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Mercado segurador vira ?ringue? de disputa entre bancos e corretores de seguros

Canais de comercialização divergem e promovem concorrência ?desleal? aos profissionais habilitados

Por Anne Caroline Bomfim 10/09/2016 12h12
Mercado segurador vira ?ringue? de disputa entre bancos e corretores de seguros
Seguros podem ser contratados por bancos e corretores de seguros - Foto: Divulgação/Internet

A competitividade é frequentemente vista dentro de um contexto econômico ou empresarial. Um dos nichos líderes de disputa mercadológica é o mercado segurador que se vê diante de uma “corrida” entre as entidades que fomentam o serviço no Brasil. De um lado, temos os bancos, que são considerados verdadeiras potências e, de outro, temos os corretores de seguros habilitados, profissionais que se interpelam entre os negócios e contratos.

Atualmente, existem, basicamente, três grandes canais de comercialização do serviço: a venda direta, o corretor de seguros e o sistema de agências bancárias ou pontos de vendas. A maioria dos conglomerados visualiza na figura do corretor o seu principal parceiro, especialmente para a venda de seguros mais complexos. Entretanto, não existe nenhum dispositivo jurídico ou legal que impeça que outras entidades ou profissionais ofertem o benefício - nas suas mais diversas modalidades. 

Anne Caroline BomfimDiante desse cenário, a pergunta que fica é: o processo de compra e venda de seguros é realmente justo ao profissional habilitado? O corretor de seguros e diretor do Sindicato dos Corretores de Seguros e de Capitalização, Previdência Privada e de Saúde no Estado de Alagoas (Sincor/AL), Djaildo Almeida, assegura que existem inúmeras diferenças na contratação do benefício por um profissional do mercado e por uma instituição financeira. Ele define o seguro que é comercializado pelo bancário como “engessado”.

“O corretor é especialista em seguros. Ele é um profissional que passou noves meses em uma sala de aula estudando os produtos e o mercado para, justamente, na hora em que ele for atender o cliente, ser uma espécie de consultor daquela pessoa. O bancário, por sua vez, domina as finanças, mas não o seguro. Essa é a realidade. O gerente atende o horário bancário, já o corretor de seguros possui um horário mais flexível”, explicou. 

Apesar de o contrato ser o mesmo em ambos os casos, o cliente, que é o mais interessado em adquirir o seguro, pode sair lesado em dada circunstância. Isso porque, na maioria das vezes, o produto oferecido pelos bancos é um, e pelo corretor é outro, mais personalizado. O cliente, por sua vez, pode ter a sensação de que está fazendo um bom negócio a primeira vista, mas, quando realmente necessitar ser amparado, pode ter dor de cabeça. 

“Nós trabalhamos para o cliente. Ao adquirir um seguro, o corretor realiza um trabalho de consultoria para identificar qual a companhia que atende às necessidades individuais daquele indivíduo. É assim: eu tenho ‘x’ companhias para trabalhar, então eu vou indicar a melhor, ou seja, aquela que oferecer o melhor serviço para ele. Os bancos só trabalham, na maioria das vezes, com uma companhia apenas, então o consumidor acaba contratando o serviço ás escuras”, ressaltou. 

Thays Gama é corretora de seguros especializada em Previdência Privada e concorda com o diretor do Sincor/AL. Na visão da profissional, a “terceirização” do serviço gera não apenas a competitividade, mas corrói a credibilidade e a capacidade técnica da categoria, sem dispositivos técnicos ou jurídicos para tal. “As pessoas pensam que estão contratando um serviço vinculado diretamente à bandeira do banco. Mas não. É uma espécie de terceirização. Na maioria das instituições do Brasil, inclusive em Alagoas, apenas um corretor devidamente habilitado é contratado para dar conta das agências de todo o estado. É só para cumprir a lei, mas, na verdade, eles vendem o que querem”, denunciou. 

Anne Caroline Bomfim

Devido ao desconhecimento do cliente, os interessados associam a marca do banco ao serviço, mas ela orienta: “o banco é uma coisa, a segurador é outra. Falta esclarecimento. O cliente acha que está dentro de uma potência, mas, na realidade, o bancário está comercializando o produto de outra instituição”, falou. “O corretor de seguros é aquele que realmente entende toda a parte técnica e que estudou para isso. É aquela pessoa que vai agir na parte administrativa”, emendou. 

