Um Fusca encanta russos na terra do Lada
Volks 1968 de Pelotas chega à Rússia para acompanhar a Copa do Mundo
Dizem que carro parado não conta história. E “Segundinho”, o Fusca 1968 de Nauro Junior, leva isso ao pé da letra. Depois de ter percorrido 45 mil quilômetros por toda América do Sul, com o projeto Fuscamérica, o fotógrafo gaúcho levou seu velho Volks à Rússia, para acompanhar a Copa do Mundo.
Para ir de Pelotas a São Petersburgo, o Fusquinha pegou um navio. Foram 60 dias dentro de um contêiner. O transporte foi feito por uma empresa de navegação americana cujo presidente — um brasileiro — gostou de ideia de Nauro e decidiu apoiar a jornada.
A solidariedade dos patrícios com o Fusquinha tem sido importante nesse passeio:
Nauro sofreu com burocracia e documentos em alfabeto cirílico para resgatar o carro - Arquivo Pessoal / Caio Passos
Apesar de todo o cuidado com os trâmites, só conseguimos retirar o carro do porto com a ajuda de uma brasileira que mora aqui e traduziu a documentação em alfabeto cirílico — conta Nauro.
A primeira escala
Há nove dias rodando por São Petersburgo, Segundinho anda fazendo sucesso. Enquanto entrevistávamos Nauro, via WhatsApp, ouvimos uns cinco curiosos perguntando sobre o carro, que estava estacionado em frente ao Hermitage, um dos museus de arte mais importantes do mundo.
É impressionante como as pessoas se esforçam para conseguir entender o que estamos fazendo por aqui. Já demos entrevista para duas emissoras de TV russas, sempre falando português ou espanhol, já que não falo inglês. Pessoas do mundo inteiro estão nos marcando em fotos nas redes sociais — afirma Nauro, que viaja acompanhado do também fotógrafo e editor de imagens Caio Passos.
A ideia original era sentir de perto o clima da Copa, passando pelas cidades por onde a seleção brasileira jogará. Os gaúchos não foram à estreia em Rostov mas, depois de amanhã, estarão no estádio Krestovsky, em São Petersburgo, para o jogo contra a Costa Rica.
Pelos planos, Segundinho ainda pegará 720km de estrada até Moscou, para o jogo entre Brasil e Sérvia, que acontecerá na quarta-feira da semana que vem. Depois disso, é ver o que acontece no resto do torneio e seguir a equipe brasileira.
A viagem não deve acabar com o fim do mundial.
Depois da Copa, iremos rodando para a Letônia. De lá, o Caio voltará para a casa dele, em Portugal, e eu ganharei a companhia de minha esposa e minha filha, que irão comigo até a Espanha. Precisamos estar por lá no dia 15 de agosto, quando o Segundinho embarcará de volta para o Brasil — prevê Nauro.
Para custear a viagem, o fotógrafo criou um financiamento coletivo na internet, batendo 98% da meta de R$ 40 mil necessários para a “expedição”. Houve ainda patrocinadores que ajudaram com peças extras para o Fusca, passagens de avião e até biscoitos para diminuir os custos com refeições.
Um rapaz conheceu o projeto pelo Facebook, entrou em contato e nos recebeu aqui na Rússia. É o Ravil Shafigullin, um russo que trabalha como restaurador de Volkswagen por aqui. Ele só se comunica com a gente por meio do aplicativo de tradução do celular, mas está nos hospedando na sua própria casa e organizou um encontro para nos homenagear — alegra-se Nauro.
Um Fusca e meio
Após ver um grupo de policiais vindo em direção ao Fusca, um suspiro de alívio: eles queriam apenas tirar uma foto com o carro. Nada de multas - Arquivo pessoal
Trocado por um iPhone em 2011, o Fusca 68 tem poucas alterações. Platinado e dínamo deram lugar a ignição eletrônica e alternador. Para garantir energia suficiente para carregar todo o equipamento fotográfico e os notebooks da dupla, o Volks tem duas baterias. Além disso, os bancos dianteiros são mais modernos e confortáveis.
Na carretinha levamos peças sobressalentes, como motor de arranque, alternador, cabos de acelerador, embreagem, dois estepes e correias, além de barracas de camping, fogão, panela e gasolina extra para qualquer apuro de pane seca. Em cima do carro vai uma “casa dobrável”, que também é nossa redação ambulante — fala Nauro.
Entre os objetos mais importantes dentro do Fusca está uma procuração, assinada por Ivone Bachi, mãe do técnico Tite. No documento, ela declara que os viajantes do Fusquinha são responsáveis por cuidar do treinador e escoltá-lo, para que ele traga a taça para o Brasil. Dona Ivone mora em Caxias do Sul, é conhecida de Nauro e topou a brincadeira.
O diário de bordo pode ser visto no Youtube e no Facebook (procurar por “Expedição Fuscamérica”).