Odebrecht repete Copa e entrega Vila Olímpica inacabada em cima da hora
Espaço tem 31 prédios divididos em sete condomínios, com 3.604 apartamentos
O Consórcio Ilha Pura, formado pela Odebrecht Imobiliária e pela Carvalho Hosken, entregou as instalações hidráulicas e elétricas da Vila Olímpica de atletas apenas há um mês. Os testes mostraram que houve falhas principalmente nestes pontos que causaram a maioria das reclamações das delegações. A Odebrecht é a mesma construtora que entregou o estádio de abertura da Copa, Arena Corinthians, inacabado para o primeiro jogo.
Entre os problemas relatados pelos atletas, estão problemas hidráulicos (vazamentos), instalações elétricas aparentes, falta de iluminação e cheiro de gás. O COI (Comitê Olímpico Internacional) admitiu os problemas em todos os prédios. O comitê organizador do Rio diz que agora 12 deles já estão com problemas resolvidos, e outros 19 ainda estão para ser completos.
A Vila foi entregue ao comitê organizador do Rio-2016 em maio. As instalações elétricas só foram concluídas há um mês. Segundo o comitê organizador, esses itens foram testados recentemente porque havia outras prioridades como construção de um restaurante com tendas. Por isso, as falhas na obra só foram identificadas a poucos dias dos Jogos e no momento em que os atletas chegavam.
"Do ponto de vista teórico, a construtora teria de entregar tudo isso pronto. Mas a gente sabe como é com obra e tem pontos a ser feitos", explicou o diretor de comunicação do comitê do Rio-2016, Mario Andrada, que disse que não era hora de apontar culpados. "Essa conexão de água e luz foi feita há um mês. Não estavam ligadas porque havia outras coisas a fazer."
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, ressaltou também que a operação da Vila ficou a cargo do comitê organizador há três meses. Oficialmente, a Vila foi recebido no dia 15 de junho.
Questionado, o Consórcio Ilha Pura disse que está resolvendo problemas: "A equipe de manutenção da Vila dos Atletas foi acionada para atender a falhas em alguns apartamentos e está realizando os ajustes necessários. O objetivo é manter todos os esforços para concluir estes ajustes de modo que as delegações possam desfrutar da melhor forma da estadia na Vila dos Atletas”
A prefeitura decidiu que a Vila seria no empreendimento Ilha Pura por uma questão de economia. O conjunto de 31 prédios já seria construído pela Carvalho Hosken em um terreno próprio. Pela parceria acertada, o município bancou a infraestrutura em volta do projeto - com custo em torno de R$ 30 milhões -, o que inicialmente seria responsabilidade dos construtores. Em troca, tudo teria que ficar pronto até os Jogos.
O investimento das construtoras foi de R$ 2,3 bilhões por meio de financiamento da Caixa Federal. A Carvalho Hosken e a Odebrecht também participam do consórcio Riomais que construiu o Parque Olímpico. A primeira empresa é doadora de campanha do prefeito Eduardo Paes. Ele ainda aparece em uma lista de políticos supostamente beneficiados pela Odebrecht - apreensão feita na operação Lava-Jato.
A Odebrecht também foi responsável pela construção da Arena Corinthians que sediou a abertura da Copa-2014. Houve diversas críticas da diretoria da Fifa ao andamento das obras que tiveram inclusive um acidente grave com morte de dois operários. Havia obras até a poucos dias antes da abertura.
Depois de toda a polêmica, o estádio também foi entregue inacabado sem parte de sua cobertura, infraestrutura do prédio leste, entre outros pontos. Houve pequenas falhas nos refletores no primeiro jogo da Copa. Até hoje existem discussões com o clube em relação à conclusão plena da arena.
Em relação aos dois eventos, há uma diferença: a Vila Olímpica começou a ser construída em 2012, isto é, quatro anos antes dos Jogos. E a informação da prefeitura sempre foi de que sempre estava no prazo. A Arena Corinthians começou tarde porque foi escolhida como abertura após a retirada do Morumbi.
O comitê Rio-2016 não quis falar sobre a possibilidade de cobrança de multas ou indenizações para construtoras pelas falhas. Disse que não é o momento de discutir esses pontos.
Comitê da Rio-2016 admite que metade dos prédios da Vila ainda não está pronta
Um dia depois da abertura da vila para os atletas, o Comitê Rio-2016 informou que, nesta segunda-feira (25), ainda faltavam 15 prédios para serem finalizados, do ponto de vista de acabamentos e limpeza. O complexo construído para os Jogos tem 31 torres.