Confira, abaixo, as diferenças elencadas por Djaildo e Thays na contratação de seguros por meio de bancos e corretores:



SEGUROS: BANCOS VENDEM 52% E CORRETORES INDEPENDENTES 48%

De acordo com dados do Sindicato das Empresas de Seguros, Resseguros e Capitalização (Sindseg) e Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg), 52% das vendas de seguros no Brasil provêm de seguradoras ligadas a bancos e 48% de corretores independentes. Outro dado interessante sobre o perfil do setor no país aponta que cerca de 80% das vendas de seguros são oriundas de companhias nacionais e 18% de empresas estrangeiras.

Em relação à cultura seguradora dentro de um contexto social, apenas 25% da população brasileira tem planos de saúde, 26% possuem seguro de carro e 14% de residências. Os números demonstram que o mercado segurador precisa de maior divulgação. A pesquisa, no entanto, se revelou animadora para o nicho, já que o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking de aquisições de seguros na América Latina – o que demonstra potencial crescimento em anos vindouros. Os dados foram levantados em 2015 e divulgados no segundo semestre de 2016.

DIFERENÇAS

O portal 7 Segundos entrevistou dois segurados que adquiriram seguros de maneiras distintas: um por meio de uma agência bancária e outro por meio de um corretor de seguros habilitado. Fleidson Ferreira, 27, adquiriu um empréstimo com quatro anos de carência em 2008. Agregado ao dinheiro protelado, ele também protegeu a sua família de eventuais secas ou outros sinistros de ordem ambiental, por meio de um seguro rural. 

Os familiares do baiano, que, atualmente, reside em Alagoas, possuem terras com plantações de laranja no município de Aporá, interior do estado da Bahia. “Lembro que o prefeito decretou situação de emergência na cidade devido à estiagem e aí a plantação ficou prejudicada por conta disso. Para ter acesso ao seguro rural, precisei pagar apenas o valor da franquia do empréstimo e nada mais”, recordou. 

O seguro rural foi comercializado por meio de um banco e o valor recebido por ele correspondeu a 20% do valor total do seguro à época. Essa modalidade garante que o produtor não tenha grandes prejuízos em períodos de cheias ou estiagens capazes de prejudicar a produção. O empréstimo é realizado a fim de investir no plantio ou manutenção de culturas agrícolas. 

Além do rural, Fleidson, recentemente, adquiriu um seguro de proteção familiar, semelhante ao seguro de vida. O pacote foi ofertado junto com um plano de Previdência Privada. Atualmente, ele paga R$10 mensais para a seguradora e, em caso de invalidez, o beneficiário terá direito a receber o equivalente a 48 parcelas de aproximadamente R$3.500 reais. “Adquiri o seguro durante um procedimento de rotina no banco. A operadora de caixa me ofereceu o serviço e permitiu prontamente a aquisição do mesmo. Não estava planejando, mas aí a proposta me pareceu interessante e vantajosa e resolvi apostar”, contou. 

Seguro de automóvel, todavia, Fleidson nunca pensou em fazer porque, segundo ele, “não compensa”, visto que ele só teve carros populares até então. “Mas, se eu comprasse um carro novo, com certeza iria adquirir o seguro”, constatou. O diretor do Sincor/AL faz um alerta nesses casos. “Quando você precisa do seguro é que você sente mais falta dele. Economizando R$ 100 reais, talvez, quando o cliente realmente necessitar, não esteja devidamente coberto o quanto gostaria de estar. Independentemente do valor do carro, vale realmente a pena assumir esse risco? Porque mais que o segurado ache que o veículo é antigo, eu pergunto: ‘dez mil você arruma de uma hora para outra? ’. Acredito que não”, esclareceu. 

O comerciante Orlando Filho, 40, por sua vez, já passou por experiências não tão agradáveis em bancos e optou por contratar seguros apenas com corretores para não ter nenhum tipo de mal-estar. Em 1993, ele era correntista de um banco e resolveu contratar um seguro de automóvel para proteger o veículo. “Aconteceu de eu precisar do serviço. No mesmo dia que ocorreu o sinistro, eu liguei para o número indicado pela empresa e nada. Passei o dia inteiro ligando para 0800 sem nenhuma assistência. Me senti lesado, desamparado”, confessou. 

