Saúde

Bar nos Jardins com suspeita de contaminação por metanol é interditado

Esta é a primeira interdição no âmbito das operações contra a venda de bebidas falsificadas e adulteradas por metanol na capital

Por g1 SP 30/09/2025 17h05 - Atualizado em 30/09/2025 18h06
Bar nos Jardins com suspeita de contaminação por metanol é interditado
Essa é a primeira interdição no âmbito das operações contra a venda de bebidas falsificadas e adulteradas por metanol - Foto: Abraão Cruz/TV Globo

A Polícia Civil de São Paulo interditou nesta terça-feira (30) um bar na Alameda Lorena, no bairro nobre dos Jardins, na Zona Oeste de São Paulo, em que uma mulher de 43 anos consumiu uma bebida que a deixou cega.

Esta é a primeira interdição no âmbito das operações contra a venda de bebidas falsificadas e adulteradas por metanol na capital. A operação contou com as vigilâncias sanitárias municipal e estadual, além do Procon e Polícia Civil.

O estabelecimento é um lugar de encontro de "happy hours" de pessoas que trabalham na região, além de servir almoços regularmente. O bar foi interditado por apresentar "risco iminente à saúde pública".

Segundo Manoel Bernardes de Lara, diretor do Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo, a interdição foi feita por precaução, já que o bar está diretamente ligado ao caso de uma mulher que ficou cega após ingerir vodca no local.

"Uma vez que houveram bebidas sem procedência, [os donos do bar] não conseguiram comprovar a procedência de algumas bebidas, porque não tinham notas fiscais. A gente não sabe se houve manipulação", afirmou ele.

"Se fosse questão de rotulagem, a gente conseguiria verificar, mas para uma precisão do conteúdo precisa passar por uma análise. Esse estabelecimento, como de outros municípios, está ligado diretamente a casos suspeitos de contaminação por bebidas contaminadas com metanol."

Na segunda-feira (29), foi realizada uma força-tarefa em bares na capital e Grande São Paulo após a confirmação de mortes e casos suspeitos de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas. No Ministrão, os fiscais aprenderam mais de 100 garrafas de bebidas destiladas.

O bar entrou na mira das operações depois que a designer de interiores Radharani Domingos, de 43 anos, ficou cega por suspeita de intoxicação com metanol após o consumo de vodca no local.

Nesta terça-feira (30), o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou que foram confirmadas cinco mortes por intoxicação por metanol. Uma delas já foi comprovadamente causada pelo consumo de bebida alcoólica adulterada. As outras quatro seguem sob investigação.

Operações

Nas contas da Secretaria de Saúde do estado, nesta terça foram apreendidas 112 garrafas de vodca em diferentes pontos da capital, incluindo 17 na Mooca.

Segundo o governador, todos os estabelecimentos onde há suspeitas de intoxicação por metanol serão fechados cautelarmente para investigação do gabinete de crise criado para investigar 22 casos suspeitos de intoxicação em São Paulo.

“A partir do momento que a gente sabe que aquela bebida foi consumida naquele estabelecimento, esse local vai passar pela interdição cautelar. Não pode continuar comercializando bebidas se a gente tem uma suspeita que a bebida é fraudada”, disse Tarcísio nesta terça (30).

Segundo ele, a interdição cautelar é uma forma de o governo do estado checar a documentação do estabelecimento com dados federais e mapear a origem da bebida.

“Se [o estabelecimento] comprou e não tem uma origem comprovada, ou se tem como comprovar, a gente também vai conseguir chegar no distribuidor e, a partir dali, fazer a investigação. Se houve boa-fé, a gente consegue fazer só a interdição da bebida, só a interdição do lote, e aí o estabelecimento volta a operar com segurança”, declarou.

Ainda de acordo com Tarcísio, até o momento a Secretaria da Saúde contabiliza outros 22 casos. Desses, 17 são suspeitos e estão sob investigação e cinco já estão confirmados.

Uma das vítimas é de São Bernardo do Campo, mas consumiu bebida alcoólica na capital paulista. O advogado Marcelo Lombardi, de 45 anos, morreu em decorrência de uma parada cardiorrespiratória e falência de múltiplos órgãos. No atestado de óbito, os médicos colocaram que o metanol foi a causa da intoxicação.

Cliente que ficou cega


Conforme o g1 publicou nesta segunda (30), a designer de interiores Radharani Domingos, de 43 anos, que está cega por suspeita de intoxicação com metanol após o consumo de vodca em um bar de São Paulo.

Ela teve alta da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nesta segunda-feira (29) e foi encaminhada para o quarto.

Segundo a irmã dela, Lalita Domingos, ainda não há previsão de alta. "O oftalmologista entrou com tratamentos para reverter o quadro da visão, mas ela [visão] permanece comprometida. Estamos na expectativa de que algo mude."

Ainda internada no hospital, Radharani concordou em conversar com o Fantástico e disse que os primeiros sintomas começaram após consumir bebida alcoólica durante uma comemoração de aniversário em São Paulo.

Na UTI, ela chegou a ter convulsões e precisou ser intubada. "Era uma região nobre, não era nenhum boteco de esquina. Bebi três caipirinhas de frutas vermelhas com maracujá e vodca. Causou um estrago bem grande. Não estou enxergando nada."

O governo de São Paulo confirmou nesta segunda-feira (29) a terceira morte por consumo de bebidas alcoólicas "batizadas" com metanol na Grande São Paulo.

Segundo o comunicado, desde junho deste ano, foram confirmados seis casos de intoxicação por metanol com suspeita de intoxicação por consumo de bebida adulterada.

Atualmente, dez casos estão sob investigação, dos quais três resultaram em óbito - um homem de 58 anos em São Bernardo do Campo, um homem de 54 anos na capital e o terceiro de 45 anos em investigação do local de residência. Um quarto óbito por metanol é investigado; ainda não se sabe como ocorreu a intoxicação. Um quinto caso foi descartado.

Mais de 100 garrafas apreendidas

Após a confirmação de mortes e casos suspeitos de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas, policiais, integrantes do Centro de Vigilância Sanitária do estado e da Coordenadoria de Vigilância em Saúde da prefeitura realizaram uma ação de fiscalização em três bares da capital paulista localizados nos Jardins, Zona Oeste, e na Mooca, Zona Leste, na tarde desta segunda-feira (29).

Segundo o governo de SP, nos três estabelecimentos fiscalizados foram apreendidas 117 garrafas de bebidas sem rótulos e sem comprovação de procedência, que serão encaminhadas à perícia no Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Técnico-Científica. Dois estabelecimentos foram autuados por irregularidades sanitárias.

A recomendação do Centro de Vigilância Sanitária do estado de SP é que bares, empresas e demais estabelecimentos redobrem a atenção quanto à procedência dos produtos oferecidos, e que a população adquira apenas bebidas de fabricantes legalizados, com rótulo, lacre de segurança e selo fiscal, evitando opções de origem duvidosa e prevenindo casos de intoxicação que podem colocar a vida em risco.

O que é metanol?

O metanol (CH₃OH) é uma substância altamente inflamável, tóxica e de difícil identificação. O produto é um tipo de álcool simples, incolor e inflamável, com cheiro semelhante ao da bebida alcoólica comum.

Ele já foi chamado de “álcool da madeira”, porque antigamente era obtido pela destilação de toras. Hoje, sua produção industrial é feita principalmente a partir do gás natural.

Porém, embora seja usado em pequenas quantidades na natureza, podendo ser encontrado em frutas, vegetais e até produzido pelo corpo humano em baixíssimas doses, o metanol é altamente tóxico em concentrações elevadas.

Sintomas e atendimento


A recomendação do Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo é que bares, empresas e demais estabelecimentos redobrem a atenção quanto à procedência dos produtos oferecidos.

Os sintomas podem incluir ataxia, sedação, desinibição, dor abdominal, náuseas, vômitos, cefaleia, taquicardia, convulsões e visão turva, principalmente após ingestão de bebidas de procedência desconhecida.

Em caso de suspeita, é fundamental buscar atendimento médico de emergência. A população pode localizar o serviço mais próximo pela plataforma.