Segundo o diretor executivo de operações da entidade, Rodrigo Tostes, cinco prédios serão entregues entre a noite desta segunda e a manhã desta terça (26), incluindo o que abrigará a Austrália. Os outros dez ficarão prontos até quinta (28), também de acordo com ele.
Tostes diz que o comitê não busca achar os culpados no momento e que a prioridade é resolver as pendências.
O complexo foi construído pelo consórcio da Carvalho Hosken e Odebrecht. Procurado, afirmou que apenas a Rio-2016 se manifestaria sobre o tema.
"Todos os Jogos têm problemas no início, por causa do grande número de pessoas chegando. Isso já aconteceu em outras olimpíadas. Vamos resolver rapidamente. Detectamos os problemas e estamos atacando", afirmou.
Em entrevista nesta segunda, o comitê australiano baixou o tom das críticas e disse que vai ocupar a vila a partir de quarta-feira. O país foi o que mais reclamou dos problemas, embora não tenha sido o único, e adiou sua entrada no complexo diante da situação.
Também nesta segunda, atletas do Japão comentaram de falhas em seus apartamentos, enquanto passeavam pela vila. Disseram ter encontrado quartos sujos e banheiros entupidos.
"O chão estava muito sujo e as privadas não davam descarga. Depois, foi tudo resolvido", afirmou Kazuki Yazawa, 27, competidor de canoagem slalom.
Escolhido para dar entrevista sobre o assunto, Tostes diz que foi chamado para dar reforço para Mario Cilenti, diretor da Vila dos Atletas, que, segundo "O Globo", foi afastado da função. O Comitê, porém, nega.
"Montamos uma força tarefa para ajudar o Mario [Cilenti]. Depois eu volto para o meu lugar. Não existe essa coisa do Mario sair. A gente precisa muito dele e estou como soldado dele", completou.
Depois de dizer que estava "quase botando um canguru" na frente do prédio da Austrália, para fazer a delegação se sentir em casa, e ouvir uma resposta provocativa, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, afirmou que o país tinha razão em reclamar.
"A situação hoje está muito melhor do que ontem. Mas, de fato, o prédio da Austrália era pior", disse.
LOCAIS DE TREINAMENTO
O diretor de operações da Rio-2016 admitiu também que há ainda acabamentos sendo feitos nos locais construídos para sediar treinos.
Há diversas praças espalhadas pela cidade recebendo atletas das 42 modalidades. Alguns deles foram utilizados nesta segunda.
Segundo o executivo do comitê, houve remanejamento de alguns treinos, para que todo o acabamento fosse feito.
"O retorno que estou recebendo é de que está tudo bem. Os problemas estão sendo resolvidos. Os problemas de água acontecem como em qualquer operação nova. A gente decidiu transferir [os treinos] antes mesmo de os atletas chegarem. A gente adapta a programação, pra que não haja nenhum prejuízo para o atleta. O Rio está pronto para os Jogos. Vamos entregar Jogos fantásticos", finalizou.
Jogos de Londres-12 não escapou de problemas na Vila dos Atletas
Assim como os Jogos do Rio vem enfrentando problemas com a sua Vila dos Atletas, a Olimpíada de Londres, em 2012, também sofreu críticas da imprensa local.
A maior queixa foi em relação ao fornecimento de água para os atletas no complexo, que ficava dentro do parque olímpico londrino. A queda no abastecimento chegou a afetar o funcionamento de um café na zona internacional, única área de confluência entre competidores, visitantes e imprensa.
O comitê organizador londrino insistiu que tratava-se de uma situação localizada e que não necessitava de maiores reparos.
O problema foi resolvido em um dia e não chegou a prejudicar os 17 mil atletas e oficiais que se instalaram na vila. À parte isso, não houve outros problemas.
No Rio, a inauguração da Vila que era para ser de festa acabou se tornando um desastre. Delegações se recusaram a entrar no local e bancaram por conta própria funcionários para arrumar problemas de encanamento, limpeza e furtos.
O caso mais grave envolveu a Austrália. A chefe de missão da delegação, Kitty Chiller, afirmou em nota na manhã deste domingo (24) que nenhum atleta australiano vai entrar no alojamento por enquanto.
Segundo ela, o complexo localizado próximo ao Parque Olímpico da Barra contém inúmeros problemas de gás, encanamento e eletricidade.
A Argentina também seguiu os passos dos australianos e resolveu mudar parte de sua delegação para edifícios fora da Vila, construída na Barra da Tijuca.