Balanço 2015-2016: escalada do desemprego acentua queda dos salários
Um levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que há um ano e meio a taxa de desemprego segue uma escalada. Do início de 2015 até o trimestre encerrado no mês passado, ela subiu de 7,4% para 11,3%. Esses dados indicam que o derretimento que vem ocorrendo nos postos de trabalho agora alcança com mais intensidade os salários.
O valor médio do rendimento real dos ocupados, no trimestre entre abril e junho, foi de R$ 1.972— 4,2% menor do que o do mesmo período de 2015. A variação, que já desconta a inflação, é a pior queda desde o início da série, em 2012, e ocorre após nove reduções seguidas. Isso quer dizer que o rendimento médio do trabalhador brasileiro está no mesmo nível de três anos e meio atrás.
O desemprego é o próprio culpado desse ajuste. Com mais pessoas buscando colocação em um mercado que enxuga vagas, os aumentos salariais perdem força.
No trimestre encerrado em junho, 90,7 milhões de trabalhadores estavam ocupados, 1,4 milhão a menos do que no mesmo período de 2015. Ainda assim, como a renda das famílias está caindo, um contingente maior de pessoas passou a buscar emprego, o que ajuda a pressionar para cima a taxa de desemprego.
Segundo o economista Sandro de Carvalho, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o salário responde ao desemprego com alguma defasagem, e apenas quando as demissões se "generalizam" é que afetam o salário médio.
"Em início de crises geralmente se dispensa primeiro trabalhadores que são mais fáceis de repor, os que têm menores salários, de modo que é comum o salário médio não cair [imediatamente]".
Para o economista Rafael Baciotti, da consultoria Tendências, a intensificação da queda nos rendimentos pode ser resultado da migração de trabalhadores, então na formalidade para ocupações informais ou que pagam menos, como domésticos.
Carvalho observa, porém, que a queda nos rendimentos é mais acentuada entre os trabalhadores com carteira. "O rendimento real tende a cair no setor formal enquanto o desemprego continuar a subir."
E é exatamente esse o quadro esperado pelos economistas para 2016. Mesmo que a economia saia da recessão no segundo semestre, o que prevê parte dos analistas, o emprego demoraria a reagir.
Na pesquisa do IBGE, porém, há elementos que podem ajudar uma leitura mais otimista. Na comparação com o trimestre encerrado em maio, a população ocupada ficou praticamente estável, depois de cinco quedas consecutivas.
Outra evidência apareceu na sondagem com empresários da indústria, divulgada pela FGV nesta sexta (29).
O percentual dos que pretendem demitir nos próximos três meses caiu à metade entre junho e julho: de 24,5% para 12,6%, o que indica que o ajuste nos postos de trabalho poderá perder fôlego.