Polícia conclui que assalto a nadadores norte-americanos não aconteceu

A investigação da Polícia Civil do Rio de Janeiro indica que o assalto relatado por Ryan Lochte e outros três nadadores norte-americanos não aconteceu. A versão de que houve um assalto não se sustenta de acordo com a Polícia Civil do Rio de Janeiro.
A gravação de uma câmera de segurança mostra uma briga em um posto de gasolina, não um crime, afirma Alexandre Braga, da (DEAT) Delegacia de Apoio ao Turista. "A história deles é praticamente desconstruída pela análise das imagens que obtivemos agora", declarou.
O chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso disse que foi uma atitude de desatino causada por bebida alcoólica. Segundo o delegado da DEAT, após depredar o posto, eles insistiram para que o taxista deixasse o local porque a Polícia Militar foi acionada. "Eles não queriam a presença da polícia".
Na quarta, dois dos nadadores, Gunnar Bentz, 20 e Jack Conger, 21, que estavam no posto de gasolina foram impedidos de retornar aos Estados Unidos. Eles devem prestar depoimento ainda nesta quinta. O nadador Ryan Lochte, que também protagonizou a confusão, já foi embora do Rio. Um quarto atleta ainda estaria no Brasil, mas a polícia não o localizou.
Os nadadores, que mudaram a versão do incidente pelo menos quatro vezes, podem ser acusados por falsa comunicação de crime. A pena para esse tipo de infração varia de 1 a 6 meses de detenção ou multa.
O que aponta as investigações
De acordo com a BBC Brasil, por volta das 6h da manhã de domingo passado, Ryan Lochte, James Felgen, Gunnar Bentz e Jack Conger pararam em posto de combustível na Barra da Tijuca após participarem de uma festa na Casa França, na Lagoa, zona Sul do Rio. O posto fica a 16 quilômetros da Vila dos Atletas. Um deles teria quebrado a porta do banheiro do posto.
De acordo com as fontes da BBC, houve bate-boca e o segurança do posto foi chamado para conter a confusão. Os funcionários do posto teriam exigido que o grupo pagasse pelos estragos. Os seguranças ainda teriam obrigado os nadadores a saírem do táxi onde estavam.
A Polícia Militar teria sido acionada por funcionários do posto. Antes de a PM chegar ao local do incidente, um cliente teria servido de intérprete para os atletas e ajudado a intermediar o pagamento dos danos causados.
Segundo os relatos, quando os policiais chegaram ao local, a confusão estava desfeita, os nadadores já haviam indenizado o posto pela porta quebrada e voltado à Vila dos Atletas. A polícia confirmou ter sido chamada e o áudio dos funcionários do posto acionando a PM, que também registrou a ocorrência. O segurança do posto também já prestou depoimento.
Relembre o caso passo a passo
A Versão inicial
Toda a polêmica teve início quando Lochte, na segunda-feira, revelou que ele e os três outros atletas (Gunnar Bentz, Jack Conger e Jimmy Feigen) estavam voltando durante a madrugada anterior para a Vila Olímpica após passarem a noite em uma festa na casa de hospitalidade do time olímpico da França. Neste momento, o táxi teria sido parado por apenas um assaltante, se passando por policial, que teria lhe apontado a arma na cabeça. O nadador norte-americano disse que teve dinheiro (US$ 400) e carteiras roubados, ficando apenas com o celular e as credenciais da Rio-2016.
Porém, desde o início causou estranheza o fato de Lochte ter comunicado o crime apenas no final da tarde de segunda-feira, sendo que o suposto assalto ocorreu ainda na noite de domingo. Mais tarde, ele alegou que tinha demorado pois tinha medo que “poderia estar encrencado” por ter ido a uma festa durante a madrugada e bebido, o que seria possível de punições do comitê americano.
Repercussão e detalhes
A declaração de que havia sido assaltado à mão armada na cidade olímpico provocou grande repercussão mundial e deixou Lochte em evidência. O nadador passou a conceder entrevistas em que contou mais detalhes sobre o ocorrido. Talvez na mais dramática das declarações, ele disse que se recusou deitar no chão e teve a arma apontada contra a sua cabeça.
“Eles sacaram as armas e disseram aos outros nadadores para deitarem no chão - e eles deitaram. Eu me recusei. Eu pensei 'não fizemos nada errado, então não vou me deitar no chão”, disse.
A história chocou até delegações de outros países. A Austrália, por exemplo, proibiu seus atletas de irem para a praia durante a noite no Rio de Janeiro.
