Saúde

Apesar da seleção natural, você carrega sinais da evolução em seu corpo

Por UOL 08/04/2016 21h09
Apesar da seleção natural, você carrega sinais da evolução em seu corpo
- Foto: Reprodução/ Ilustração/UOl

Esse músculo salta no seu braço?
Você já deve ter notado, ao flexionar a mão para dentro, que "salta" do punho um tendão minúsculo, um feixe cartilaginoso com pouco mais de três centímetros entre o punho o antebraço.

Essa é a parte visível do músculo palmar longo, que já foi muito útil para que nossos ancestrais subissem ou se pendurassem em árvores mas que hoje não tem utilidade funcional – a ponto de 1 bilhão de pessoas no mundo simplesmente não ostentarem o músculo na sua estrutura óssea, sem qualquer prejuízo à sua vida. (Lembrando que somos mais de 7 bilhões no mundo).

Assim como o palmar longo, outros "vestígios" da evolução podem ser facilmente encontrados em qualquer corpo humano: o músculo eretor dos pelos que nos provoca arrepios, os dentes de siso (conhecidos como terceiros molares), o apêndice, o tubérculo de Darwin, o músculo plantar. Todos aparentemente sem utilidade, mas que um dia foram importantes para ancestrais do homem.

Mas, se não têm mais utilidade, por que os órgãos vestigiais, como a Ciência denomina essas estruturas, não desapareceram do corpo humano?

Tubérculo de Darwin é essa parte da sua orelha, que algumas pessoas conseguem até mexer
O professor Nélson Rosa Fagundes, do departamento de Genética da UFRGS, prefere atribuir a esses elementos uma característica "neutra" – e não desvantajosa. O pesquisador explica que a evolução se preocupa mais com o sucesso reprodutivo do que com a qualidade de vida dos indivíduos, ou seja, a seleção natural favorece a produção de uma prole fértil em detrimento de uma vida feliz.

"No jargão da biologia evolutiva, adaptação e reprodução são virtualmente sinônimos. Então, o fato de que não se use ou, ao contrário, se use mais determinadas estruturas não faz com que elas se modifiquem, a menos que seja via seleção natural", explica. Elas mudam quando as variações morfológicas, cientificamente tratadas como fenotípicas, apresentam uma vantagem adaptativa para os indivíduos.

Nesse caso, é evidente que o fenótipo vantajoso será transmitido naturalmente para as gerações futuras, desde que haja uma base genética capaz dessa transmissão. Mas, no segundo caso, a seleção natural não tem muito o que fazer com o futuro da população. Aí entram alguns órgãos vestigiais: como não apresentam vantagem competitiva, são menos afetados pelo processo de seleção natural. Por serem neutras, não são afetadas.