Rua Chen Chung Hsin: como mudança em nome atrapalha rotina de moradores em Ribeirão Preto, SP
Endereço, que antes era conhecido como Rua 3, ganhou nome com pronúncia que tem dificultado comunicação em serviços do dia a dia, de encomendas a pedidos de emergência

Moradores do Residencial Taiwan, em Ribeirão Preto (SP), estão enfrentando dificuldades desde que a rua onde vivem deixou de ser Rua 3 e passou a se chamar Rua Chen Chung Hsin.
A mudança foi oficializada pelo Decreto nº 202, publicado no Diário Oficial em 28 de agosto de 2025, assinado pelo prefeito Ricardo Silva.
O bairro, que fica na zona Sul da cidade, é recente e recebeu os primeiros moradores no início deste ano. No projeto do loteamento, disponível na internet, consta que o proprietário da área era, justamente, Chen Chung Hsin, que agora dá nome a via.
Ao g1, as pessoas de um condomínio localizado na rua relatam situações que vão de transtornos em compras on-line a dificuldades para informar o endereço em serviços básicos.
O advogado Ariovaldo Pereira, que tem um apartamento no residencial, conta que a notícia da mudança de nomes pegou todos de surpresa. Segundo ele, a pronúncia torna o fato de falar o endereço praticamente inviável no dia a dia.
“Se eu tivesse que falar o nome dessa rua para você agora, teria que soletrar. É impraticável. Não dá para pedir uma pizza, receber uma entrega ou explicar para alguém no telefone. Ninguém entende”.
Outra moradora, uma mulher aposentada que pediu para não ser identificada, afirma que o principal problema é que os moradores não foram avisados sobre a mudança. Segundo ela, a descoberta veio apenas quando começaram a aparecer documentos e registros com o novo nome.
“No meu ITBI [Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis], pago em dezembro de 2024, ainda constava Rua 3. Mas vizinhos que compraram depois já receberam papéis com o novo nome. Ninguém aqui foi comunicado, a gente só começou a descobrir pelos documentos. Eu mesma continuo dizendo Rua 3 quando preciso explicar onde moro”.
Outras ruas do bairro também mudaram de nome
O decreto que oficializou o nome da Rua Chen Chung Hsin também renomeou outras vias do Residencial Taiwan. Das cinco ruas do bairro, três têm nomes taiwaneses.
Rua 1 - Chen Jon Fu
Rua 2 - Chen Mei Yuan
Rua 3 - Chen Chung Hsin
Rua 4 - Glenio Labeca
Rua 5 - José Molinari
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As outras duas receberam nomes em português, sem que a pronúncia ficasse comprometida.
O advogado Paulo Roberto Martins Júnior, que se mudou recentemente para um condomínio na Rua Chen Chung Hsin em breve, explicou ao g1 que os cadastros em plataformas digitais já foram atualizados para o novo endereço e ele teme que isso afete situações de emergência.
“Nos sites de compra, quando coloco o CEP, já aparece Chen Chung Hsin. É muito difícil de pronunciar e de entender. Imagina em uma situação de emergência? Você encontra uma pessoa passando mal e precisa acionar o 193 por exemplo. Do outro lado vão perguntar: 'Qual é o endereço?' E até você explicar o nome, isso pode atrasar o atendimento, porque ninguém consegue identificar rapidamente o endereço”.
Como o nome da rua foi trocado?
Para mudar o nome de uma rua, é preciso aprovação do Legislativo ou do Executivo da cidade. No caso da Rua Chen Chung Hsin, o processo passou direto pela Prefeitura de Ribeirão Preto.
Ao g1, a Câmara de Vereadores disse que em nenhum momento os nomes foram submetidos ao Legislativo como sugestão para próprios do município. Segundo a Casa, a decisão partiu diretamente da Prefeitura.
Em nota, a Prefeitura de Ribeirão Preto afirmou que os nomes foram escolhidos a partir de solicitação dos loteadores, responsáveis pelo desenvolvimento do bairro.
"A escolha teve como objetivo homenagear os familiares que estruturaram a área, preservando sua memória e reconhecendo sua contribuição para a cidade", diz trecho.
Por que é tão difícil pronunciar?
Brasileiros têm, de fato, certa dificuldade em reproduzir nomes asiáticos, principalmente de origem chinesa ou taiwanesa.
Ao g1, a presidente da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa), Ingrid Gielow, disse que a explicação está ligada ao funcionamento do cérebro em relação à linguagem.
Segundo ela, até os 7 anos de idade, a pessoa tem facilidade para reproduzir qualquer som, mas depois disso, o cérebro passa a registrar os sons como 'padrões' da língua materna. Quando aparece uma combinação que não existe em português, é preciso mais esforço para reconhecer e reproduzir, e procura o som mais parecido disponível.
"É por isso que sentimos dificuldade e também apresentamos sotaque ao aprender uma nova língua".
Outro fator apontado por Ingrid é que o mandarim possui consoantes que não existem no português e diferenças sutis entre sons que parecem iguais para quem fala nossa língua. Essas distinções não são naturais para o ouvido brasileiro, o que torna a reprodução mais complexa.
"É parecido com o que acontece com o som do ‘th’ no inglês, que não faz parte do nosso repertório fonético. Para o cérebro, é sempre mais difícil produzir algo que não existe na língua nativa".
Coordenadora do Departamento de Fala da SBFa, Haydée Wertzner diz que no caso específico do chinês, a dificuldade não se limita às consoantes e vogais.
"A fonologia da língua também utiliza tons para diferenciar significados, o que não ocorre no português. Na língua chinesa, o som \[p] produzido sem aspiração representa o som \[b] do português. Já o \[p] produzido com aspiração representa o som \[p] do português. Para quem não está acostumado, essas distinções passam despercebidas e dificultam a pronúncia correta".
Além disso, o mandarim é tonal, o que amplia ainda mais a dificuldade. A mesma sequência de sons pode ter significados diferentes dependendo da melodia usada na fala.
"No português, a entonação muda o tom da frase, mas não altera o significado da palavra. Já no mandarim, o tom muda a palavra em si. Para nós, é como decifrar um código novo. A palavra ‘ma’, por exemplo, pode significar mãe, cavalo, cânhamo ou xingar, dependendo do tom", diz Ingrid.
Segundo elas, é natural que cada país adapte a pronúncia de nomes estrangeiros à própria fonética, como forma de simplificar a comunicação. Mesmo assim, Ingrid diz que há formas de treinar o ouvido para se aproximar da pronúncia correta.
"Nosso cérebro procura encaixar sons novos dentro do que já conhece, por isso adaptamos ou criamos versões mais próximas da nossa língua. Ouvir várias vezes e repetir em voz alta ajuda o cérebro a criar uma memória auditiva mais estável".
Este treino, explica Ingrid, fortalece o processamento auditivo, que se ajusta pouco a pouco até tornar a pronúncia mais natural.
"Mas é importante ouvir a versão de quem fala chinês ou taiwanês desde criança, senão corremos o risco de apenas repetir a versão adaptada".
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