Economia

Empresas Juniores crescem no mercado durante a crise

Por Ana Clara* estagiária e Rafael Brito* colaborador 24/12/2016 09h09
Empresas Juniores crescem no mercado durante a crise
Empresas Juniores funcionam dentro da faculdade e movimentam a economia - Foto: Agência O Globo

A crise econômica que atinge o Brasil em diversos setores é desconhecida pelo Movimento Empresa Júnior (MEJ). As empresas, que são formadas apenas por estudantes universitários, geraram mais de R$100 mil reais neste ano em Alagoas. No comparativo com o ano passado, 2016 representa um aumento de aproximadamente 72% na receita. Como as empresas juniores não tem fins lucrativos, os valores arrecadados servem para manutenção da empresa e capacitação dos componentes.

A realidade das empresas juniores de Alagoas contrasta com o cenário econômico do país. Mesmo com a economia nacional em retração e com queda do Produto Interno Bruto (PIB) pelo sétimo trimestre seguido, baseado nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), as empresas juniores conseguiram elevar a receita. De acordo com dados da Federação das Empresas Juniores do Estado de Alagoas (FEJEA), em 2015, foram realizados 55 projetos e o faturamento foi de R$66.151,99 reais. Neste ano, até o mês de outubro, foram entregues 74 projetos e o faturamento foi de 113.829,93 reais. Representa um crescimento de cerca de 72% na receita e 34,5% de aumento na demanda de serviços.

Diante do crescimento dos números, o presidente da Federação, Gabriel Andrade, afirma que a crise resultou em um efeito contrário nas empresas juniores. “Estamos conseguindo atingir e até superar as metas. Acredito que a crise não chegou ao Movimento Empresa Junior.” E atribui o crescimento dos números aos principais atrativos do MEJ: baixo custo dos serviços, em relação ao preço de mercado, e oferecer trabalhos com qualidade. “As empresas juniores tendem a ter um custo menor. O estudante busca antes de tudo um aprendizado. Por isso, o foco é captar recursos apenas para a própria empresa e investimento nos membros, como exemplo, capacitação e infraestrutura.”

Sem despesas com funcionários, como pagamento de salário, décimo terceiro, rescisões, entre outros direitos trabalhistas, os preços estipulados pelas empresas juniores podem chegar a variar até entre 40% e 60% abaixo do valor dos serviços oferecidos por empresas seniores. Além deste fator, as sedes físicas das empresas podem ser negociadas em parcerias com as próprias instituições de ensino superior dos estudantes.

Os serviços contratados serem realizados por estudantes universitários, e não por profissionais graduados, não é motivo para desconfiança dos clientes. Além da credibilidade no mercado, as empresas juniores buscam ter outro diferencial: o atendimento e o relacionamento com o cliente. “A empresa júnior tem uma dedicação e um cuidado diferenciado. Os membros  possuem envolvimento e  interesse em aprender e buscar a satisfação do cliente através do projeto. ”, disse Victor Ribeiro, especialista em Excel na empresa Proxcel, que é cliente da JRS, empresa júnior de administração da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

A empresa júnior serve também como oportunidade para o estudante universitário no processo de aprendizagem e no desenvolvimento profissional. No ambiente de trabalho, o estudante pode praticar o conteúdo visto em sala de aula diretamente no que o mercado exige. A realização dos projetos é a maneira de aliar a teoria passada pelo professor com a prática demandada pelo mercado.

O Movimento Empresa Júnior nasceu na França, em 1967, e chegou ao Brasil em 1988 com a Empresa Junior Fundação Getúlio Vargas. Hoje, o Brasil é o país com mais empresas juniores do mundo. O movimento conta com 20 federações ao todo, mais de 350 empresas federadas, uma média de 2,8 mil projetos por ano e mais de 11 mil empresários juniores.

Em Alagoas, a FEJEA foi criada em 2009 e representa as empresas juniores do estado diante dos órgão públicos, autoridades governamentais e sociedade. A Federação busca difundir o conceito do Movimento Empresa Júnior para possibilitar a abertura de novas empresas nas instituições de ensino superior do estado, além de dar o suporte necessário para as empresas juniores já existentes e estabelecidas.

Atualmente, em Alagoas, são seis empresas federadas: em Maceió, com sedes na Universidade Federal de Alagoas, JRS Consultoria (administração), EJEC (engenharia civil e arquitetura) e PROTEQ Jr. (engenharia química e ambiental). Na capital alagoana, com sede no Centro Universitário Tiradentes, AEC Jr (arquitetura e engenharias). Em Rio Largo, na Universidade Federal de Alagoas, Nortear Jr (engenharia de agrimensura). Em Arapiraca, na Universidade Federal de Alagoas, Consulti Júnior (administração).

Antes de ser federada, a empresa júnior tem o ponto de partida como iniciativa. Atualmente, cerca de 15 inciativas estão nesta fase e recebem o auxílio da FEJEA para construir a estrutura organizacional e a regulamentação da empresa junto aos órgãos públicos. As empresas geralmente são divididas em sete áreas, cada qual com funções determinadas: presidência, recursos humanos, financeiro, marketing, comercial, qualidade e projetos.

Em abril deste ano, a lei que disciplina a criação das empresas juniores foi sancionada e publicada no Diário Oficial da União. A lei favorece o relacionamento das empresas juniores com as Instituições de Ensino Superior, criação de regras e prever benefícios como a cessão de espaço físico gratuito para o funcionamento na própria universidade e a inclusão de suas atividades no conteúdo acadêmico do curso da qual faz parte.