O Comitê Organizador da Rio-2016 pediu desculpas pelo ocorrido “Sentimos muito pela violência que chegou tão perto dos atletas. Esperamos que todos estejam seguros em todas as partes da cidade e pedimos desculpa a esses envolvidos”, disse o diretor de comunicação Mario Andrada.
Depoimento revelado e primeiras contradições
Na terça-feira, dois dias depois do ocorrido, o UOL Esporte teve acesso ao que foi dito pelo atleta em depoimento. Ele afirmou que os assaltantes roubaram US$ 400 (cerca de R$ 1,3 mil) dele.
Na declaração à polícia, Lochte reafirmou que o grupo foi parado em uma falsa blitz e que foi abordado por mais de um assaltante, diferentemente do que foi dito à polícia por Feigen, que apontou apenas um assaltante na cena do crime. Lochte não conseguiu descrever o tipo físico dos homens, nem soube indicar o formato do distintivo dos falsos policiais no assalto.
Lochte confirmou ainda que uma arma foi apontada para sua cabeça e que foi o último a se deitar no chão após ordem dos assaltantes. O atleta norte-americano não soube dizer o local onde ocorreu o assalto, nem descrever informações sobre o taxista que conduzia o grupo no momento em que foram abordados.
Depois de ouvir o depoimento de Lochte e de Feigen, a polícia passou a procura os dois taxistas que teriam conduzido os atletas antes e depois do assalto. Até um perfil foi traçado pela polícia para o assaltante: “porte atlético, cabelo escuro e barba feira. Moreno claro, aparentava entre 30 e 40 anos e vestia uma calça preta e camisa cinza, por baixo de jaqueta preta”.
Vídeo e desconfiança da polícia
Na noite de terça-feira, a Polícia deu os primeiros indícios de que desconfiava da versão dos nadadores americano. Uma fonte da polícia disse à agência AP que Lochte e os nadadores Gunnar Bentz, Jack Conger e Jimmy Feigen não foram capazes de fornecer "detalhes-chave" do caso nos depoimentos. Além disso, os investigadores não encontraram o motorista do táxi ou qualquer outra testemunha.
No mesmo dia, um vídeo obtido com exclusividade pelo tabloide britânico Daily Mail mostrou o retorno de Ryan Lochte e dos demais nadadores à Vila Olímpica na manhã do último domingo. Pelas imagens, percebe-se que Lochte deixa celular e credencial em uma bandeja antes de passar pelo detector de metais. Os nadadores riam e brincavam entre sim, em uma cena que em nada poderia ser associada a quem tinha acabado de ser assaltado.
Busca de passaporte e retenção de nadadores no Brasil
Na quarta-feira, a polícia cumpriu um mandado de busca e apreensão dos passaportes de Ryan Lochte e James Feigen. Os policiais, no entanto, não conseguiram cumprir os mandados, visto que nenhum dos dois estava no local. Lochte tinha deixado o país um dia antes, mas Feigen continuava no país
Na justificativa, a polícia não queria que os americanos deixassem o país até que o caso fosse resolvido, pois gostariam que o caso fosse melhor explicado no intuito de prender os eventuais autores do crime. No decorrer das investigações, porém, surgiram indícios de que os nadadores poderiam ter mentido em seu depoimento, o que já se trata de comunicação falsa de crime, com pena prevista de um a seis meses de detenção e multa.
Já os nadadores Gunnar Bentz e Jack Conger foram impedidos pela Polícia Federal (PF) de deixarem o Brasil na mesma noite. Os dois tentavam embarcar para os Estados Unidos do Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim, mas foram levados pelos agentes para a delegacia civil no aeroporto.
Mais incoerências
Em uma entrevista a "NBC", já nos Estados Unidos, Lochte revelou uma história um tanto diferente da qual denunciaram ele e outros três nadadores, Desta vez, ele afirmou que o assalto não aconteceu quando voltavam de táxi para a Vila Olímpica, como tinham contado inicialmente, mas sim em um posto de gasolina.
"Eles foram até o banheiro do posto de gasolina. Voltaram ao táxi e pediram para que o motorista seguisse viagem, mas ele não se mexeu", explicou o jornalista Matt Lauer, da "NBC", que conversou com Lochte. "Foi então que dois homens os abordaram com pistolas e distintivos da polícia", acrescentou.
Inicialmente, os quatro nadadores disseram que homens armados se passaram por policiais e obrigaram o táxi, no qual retornavam de uma festa por volta das 4h, a parar.
A outra incoerência revelada pela "NBC" a respeito a história original contada pelos nadadores seria que Lochte não teria ficado com uma arma na cabeça, mas que os supostos ladrões teriam apenas apontado a pistola.
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