Economia

Governo reduz expectativa do PIB e descarta retomada este trimestre

Ministro Henrique Meirelles trabalha com alta do PIB na casa de 1% no próximo ano

Por UOL - Folha de São Paulo 11/11/2016 06h06
Governo reduz expectativa do PIB e descarta retomada este trimestre
Presidente do Brasil, Michel Temer - Foto: Folhapress

Além de jogar a toalha sobre a volta do crescimento no final deste ano, a equipe econômica do governo Temer já reduziu também sua previsão em relação a 2017. Agora, o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) trabalha com uma alta do PIB na casa de 1% no próximo ano, ante a previsão oficial anterior de 1,6%.

A projeção pode ficar ainda mais negativa depois da vitória de Donald Trump. Segundo assessores presidenciais, o governo do republicano é uma incógnita e pode gerar turbulências nos mercados mundiais, afetando o ritmo da economia no Brasil.

alta do dólar nesta quinta-feira (10), acima de 4%, foi vista como um alerta do que pode ocorrer daqui para a frente, podendo tornar ainda mais difícil, segundo assessores, a tarefa do governo de recuperar o crescimento.

Daí que a ordem agora é tentar reverter esse cenário. Segundo a Folhaapurou, a equipe de Temer prepara a segunda etapa de sua política econômica, a ser lançada no início do próximo ano, com foco em reformas microeconômicas, para fazer a economia voltar a andar com medidas no campo da produtividade e competitividade.

O governo já fechou uma parceria com o Banco Mundial para elaborar um conjunto de ações em setores como energia e transporte.

CRÉDITO

Segundo um auxiliar de Temer, a economia está num ritmo mais lento que o esperado neste fim de ano por causa do fraco desempenho do crédito.

Com isso, o governo já não conta mais com uma recuperação da economia neste quarto trimestre e acredita que a melhora do ritmo só acontecerá em 2017.

Essa frustração já fez também a equipe econômica alterar suas previsões para o ano que vem. Meirelles já fala num crescimento menos "exuberante", próximo de 1%. O mercado chegou a falar até em 2% de alta do PIB em 2017. E agora surgiu o fator Trump, podendo gerar mais dúvidas.

Para evitar um 2017 ruim, a equipe econômica vai focar mais ações voltadas para "pôr a economia para funcionar", passada a fase de votação e apresentação de medidas fiscais, como o teto de gastos e a reforma da Previdência.

Em outras palavras, o governo deixará de mirar apenas o ajuste fiscal e vai elaborar medidas para acelerar o crescimento e o investimento. A ideia é reduzir principalmente o custo de energia e de transporte dentro do país.

O Planalto conta ainda com as mudanças nas regras de exploração do pré-sal e com a volta dos leilões de concessões de aeroportos, rodovias, ferrovias e portos. Também aposta na continuidade da redução dos juros.

Em outubro, o Banco Central reduziu a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, para 14% ao ano. 

JURO MENOR AO CONSUMIDOR DEPENDE DE QUEDA NOS CALOTES DOS BANCOS

Com a inadimplência dos clientes ainda em alta, os maiores bancos brasileiros indicaram nos últimos dias que vão demorar a repassar para o consumidor a queda na taxa básica de juros, que o Banco Central começou a reduzir em outubro.

O temor de novos calotes ainda é mais forte do que o apetite para voltar a emprestar, disseram executivos do Bradesco, do Itaú e do Banco do Brasil em entrevistas para detalhar os resultados do terceiro trimestre.

Entre julho e setembro, os empréstimos cresceram em linhas destinadas a financiamento imobiliário e crédito consignado, em que as garantias dos clientes reduzem para os bancos o risco de perdas com a inadimplência, e nos cartões de crédito, que muitos passaram a usar mais frequentemente no dia a dia.

O custo desse dinheiro também ficou mais caro no período. Para compensar o encolhimento de suas carteiras de crédito e as perdas com calotes, os bancos aumentaram os juros e os spreads, a diferença entre o que pagam para captar recursos de investidores e o que cobram para conceder crédito.

"Os spreads ainda têm um efeito da alta da inadimplência, mas a tendência futura é de estabilização", disse Luiz Carlos Angelotti, diretor de relações com investidores do Bradesco. Ele acha que a inadimplência só deverá começar a cair no fim do próximo ano, o que indica que dificilmente o custo do crédito será reduzido antes disso.

No início de 2015, quando a crise econômico se intensificou, o Banco do Brasil percebeu a necessidade de "ganhar mais dinheiro com o mesmo crédito", explicou José Maurício Pereira Coelho, vice-presidente de relações com investidores. O banco começou a renegociar empréstimos a juros mais altos para aumentar sua margem financeira.

"Esse esforço permanece", acrescentou. Com a economia se recuperando lentamente e o desemprego em alta, ele admite a dificuldade para continuar cobrando mais caro, mas mudar de estratégia não está nos planos do BB.

Coelho disse que a inadimplência ainda não atingiu o pico e é o principal risco para o mercado de crédito hoje. A redução dos juros exige a redução dos calotes, afirmou.

 

"A carteira vai crescer no ritmo que a economia e os agentes da economia permitirem", disse Marcelo Kopel, diretor de relações com investidores do Itaú, que também espera queda mais consistente da inadimplência antes de ver uma retomada do crédito.

O presidente do Santander no Brasil, Sérgio Rial, disse esperar uma disputa com seus concorrentes para a retomada das carteiras de crédito com a queda da taxa básica de juros.

"Isso começa a estimular a retomada de crédito, que a gente não viu nos últimos 24 meses", afirmou. "Aumenta financiamento de veículos e aumenta a retomada da compra da habitação."

Em outubro, o Banco Central reduziu a taxa Selic de 14,25% para 14% ao ano, o primeiro corte em quatro anos. A expectativa do mercado é que esse seja o início de um ciclo de redução dos juros que se estenderá até o próximo ano.

TARIFAS

Os correntistas também pagaram mais em tarifas para os bancos no último trimestre. O aumento das receitas de conta-corrente, cartões e taxas de administração dos fundos é outra via utilizada pelos bancos para manter a rentabilidade do negócio em meio à recessão.

Todos reajustaram os pacotes de serviços bancários no último ano, mas investiram também na oferta de novos serviços para clientes de renda mais alta, como seguros, planos de previdência e fundos de investimento.

No Banco do Brasil, o resultado foi um incremento de 20% no ganho com os clientes que migraram para os serviços "premium".