Diretor e equipe descrevem os novos rumos de Estômago 2
Equipe apresentou neste domingo (11/8) Estômago 2, filme que faz da parte da competição oficial do Festival de Gramado
Estômago 2 – O Poderoso Chef estreou na segunda noite de competição do Festival de Gramado e surpreendeu todo o público com um novo protagonista na franquia: Dom Caroglio, um mafioso italiano que acaba preso junto com Raimundo Nonato (João Miguel), protagonista do primeiro filme da franquia.
Após a exibição do filme, o Metrópoles conversou com o diretor e roteirista Marcos Jorge, a produtora Cláudia da Natividade e os atores Nicola Siri (Dom Caroglio) e Projota (Presida). No bate-papo, a equipe falou sobre as mudanças no longa, que estreia 29 de agosto nos cinemas.
Metrópoles: O modelo de coprodução internacional ainda é de filmes que se passam no Brasil, com personagens falando português… Aqui tratamos de um filme muito ambicioso neste aspecto, com metade do diálogo na língua italiana e mais da metade do filme rodado em outro país.
Marcos Jorge: A Cláudia viu essa oportunidade de fazer um filme ambicioso, no sentido de juntar dois orçamentos, em dois lugares, para fazer um filme maior do que a gente poderia fazer no Brasil. A gente quis que o filme se abrisse para o mundo. Para isso, foi necessário utilizar a franquia Estômago, pelo que ela é: poder e culinária. Então, a gente leva o filme para outro lugar. O protagonista italiano se impõe também, por causa da parte italiana, de termos um ator italiano. Uma missão que não é muito comum no cinema brasileiro. Eu acho que é um caminho para a gente crescer, ganhar um mercado internacional, mas também para fazer filmes mais parrudos, sabe?
Cláudia da Natividade: O que a gente costuma ver nas produções que se apropriam, também, dessa cultura italiana, muitas vezes até em novela, é aquele italiano que é o nosso italiano conhecido. Aquelas duas ou três palavras que as pessoas sabem aqui no Brasil, aquela coisa mais folclórica da cultura italiana que a gente conhece. Eu e o Marcos moramos um bom tempo na Itália, há muitos anos. O Nicola é italiano, brasileiro e italiano, filho de mãe brasileira com pai italiano. Então, a gente queria falar das duas culturas, como elas são de fato, de pessoas que moraram nesses dois países e conhecem essas culturas. Para que não ficasse aquela coisa farsesca que normalmente se usa. Falar de outra cultura da maneira como você gostaria que ela fosse.
Marcos Jorge: Sem perder o fato de que o filme é um filme brasileiro, entendeu? Brasileiro e italiano — a gente fez questão de colocar —, não ítalo-brasileiro. A gente colocou brasileiro e italiano, porque o cérebro do filme é brasileiro e as ambições do filme são brasileiras. A gente tem a produção principal. A gente teve o controle do corte final. A ideia era fazer uma composição de verdade, em que o Brasil prevalece. Nesse sentido, a gente não abre mão. A gente não quer perder o controle. O filme tem essa abertura para o mundo, mas ele é brasileiro. A oportunidade que a Cláudia viu é isso. Vamos fazer um filme em que metade se passe na Itália. Vamos trabalhar com a equipe italiana, com atores italianos. Vamos fazer um filme de coprodução binacional.
Nicola, você é o protagonista do filme e já vem de algumas participações em filmes brasileiros, correto?
Nicola Siri: São 22 anos que eu moro aqui. Estou no processo do filme desde sempre com o Marcos. Eu tive que convencê-lo de que Dom Caroglio era eu. E consegui. E, de lá, entrei totalmente. Ele me quis sempre no processo e participei de reuniões também com a direção de arte, pelo fato de ser italiano e brasileiro — apesar de ele ter vivido na Itália e falar o idioma perfeitamente, como a Claudia falou, os dois são perfeitamente italianos. Eu participei de todos os ensaios. É maravilhoso para nós, atores, ter um diretor que gosta de trabalhar com o ator. Ele quis fazer uma leitura geral do roteiro. E depois também assistimos a Estômago, o primeiro filme.
Esse personagem busca a afirmação da identidade dele. Falei quatro idiomas nesse filme: italiano, português, francês e um dialeto siciliano. Como o diretor aponta: são quase dois filmes, então, tenho que ser sempre muito nítido, muito preciso no que faço com o personagem. Mas eu não quero dar spoiler, tá?
O primeiro filme teve grande impacto na Itália?
Marcos Jorge: Sem o primeiro filme, a gente não teria conseguido fazer o segundo dessa maneira. O primeiro é um cartão de visitas na Europa. Em muitos lugares, o filme é conhecido. Na França foi capa da revista Pariscope. Em vários países, ele teve uma distribuição nos cinemas.
A produtora italiana do primeiro filme não é a mesma do segundo. Estômago alavancou a produtora italiana do primeiro, que hoje é uma das maiores produtoras do cinema italiano. Foi o primeiro filme deles em coprodução. Então, a gente sabia que ia conseguir levantar o segundo filme.
Projota, como foi a sua entrada e participação nesse projeto? Houve algum encontro com o núcleo italiano
Projota: Eu e o Nicola ainda não tínhamos nos encontrado! A gente só se encontrou ontem. Eu não tinha muitas diárias no filme, estava com uma agenda bem cheia de shows. No momento em que eles me convidaram para o papel, a gente falou: “Não, a gente dá um jeito, a gente vai achar essas datas”. E a gente achou.
Cláudia da Natividade: Na verdade, o Projota não sabia, mas ele era nosso vizinho. A gente morava no mesmo condomínio, a meia quadra de distância. Ele tinha uns carros lindos e meu filho era superfã dos carros dele. Foi uma indicação do nosso filho: “Esse cara é muito legal, olha as músicas dele”. Foi o nosso filho que me apresentou o Projota.
Marcos Jorge: O personagem Presida já existia como um cara sofisticado que estudou direito na cadeia, aqueles caras que estudam e tentam falar de maneira muito complexa. A gente sabia que era um personagem diferente dele, diferente da persona que ele construiu na carreira dele, e a gente achava que isso ia interessá-lo. E que ele, no filme, ia valorizar esse personagem.
Projota: Essa oportunidade de realmente sair da minha casinha, da minha caixinha, e encontrar algo muito, muito diferente de mim, eu ainda não tinha tido essa oportunidade. Todas as minhas participações em séries e em cinema eram personagens mais flat, que era uma coisa… Não vou dizer mais fácil, mas eu entendia mais facilmente para onde eu tinha que ir, como que eu ia chegar lá. O Presida não. Eu lembro que eu recebi o roteiro e eu fiquei: “Meu, eu preciso muito conversar com o Marcos. Eu preciso entender o que que ele pensa, como que ele vê realmente”.
Eu recebi o roteiro e entendi de uma forma. E aí, quando a gente se encontrou, ele falou, é exatamente isso. E aí a gente foi construindo, assim, o cara que me tirou da minha zona de conforto. Isso realmente me fascinou. Sair da zona de conforto, fazer um personagem que único, especial. Ele tem pouco tempo na tela, mas é muito especial o momento em que ele aparece. É divertido, é engraçado.
E poder ter assistido ontem, no cinema, vendo a reação das pessoas… Eu tô assim, esperando lançar. Eu vou de boné, vou botar óculos escuros, vou entrar nas salas e eu quero ver como vai ser a reação da galera. Porque eu nunca tinha feito algo no cinema. Eu fiz filmes que não foram para o cinema. Eu estou muito feliz. Fiquei realmente feliz com o resultado.