Maternidade ainda restringe carreira das mulheres, mas existem mudanças
Apesar dos direitos conquistados pelas mulheres no mercado de trabalho, a maternidade ainda é um fator que atrapalha veladamente a ascensão na carreira. Da entrevista de emprego às oportunidades de promoção, o questionamento sobre o desejo de engravidar costuma ser recorrente por parte das empresas, mesmo sendo uma prática discriminatória e, portanto, ilegal.
Após a confirmação da gravidez, pelas leis trabalhistas brasileiras, a gestante tem estabilidade até cinco meses depois do parto. Além disso, tem o direito garantido a uma licença de 120 dias. Mesmo que esse benefício seja pago pela previdência social, muitas vezes, o empregador precisa contratar um substituto para suprir a falta da gestante, gerando custos.
A professora de direito do trabalho da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Minas Gerais Maria Cecília Máximo Teodoro explica que esse benefício concedido somente à mulher acaba desprotegendo sua condição no mercado.
Como o homem fica apenas cinco dias corridos fora do trabalho, comparando a situação com a licença paternidade, não implica em praticamente nenhum prejuízo para a empresa. “Assim, é natural que ao escolher o trabalhador o empresário ou a empresa acabe optando pelo homem”, diz.
Maria Cecília diz acreditar que a solução seria equiparar a licença paternidade à maternidade, também conferindo estabilidade ao homem durante todo o período que a mulher ou companheira estivesse grávida. Desse modo, ambos os sexos teriam o mesmo custo no mercado, evitando que a mulher ficasse em desvantagem.
Gravidez e incapacidade
Segundo levantamento da OIT (Organização Internacional do Trabalho), apenas 58% dos 185 países pesquisados em 2014 tinham licença maternidade remunerada. Além dos problemas que as mulheres enfrentam para manter o emprego após o nascimento dos filhos, elas também precisam lidar com o estigma de incapacidade durante a gravidez.
“As pessoas agem como se gravidez fosse doença. A mulher grávida tem a mesma capacidade de raciocinar, trabalhar, isso não influencia em nada na competência”, diz Priscila* (nome fictício), 23, que está agora no sexto mês de gestação. Ela conta que perdeu a chance de participar de um trabalho temporário por conta da gravidez. “Ficaram com receio de que a gravidez fosse atrapalhar meu desempenho e não me chamaram”, fala.
Para evitar processos por prática ou dispensa discriminatória, muitas empresas alegam outros motivos para não contratar ou mandar embora a funcionária após o período de estabilidade durante a licença. Porém, em um mercado ainda permeado por dificuldades para as mulheres, existem exceções e boas iniciativas.
A compradora Caroline Geraldini Caliman, 35, formada em jornalismo e relações internacionais, estava prestes a ser admitida em um novo emprego quando descobriu uma gravidez de duas semanas. “Fiquei em conflito, não sabia se contava ou não, mas não é algo que dá para esconder. Resolvi abrir o jogo”, conta.
Para surpresa de Caroline, que tinha receio de ficar desamparada durante a gravidez, a empresa resolveu abraçar a situação e seguir com a contratação. “Achei bem atípico, não esperava que isso acontecesse, mas eles me deram total apoio.”.
Flexibilidade para reter talentos
A maternidade também acaba sendo mais um dos fatores que influenciam a pequena presença feminina entre as posições de liderança, seja por falta de oportunidades igualitárias ou até pela escolha de algumas mulheres que preferem se dedicar aos filhos. Percebendo esse problema e com o propósito de reter os talentos femininos, o escritório Machado Meyer Advogados lançou um programa há cinco anos para lidar com essas questões.
“Identificamos que muitas advogadas quando se tornavam mães ficavam muito divididas entre a carreira e a dedicação aos filhos”, diz Daniella Zagari, sócia do escritório. Para acomodar melhor o ritmo diário, a empresa permite flexibilidade de horários antes e depois do nascimento do bebê, com a possibilidade de trabalhar de casa meio período ou em dias alternados, conforme cada caso.
“Tem sido uma experiência muito bem-sucedida, com aumento de 10% das mulheres em posições de liderança desde o início do programa”, declara Daniella. O número de sócias também passou de 54 para 72 mulheres em cinco anos no escritório, que conta com 76 homens na mesma posição.