Polícia conclui inquérito e afirma que sete estupraram adolescente no Rio
A Polícia Civil do Rio concluiu o inquérito que investigou o estupro de uma adolescente, nos dias 21 e 22 de maio passado, numa favela da zona oeste da cidade. A delegada Cristiana Bento pedirá à Justiça a prisão de seis homens e a apreensão de um menor.
Inicialmente, a polícia investigou a participação de 33 pessoas no estupro coletivo. Menos de um mês após o início das investigações, a polícia conclui a investigação comprovando a participação de sete pessoas.
Um novo inquérito será aberto para verificar se houve a participação de mais homens na violência contra a adolescente. "Como a adolescente diz que houve mais pessoas, a gente não descarta a informação", disse a delegada Cristiana Bento, da Delegacia de Criança e Adolescente Vítima.
As investigações e a perícia apontaram que Rai de Souza, Raphael Belo, Moisés Camilo de Lucena e um adolescente conhecido como Perninha estavam na casa e violentaram a adolescente.
Souza, Belo e Lucena serão indiciados por estupro, além de produção e transmissão das imagens.
As vozes que aparecem nos dois vídeos são desses quatro homens. "A vítima diz que quando acordou havia dois homens segurando ela e outros dois mantendo relação com ela", diz a delegada.
A perícia, porém, não consegue definir a ordem de produção dos vídeos.
A polícia também pedirá a prisão do traficante Sergio Luiz da Silva Junior, o Da Russa, chefe do tráfico do morro da Barão. A casa conhecida como "abatedouro" fica diante do QG do tráfico na comunidade.
"A vítima, em depoimento, diz que encontrou com Da Russa na porta da casa quando deixava o local. É impossível que algo ali acontecesse sem que ele soubesse. Ele tem o domínio final do fato", disse a delegada.
A polícia ainda pediu a prisão, pela transmissão das imagens, de Michel Brasil e Marcelo Miranda.
"Espero que este caso tenha uma punição exemplar. Esse caso serve como alerta para aquela comunidade. Eles não têm consciência de que houve um estupro ali", contou Cristiana Bento.
CRONOLOGIA DO CASO
21.mai.2016
1h - A adolescente de 16 anos vai a um baile funk no morro da Barão, na zona oeste do Rio, acompanhada de uma amiga; lá, já no fim da noite, encontra Rai de Souza, 22, e Lucas Perdomo, 20
7h - Os dois casais vão para uma casa abandonada e fazem sexo consentido –a vítima com Rai, a amiga com Lucas
10h - Lucas sai para levar sua acompanhante em casa e Rai também deixa o local; segundo depoimentos dos três, a vítima resolveu ficar. Sozinha, foi encontrada por traficantes e levada por um deles, Moisés Camilo de Lucena, o Canário, para a casa conhecida como "abatedouro", onde foi estuprada
22.mai.2016 - Após passar mais de 24 horas no "abatedouro", a vítima é encontrada na noite de domingo por Rai, que estava acompanhado de Raphael Belo, 41, e do traficante Jeferson, conhecido como Jefinho; os três e mais um quarto homem, não identificado, gravam dois vídeos em que abusam da jovem; ela é ajudada por um conhecido, apelidado Fubá, e liberada para voltar para casa
24.mai.2016 - A vítima fica sabendo que um dos vídeos, que mostram seu estupro, circula na internet e volta ao morro para falar com o chefe do tráfico, Sergio Luiz da Silva Junior, conhecido como Da Russa, e tentar reaver seu celular, que havia sido roubado
25.mai.2016 - A família da menina é avisada por um vizinho sobre a gravação. No vídeo, de 38 segundos, um grupo de quatro homens debocha da vítima e ao menos um deles toca nas partes íntimas da garota e diz que ela foi violentada por "mais de 30". Em 2009, a lei 12.015 foi alterada e passou a considerar como estupro, além da conjunção carnal, atos libidinoso, como o que é mostrado no vídeo
26.mai.2016 - A jovem presta o primeiro depoimento à polícia, é medicada em um hospital e faz exames no IML (Instituto Médico Legal), que não detectam material biológico ou marcas de lesão; policiais atribuem isso ao longo tempo decorrido entre o crime e o exame
27.mai.2016 - Ela presta mais dois depoimentos à polícia,assim como Rai de Souza, Lucas Perdomo e a jovem que os acompanhou na noite de sábado; apolícia localiza a casa em que o estupro aconteceu
28.mai.2016 - A então advogada da vítima, Eloísa Samy, pede à Promotoria do Rio o afastamento do delegado Alessandro Thiers. Segundo Samy, Thiers estava tratando o caso com "machismo e a misoginia"
29.mai.2016 - Pressionada, a Polícia Civil do Rio passa o comando das investigações à delegada Cristiana Bento, da DCAV (Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima); a pedido da família, a Defensoria Pública passa a defender a menina
30.mai.2016 - Polícia Civil realiza operação para prender seis suspeitos de participar do crime; Rai de Souza, 22, e Lucas Perdomo, 20, são detidos; ojogador seria liberado quatro dias depois, por falta de provas que sustentassem sua prisão
31.mai.2016 -A vítima e sua família entram no programa federal de proteção à testemunha, o que significa que a menina pode ganhar uma nova identidade e deixar o Rio; a polícia volta ao "abatedouro" e apreende dois colchões com manchas de sangue
1º.jun.2016 - Um terceiro suspeito se apresenta à polícia. Raphael Duarte Belo, 41, aparece no vídeo fazendo uma selfie ao lado do corpo da jovem
2.jun.2016 - Polícia Civil do Rio pede a prisão de mais dois homens: Moisés de Lucena, o Canário, e Jeferson, o Jefinho; ambos teriam estado com a vítima durante a gravação dos vídeos em que ela é estuprada. Com isso, passam a ser oito os suspeitos de envolvimento no crime
3.jun.2016 - O jogador de futebol Lucas Perdomo, 20, é liberado do presídio Bangu 10, no Rio, para onde havia sido encaminhado no dia anterior, após passar quatro dias em detenção na Cidade da Polícia. Segundo a delegada responsável pelo caso, não havia provas suficientes para que ele continuasse preso
5.jun.2016 - Depois de encontrar o celular de Rai na casa de um amigo dele, em Madureira (zona norte do Rio), a polícia examina o aparelho e descobre um segundo vídeo do estupro, além de fotos e gravações que incriminam o jovem de ligações com o tráfico
6.jun.2016 - A amiga da vítima, que esteve com ela e com os dois jovens no baile funk e na primeira casa, depõe novamente à polícia e reafirma sua versão de que houve sexo consensual entre a adolescente de 16 anos e Rai, e que a vítima ficou sozinha na casa depois disso
7.jun.2016 - Perícia conclui que há quatro vozes no primeiro vídeo sobre o estupro