Depois de dois anos, ele optou por cancelar o serviço e procurar uma seguradora com corretores habilitados. Deu certo. Há cinco meses, ele quebrou a lanterna do carro, que precisou de reparos. Ele não tem o que reclamar e elogia, inclusive, o atendimento prestado pelos profissionais. “Liguei para o meu corretor e ele resolveu na hora. Foi fácil, rápido e prático”. 

“No banco é complicado e eu falo por experiência própria. Tem pessoas que estão lá para tão somente vender aquele produto ou serviço, mas, na hora que você vai precisar, não consegue. Eles acabam barateando o seguro, mas, quando o cliente contesta, praticamente não está coberto”, seguiu. 

O OUTRO LADO

Por telefone, a reportagem tentou entrar em contato duas vezes com assessoria de comunicação da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), mas não obteve êxito. O Sindicato dos Urbanitários de Alagoas, por sua vez, afirmou que prefere não se pronunciar sobre o assunto. O portal 7 Segundos também contatou as assessorias de alguns bancos, mas as instituições afirmaram que não poderiam atender a solicitação da matéria. 

Por fim, apenas o Sindicato dos Bancários de Alagoas resolveu falar sobre o assunto. Cláudio Gama Ferreira, bancário e diretor de Formação Sindical da entidade, afirmou reconhecer que existem diferenças entre os seguros ofertados pelos bancos e pelos corretores, mas disse que essa é uma realidade comum no mercado de trabalho. “É claro que existem diferenças, mas é algo normal. Acredito que o bancário, assim como o corretor, preza pelo relacionamento com o cliente. Comunicação é tudo e faz a diferença”, destacou. 

Para ele, o cliente se sente mais confortável em adquirir um seguro por uma agência bancária porque, além da proteção, o interessado também pode adquirir outros serviços ou benefícios no mesmo lugar e oportunidade. “É mais acessível do ponto de vista da logística. Quando você está em um banco, você tem acesso a vários produtos e não apenas a seguros. Então você também tem uma orientação a mais”, exemplificou. 

Há dez anos, Cláudio foi liberado do banco que trabalhava para atuar exclusivamente no sindicato e não se arrepende. Ele mesmo chegou a comercializar diversos tipos de seguros. Os mais comuns são os de residência, veículos e vida. Como dirigente, ele admite que ainda exista um longo caminho em relação à profissionalização do bancário para atuar nesse setor. 
“O bancário é obrigado a ficar ‘tentando’ o cliente a adquirir outros serviços porque ele trabalha com metas e isso acaba fugindo da capacidade dele, mas temos que entender que o profissional faz isso com medo de ser demitido”, denunciou. “A qualidade do serviço fica prejudicada. Se você vende bem esse mês, no próximo mês você tem que vender melhor ainda. Essa é a realidade”, continuou. 

Ele destaca, no entanto, que a categoria é capaz de ofertar um seguro da mesma forma que o corretor assim o faz. “Assim como o corretor, também passamos por um curso de qualificação, que dura, mais ou menos, uns dois meses. Lá, porém, estudamos de uma maneira geral seguros, previdência, economia, poupança e chegue especial por exemplo. É mais um intensivão, mas que capacita da mesma forma”, falou. 

O bancário também disse que, como profissional sindicalizado, se engaja nas lutas da categoria para que eles tenham melhores condições de trabalho e não sofram tanta pressão como ocorre diariamente. “Trabalhar é uma satisfação, mas acredito que algumas coisas poderiam ser mudadas. O banco deveria respeitar mais. Existe certo exagero quanto a isso. Devemos admitir. Não são poucos os profissionais que desenvolvem doenças como alcoolismo, ansiedade e lesões por esforço repetitivo devido à pressão diária”. 

PROCON ORIENTA POPULAÇÃO

Ubirajara Reis, assessor jurídico do Procon/AL, alerta para os principais direitos e deveres do consumidor na hora de contratar um seguro, seja ele qual for. “É necessário que o interessado obtenha informações junto a SUSEP e identifique se a seguradora está autorizada a oferecer o seguro, se o corretor está devidamente habilitado para exercer a profissão”, disse. 

Reis destaca que, atualmente, não existe nenhuma legislação específica que impeça o cliente de contratar o serviço por bancos. Entretanto, ele destaca que a grande maioria das instituições é campeã de reclamações junto ao órgão, seja pelo grande número de clientes que impede um atendimento mais cortês, ou até pelo pela quantidade de operações financeiras efetuadas diariamente. 

