaixa com os personagens de seus experimentos com capas de disco. Mas David encontra mesmo as pessoas é na internet, por onde igualmente estende os convites para os ensaios de seu projeto único.

Às vezes, os ensaios são na casa dele, na Taboquinha, ou na residência dos convidados.

O projeto se iniciou sem pretensão alguma, com a capa da Gal Costa, de álbum homônimo de 1969, com amiga de David, a Jecyane Lima, na mesma pose da nossa diva brasileira.

“Por mim, eu já teria recriado as capas de todos os meus artistas favoritos. Mas, em alguns casos, ainda não encontrei a pessoa certa para protagonizar. Tenho muita vontade de recriar capas de Chico Buarque, Djavan, Elza Soares, Alceu Valença, Belchior, Nara Leão e tantos outros artistas”, ressalta.

Ele já fez trabalhos inspirados em artistas e em álbuns específicos. É o caso da Mariana Sena, por exemplo. Mas realmente enquanto capa de álbuns, até agora foram essas: “Saúde”, de Rita Lee; “Em Pleno Verão” e “Elis” (homônimo de 1973), de Elis Regina; “Profana”, “Gal Canta Caymmi”, “Nenhuma Dor”, “Gal Costa” (homônimo de 1969), “O Sorriso do Gato de Alice”, “Cantar” e “Legal”, de Gal Costa; “Álibi”, “Pássaro Proibido”, “Alteza” e “Drama”, de Maria Bethânia; “Exagerado”, de Cazuza; “Elba”, de Elba Ramalho; “Eva”, de Evinha; “Perigo”, de Zizi Possi; “Simples Como Fogo”, de Marina Lima; “Com…Vida”, de Clara Nunes; “Cores Nomes”, de Caetano Veloso; “A Vida é Mesmo Assim”, de Ângela RoRo; e “Vanessa da Mata" (homônimo de 2002) e “SIM”, de Vanessa da Mata.

Tudo isso pode ser conferido nas redes sociais dele, que é abastecida com fotos e vídeos — alguns deles de bastidores, filmados por Bianca, sua irmã que exerce papel importante na consolidação dos making offs.

Esse interesse latente dele, que surgiu durante a pandemia da COVID-19 ao fotografar amigas e irmãs, diz muito sobre o lema de David, que está na bio do Instagram: “Fazendo arte com pouco”.

É ele quem monta os cenários; quem faz as pulseiras, colares, perucas e chapéus; orienta com relação aos figurinos; segura o rebatedor de luz com a mão oposta aos dos cliques; e quem edita o produto final, incluindo o design das capas.

Tudo isso usando o celular, que é onde tira as fotos e as edita minuciosamente passando, pelo menos, por 6 aplicativos.

Em miúdos, comece de onde você está e continue. Faça arte do ponto de partida em que você está neste momento.

Assim, você também até encapará uma foto nos murais do tempo. Bem como David está ‘imprimindo’ sua face e o seu jeito nas bancas e nos feeds, sempre alimentando quem passa.