Mundo

Brasileira presa no Camboja está em cadeia com superlotação e registros de morte

Daniela Marys de Oliveira está presa há sete meses em local com registros de superlotação e mortes

Por Terra 18/10/2025 10h10
Brasileira presa no Camboja está em cadeia com superlotação e registros de morte
Daniela Marys de Oliveira está presa no Camboja - Foto: Reprodução/Daniela Marys/Facebook

A arquiteta Daniela Marys de Oliveira, de 35 anos, foi presa no Camboja após aceitar uma falsa promessa de empresa no país. A brasileira teria se recusado a aplicar golpes na internet e está detida há sete meses na Prisão Provincial de Banteay Meanchey, local com superlotação e registros de morte.

De acordo com o site Camboja News, as prisões cambojanas sofrem com uma "superlotação severa" e atrasos de atendimentos médicos. Inclusive, a morte de um detento de 22 anos é investigada desde março. Leap Chantha cumpria a pena por posse ou transporte de armas sem licença, violência intencional, roubo e uso de drogas, quando perdeu a vida em um hospital devido a doença cardíaca e falta de oxigênio no cérebro.

Segundo uma declaração da Prisão Provincial de Banteay Meanchey, Chantha não apresentou sinais de doença durante o período de sua detenção, mas, em 20 de março, ficou subitamente doente. Funcionários do presídio o levaram ao posto de saúde, onde a equipe médica constatou que ele estava exausto, com dificuldade para respirar, vômitos e com as mãos e pés azulados.

Encaminhado a um hospital fora da prisão, ele acabou morrendo. "Quando cheguei ao hospital, os médicos disseram que ele já estava em estado grave e não podia ser ajudado", contou o pai do detento, Teav Sam Ol. Ele ainda disse que o filho se queixava da superlotação durante as visitas.

Um relatório recente do grupo local de direitos humanos Licadho revelou que as prisões cambojanas operam com mais de 200% da capacidade em algumas instalações, com o número de detentos aumentando em 23%. A organização alertou que a superlotação agrava os riscos para a saúde e expõe falhas no sistema de justiça criminal do país.

O diretor de operações da Licadho, Sam Sam Ath, destacou que a severa superlotação nas prisões cambojanas impacta significativamente a saúde dos detentos, resultando na má circulação de ar, saneamento precário, acesso limitado a exercícios, alimentação e água – fatores que podem levar a complicações sérias de saúde. "A superlotação aumenta a ansiedade, levando à pressão alta e a um risco maior de doenças infecciosas", acrescentou.

Prisão da brasileira

Ao jornal O Globo, a família contou que Daniela Marys teria sido vítima de uma rede de tráfico humano. No começo deste ano, ela teria relatado aos familiares que recebeu uma proposta para trabalhar com telemarketing no Camboja, em regime temporário de seis meses a um ano. Passado o período, ela retornaria ao Brasil.

A brasileira embarcou no dia 30 de janeiro e, ao chegar, encaminhou a localização com os parentes. “Começamos a achar muito estranho: era um complexo afastado da capital, próximo da fronteira com a Tailândia. Assim que ela entrou lá, pegaram o passaporte dela. Não tinha como ela sair. É um local sem comércio, sem estrada, sem nada”, afirmou Lorena, irmã da arquiteta ao jornal.

Enquanto estava no complexo, Daniela percebeu que teria que praticar golpes pela internet e se negou a continuar no local. Ela pediu para sair e foi noticiada que pagaria uma multa. Depois disso, ela foi presa e os criminosos passaram a extorquir a família, conseguindo levar cerca de R$ 27 mil.

“Eles ficaram com todos os pertences dela, inclusive o celular. Com ele, começaram a mandar mensagem para nós, se fazendo passar por ela. Falaram que tinha uma multa a ser paga. Percebemos que não era ela por conta dos erros de ortografia e também perguntamos coisas íntimas”, diz a irmã.

A família busca arrecadar R$ 60 mil para pagar advogados e conseguir trazer a brasileira de volta para a casa. Por isso, fizeram uma vaquinha virtual.

A reportagem procurou o Itamaraty, mas não teve retorno até o momento.