AssessoriaEm relação ao número de requisições recebidas pelo órgão em Alagoas, o Procon contabilizou, em 2015, 91 processos referentes ao termo “seguro”, sendo as modalidades “automóvel”, “vida” e “residencial” as que registraram os maiores problemas. Já em 2016, até o mês começo do mês de setembro, foram 34 processos registrados. Muitos desses pedidos são referentes às seguradoras vinculadas às instituições bancárias, que são as que mais comercializam seguros no país. 

“A taxa de juros cobrada pelo setor financeiro é enorme e a concessão de crédito é feita de forma irresponsável, o que tem criado o fenômeno do superendividamento”, informou.
Questionado se a falta de profissionalização do bancário poderia acarretar prejuízos ao cliente, Ubirajara é enfático. “O seguro comercializado nas dependências das instituições são menos complexos. Eles são denominados ‘produto padrão’. A responsabilidade do banco é objetiva caso haja algum problema com o segurado”, declarou. 

A principal orientação na hora de adquirir um seguro é simples. É preciso checar se o corretor ou seguradora possui registro na Superintendência de Seguros Privados (SUSEP). Se o cliente se sentir lesado, ele pode formular uma reclamação junto ao órgão ou, se preferir, também pode procurar o Procon para posteriores esclarecimentos. “O problema, a meu ver, não se trata apenas de existir norma específica. A nossa legislação é vasta sobre a matéria. O problema consiste na falta de educação para o consumo do produto denominado ‘seguro’”, exclamou. 

O CORRETOR DE SEGUROS À LUZ DO CDC E COMISSÃO DE ASSUNTOS SOCIAIS 

O Código de Defesa do Consumidor (CDC), em seu artigo 3º, §2º carrega a definição da palavra “serviço”, que também engloba a atividade seguradora. O termo pode ser entendido como “qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária”. A partir da década de 1990, a figura do corretor de seguros se consolidou como o principal canal de distribuição de seguros no país.

O artigo 122 do Decreto Lei nº 73/66 delimita o conceito de corretor de seguros, conforme a seguinte transcrição: “O corretor de seguros, pessoa física ou jurídica, é o intermediário legalmente autorizado a angariar e promover contratos de seguro entre as Sociedades Seguradoras e as pessoas físicas ou jurídicas de Direito Privado”. Quando uma pessoa decide contratar um seguro, caso queira fazer da forma correta, necessariamente precisará do auxílio de um corretor de seguros para promover seus interesses perante a companhia seguradora, independentemente se for de forma autônoma ou não. 

A Comissão de Assuntos Sociais (CAS), por sua vez, vinculada ao Senado Federal, aprovou, em julho deste ano, duas propostas ligadas a legislações profissionais, dentre elas o projeto de lei da Câmara (PLC) 155/2015, que atualiza a lei de regulamentação da profissão de corretor de seguros. O PLC detalhe o papel do corretor, que é a de intermediar o contrato entre o consumidor e a seguradora e também venda sua participação nos resultados financeiros da empresa visando garantir a isenção total do profissional nessa indicação. O relator do projeto é o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) e a matéria é do deputado Giovani Cherini (PDT-RS).

PROFISSIONAL SE REINVENTA COM AS REDES SOCIAIS

A internet têm auxiliado empreendedores, pessoas físicas ou jurídicas e até mesmo o mercado segurador a vender. Segundo o último Relatório Mundial sobre Seguros divulgado pela Capgemini, multinacional francesa que promove serviços de consultoria, tecnologia e outsourcing do mundo, em cinco anos, quase um terço dos negócios ocorrerão por meio digital. As seguradoras acreditam que 20% das compras serão distribuídas em universo online e 11% em canais móveis. 

O corretor Djaildo Almeida afirma que as redes sociais já fazem parte do dia-a-dia das seguradoras e se tornaram indispensáveis para prospectar clientes e outras demandas. “As redes sociais são ferramentas que eu, pessoalmente, uso muito. Eu visualizo a internet como se fosse um outdoor na rua, chamando o cliente para entrar na sua casa”. Para chamar a atenção do cliente, ele costuma gravar pequenos vídeos e tirar fotos com dicas gerais ou mais específicas. “As pessoas se engajam, clicam, curtem e se interessam”, resumiu. 

Veja dicas para contratar um seguro pela internet: