Rainha da Viradouro, Erika Januza rebate críticas a celebridades à frente da bateria: 'Não estou lá para dar close'
Atriz mineira, de 39 anos, também repassa trajetória profissional e fala do noivado com José Júnior, criador do AfroReggae
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Em 2020, quando recebeu o telefonema com o convite para ser rainha de bateria da Viradouro, escola de samba de Niterói e atual campeã do carnaval do Rio, Erika Januza pensou ter sido vítima de um trote. A desconfiança foi fruto de um episódio com outra agremiação, que voltou atrás da decisão de coroá-la. “Estava tudo certo para a outra escola me anunciar, mas acabaram desistindo. Quando o presidente da Viradouro me ligou para dizer que eles realmente me queriam, chorei muito”, relembra a atriz, de 39 anos, que atravessará a Marquês de Sapucaí neste domingo, à frente da Furacão Vermelho e Branco, pelo quarto ano consecutivo.
Entre ensaios técnicos e outros compromissos profissionais, Erika abriu uma janela de uma hora para conceder esta entrevista, num shopping da Barra. De lá, sairia para resolver os últimos detalhes da estreia de seu primeiro projeto como apresentadora, “Rainhas além da Avenida”, programa do GNT que explora a rotina das soberanas do carnaval carioca. “A intenção era humanizar essas mulheres que são muito expostas a críticas por estarem nesse lugar de destaque”, comenta a atriz. “Queria mostrar que são gente como a gente, que cuidam de casa, de filho, estudam, trabalham e têm suas próprias dores e desafios na vida.” O quarto e último episódio, que será exibido na próxima sexta-feira, terá imagens inéditas captadas por uma câmera instalada na fantasia que Erika vestirá no desfile de hoje.
As 12 rainhas do grupo especial participaram do programa. Entre elas, Sabrina Sato, que desfila à frente da bateria da Vila Isabel há 13 anos: “Amei demais participar do projeto, ainda mais por ter sido conduzido pela Erika. Munida de toda sua sensibilidade e carisma, ela contou nossas histórias com um olhar muito autêntico”.
“Rainhas além da Avenida” também procura desmistificar a figura da celebridade que ocupa o posto mais cobiçado numa agremiação de samba, em detrimento da escolha por meninas vindas da própria comunidade. Erika afirma nunca ter questionado seu mérito por ter chegado nesse lugar. “Não porque me acho boa demais, ou algo nesse sentido, mas porque honro e valorizo a oportunidade. Não estou ali para dar close”, argumenta a mineira de Contagem, que, em 2010, com seu samba no pé, ganhou um tradicional concurso de carnaval em Belo Horizonte. “Mesmo sendo artista, o mais importante é como a rainha constrói o seu espaço na comunidade. Como você vai dizer, por exemplo, que a Viviane Araújo, que está há 18 anos à frente da bateria do Salgueiro, não faz parte daquele universo?”
Milton Cunha assina embaixo. O carnavalesco e pesquisador de cultura brasileira destaca Erika como uma rainha “completa”, que vive a vida comunitária e que une mídia e fama em prol da escola e de seus projetos sociais. Ele ainda avalia a performance da atriz nos ensaios e desfiles como um trabalho que enobrece a essência do carnaval. “Erika tem uma importância gigantesca, porque traz o drama, a narrativa das mulheres, das personagens para esse posto que, antes, era só corpo e decotão”, afirma Milton.
Embora levantem bandeiras e procurem aprofundar as histórias contadas na Avenida, as rainhas de bateria ainda não conseguem sair incólumes à sexualização de seus corpos. “De vez em quando, acontece de um cara pedir para tirar foto comigo e eu sentir a mão dele mais embaixo, ultrapassando o limite do aceitável. É algo muito incômodo. Expor o meu corpo daquela maneira no carnaval não significa que ele esteja disponível. Abraço todo mundo, sou muito livre nesse lugar, mas fico sempre de olho”, conta Erika.
Filha de uma empregada doméstica e de um serralheiro, Erika passou a ser criada por sua avó após a separação dos pais, aos 5 anos. “Foi uma grande companheira, cuidou de mim quando todos precisavam trabalhar. Íamos à igreja juntas e eu sempre lia a Bíblia para ela antes de dormir, porque ela não sabia ler”, conta a atriz. Seu pai, que tinha problemas com alcoolismo, morreu em 2005, após um infarto fulminante. “Éramos muito ligados e parecia que eu havia pressentido no dia, porque me deu uma vontade súbita de falar com ele. Dez minutos depois, me ligaram para dar a notícia”, relembra. “Me vem um gatilho sempre que vejo alguém bebendo muito, porque sei que isso foi um fator determinante para o que aconteceu. Bebo um drinque ou outro de maneira muito esporádica, e não fumo.”
Ernestina Gomes, mãe de Erika, relembra a trajetória da filha e celebra seu sucesso. “Ela nunca quis ser atriz quando criança, o lance dela era assistir aos desfiles de carnaval e ao programa da Xuxa, e ficar dançando em frente à televisão. A atuação veio por acaso”, comenta Ernestina. “Sinto muito orgulho da minha filha, sempre foi uma mulher do bem, nem quando era adolescente me deu trabalho.”
Ao conseguir o primeiro trabalho na televisão, o papel principal na minissérie “Suburbia”, da TV Globo, em 2012, Erika passou dois anos se dividindo entre Contagem e o Rio, até se mudar de vez para a capital fluminense, em 2014. “As pessoas acham que quando você faz uma protagonista, automaticamente enriquece. Mas não foi o meu caso. Não tinha condições na época, arrumei um apartamento muito simples, trouxe uma televisão de Minas, ganhei um espelho e um sofá que estava cheio de pulgas”, recorda-se. A situação começou a melhorar quando passou no teste para a novela “Sol nascente”, em 2016, também da emissora carioca. Desde então, a atriz coleciona personagens em sucessos de audiência, como “Arcanjo renegado”, que vai para a quarta temporada no Globoplay. “É uma alegria dividir o set com ela. A ascensão da Sarah se deu muito pelo trabalho minucioso da Erika, por sua força e dedicação”, elogia Lipe Binder, diretor da série.
Foi durante os testes de “Arcanjo” que a atriz conheceu o atual noivo, o produtor José Júnior, fundador da organização AfroReggae e idealizador da série. “Éramos muito amigos antes de pensarmos em nos relacionar, tanto que ela veio conversar comigo quando estava pensando em embarcar em seu último namoro com um rapaz bem mais jovem”, lembra José Júnior, referindo-se à relação anterior da atriz com o artista plástico Juan Nakamura, filho da apresentadora Carol Nakamura. “Achava que estivesse bem solteiro, mas quando ficamos juntos pela primeira vez, surgiu um amor avassalador.” Os dois assumiram o relacionamento em 2023, e o casamento será realizado no Mosteiro de São Bento, no Rio, ainda sem data marcada. “Estamos sem tempo para resolver questões da cerimônia, e ela faz questão de estar à frente de tudo. Mas acho que do ano que vem não passa”, adianta o noivo.
Por conta do trabalho na mediação de conflitos e no fomento de oportunidades no audiovisual a ex-traficantes e jovens de comunidades, José Júnior já relatou ter recebido diversas ameaças de morte, sendo obrigado a andar com escolta para protegê-lo. Erika reconhece que o estilo de vida do parceiro já a deixou receosa mesmo antes de iniciarem o relacionamento, mas que o sentimento de preocupação se transformou em admiração. “De fato, não é uma rotina comum. Ao mesmo tempo, fico admirada com a quantidade de gente que ele conseguiu ajudar com o AfroReggae, apesar de se arriscar. Convivendo com Zé, vi diversas pessoas agradecendo a ele por terem conseguido mudar de vida. É um trabalho muito bonito”, pondera a atriz.
Sobre formar uma família, Erika afirma que não há o desejo de ser mãe neste momento. Em 2023, a atriz chegou a iniciar o processo para congelar seus óvulos, mas as células coletadas não eram férteis. “Eu sabia que poderia dar errado. Se tivesse decidido fazer mais jovem, talvez fosse mais vantajoso. Acho que fiz tarde, mas há mulheres de 40 anos que resolvem fazer e dá certo”, comenta a atriz, que decidiu não se submeter novamente ao procedimento. “É um negócio caro. Se for para vir naturalmente, virá. Se não, tudo bem.”
O tom leve e flexível é constante nas falas de Erika, mas ela também sabe ter pulsos firmes. É assim quando o assunto é racismo, por exemplo. Em 2018, registrou ocorrência na delegacia de crimes virtuais por um episódio de injúria racial. À época, a atriz participava da “Dança dos famosos”, e recebeu um comentário de um indivíduo que demonstrou não ter ficado satisfeito com seu avanço na competição. “Encontramos a pessoa por trás do perfil anônimo e ela se retratou. É importante não deixar passar esse tipo de situação, porque é crime.” O processo movido por ela ainda tramita sob responsabilidade do Ministério Público do Rio de Janeiro. Uma luta que não acaba na Quarta-Feira de Cinzas.
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