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Jacinda Ardern: a primeira-ministra mais jovem do mundo

Aos 37 anos, a neozelandesa Jacinda Ardern é a primeira-ministra mulher mais jovem do mundo

Por 7Segundos 20/06/2018 10h10
Jacinda Ardern: a primeira-ministra mais jovem do mundo
Mulher é primeira-ministra mais jovem do mundo. - Foto: Reprodução/Internet

Dona de um sorriso radiante, a neozelandesa Jacinda Ardern, 37 anos, é a principal responsável por uma onda de entusiasmo em seu país – a chamada Jacindamania – após se tornar a mais jovem primeira-ministra mulher do mundo. Em uma agradável manhã de verão, ainda não concluídos os primeiros cem dias do mandato que teve início em 26 de outubro passado e um mês antes de anunciar que ela e seu parceiro, Clarke Gayford, estavam esperando o primeiro filho (o nascimento está previsto para meados deste mês), a equipe da primeira-ministra nos conseguiu espaço em sua agenda lotada para um chá.

Jacinda abre as portas de sua casa térrea de tijolos vermelhos, em Auckland, usando uma saia preta que ela mesma fez durante as férias e uma camisa de seda creme. “Tire os sapatos; o tapete é de plush!”, ela diz, com o orgulho típico de uma jovem em início de carreira que acaba de reformar a primeira casa. Não fosse pelo detalhe dos seguranças em frente à garagem, você nem perceberia que a líder de um país mora ali.

Jacinda Ardern nas ruas de Auckland, em fevereiro passado, celebrando o Orgulho LGBTQ (Foto: Pool, Fiona Goodall/Getty Images, Wpa Pool/Getty Images e Stefan Rousseau/PA Images via Getty Images)

Gayford, famoso por apresentar um programa de pesca na TV, está trabalhando em um laptop na mesa de jantar. O casal mora há dois anos no endereço e adotou um gato ruivo malhado chamado Paddles, que virou estrela nas redes sociais graças ao seu miado queixoso, que o mundo conheceu quando o bichano invadiu a sala de Jacinda no exato momento em que a neozelandeza recebeu o seu primeiro telefonema do presidente Donald Trump. Infelizmente, Paddles (ou o primeiro-gato, como ficou conhecido no país) foi atropelado, em novembro – mas sua tigelinha de comida ainda está embaixo da mesa, em sua memória.

No outono passado, Jacinda participou do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), no qual Trump parece ter confundido a neozelandesa com Sophie Trudeau, mulher do primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau. Jacinda comentou a história com um amigo comediante, que, de pronto, contou a passagem ao vivo no rádio. Num jantar da APEC, Trump apontou para Jacinda e, referindo-se aos resultados da eleição da Nova Zelândia, disse: “Essa senhora causou muita chateação em seu país”. A resposta dela? “Ninguém marchou em protesto quando EU fui eleita.”

Jacinda tem consciência do que a primeira-ministra da Nova Zelândia, um país com uma população de menos de cinco milhões de habitantes, pode alcançar no cenário mundial. “Somos pequenos”, diz ela, “mas fazemos a nossa parte ao defender aquilo em que acreditamos.” Aponta a política de desarmamento nuclear de longa data como um exemplo e quer ter essa mesma liderança nas ações em torno das alterações climáticas. “Estamos cercados por nações insulares que sentirão o impacto da mudança do clima. Por isso, vejo que temos essa responsabilidade.” É claro que a Nova Zelândia é, no geral, uma pequena contribuinte para o aquecimento do planeta – mas, ainda assim, setores com alta emissão de carbono, como a agricultura, a horticultura e a silvicultura, estão entre os mais importantes do país. “A coisa mais difícil para nós é diminuir e compensar nossas emissões agrícolas”, diz ela. “Se encontrarmos uma maneira para isso, mostraremos aos outros países como fazer também.”

“Jacinda teve uma ascensão surpreendente”, diz Bryce Edwards, comentarista político do jornal New Zealand Herald. Em julho do ano passado, Andrew Little, líder do Partido Trabalhista (frequentemente descrito como “um bom sujeito”, mas “antiquado”), percebeu que não havia como derrotar o Partido Nacional da Nova Zelândia nas eleições de setembro seguinte. Pelo menos, não com ele no comando. Em 26 de julho, sentou-se com Jacinda, que estava no Parlamento há praticamente uma década, e propôs que ela assumisse o desafio. Daquelas que, de tão leal que é, ainda escreve para os amigos de infância, ela disse a Little que ele deveria “aguentar um pouco”. Mas ele estava decidido. Seis dias depois, renunciou, e Ardern foi incumbida de conseguir o impossível: vencer uma eleição com as campanhas já em curso e na qual o índice de aprovação de seu partido não passava dos 20%.

Jacinda com o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau e Sadiq Kahn, prefeito de Londres. (Foto: Pool, Fiona Goodall/Getty Images, Wpa Pool/Getty Images e Stefan Rousseau/PA Images via Getty Images)

Outra complicação para o partido era que Jacinda não queria o cargo naquele momento. Vinda de uma família mórmon muito unida, sua ideia era ter o primeiro filho. Ela e Gayford estavam planejando procurar ajuda médica – algo que foi dito ao casal que seria necessário. Mas, apenas três semanas após sua vitória de virada nas eleições, eles descobriram que a natureza havia feito seu papel, e o bebê já estava a caminho. “Clarke e eu só rimos, porque não podia haver mais nada que tornasse meu ano ainda mais ocupado. Mas eu não sou a primeira mulher no mundo a realizar múltiplas tarefas.” Ela anunciou no Twitter que continuaria como primeira-ministra (após tirar seis semanas de licença-maternidade) e que Gayford assumiria as responsabilidades da casa e se tornaria “pai em tempo integral”. Os neozelandeses amaram a surpreendente notícia. Como um tweet que se espalhou na época, “esta é mais uma chance para Aotearoa mostrar ao mundo como o futuro pode ser” – Aotearoa significa Nova Zelândia em maori, língua nativa do país.

No dia de nosso encontro em Auckland, seguimos juntas para o campus do Unitec Institute of Technology, onde Jacinda era palestrante de um evento dedicado a mulheres na liderança. No caminho, um jovem estudante grita: “Sou um grande fã, Jacinda!”. Na faculdade, mais de 150 mulheres abordam a primeira-ministra pedindo uma selfie. No encontro, revela uma aspiração de infância: ser palhaça. “Tudo o que eu já pensei em fazer foi, de certa forma, com a intenção de ajudar as pessoas”, explica, lembrando a plateia de que ela é uma “garota do interior” e apenas a segunda em sua família a ir para a universidade. “Eu não pensava que seria primeira-ministra, nunca considerei isso antes. Mas esse é o poder de dizer sim, porque sempre haverá um momento em que alguém vai te pedir para fazer algo além de sua zona de conforto. Eu não sou a única.”

A Nova Zelândia já teve duas primeiras-ministras mulheres, mas nenhuma delas fez com que esse momento fosse tão contagiante quanto Jacinda, cujo slogan eleitoral dizia: Let’s do this! Ela toca em questões como pobreza e falta de moradia em seu país com uma mistura de franqueza e coragem. “A Jacinda se comunica com certo radicalismo que faz parte do zeitgeist atual”, diz Edwards, comentarista político do Herald. Ajuda muito que esse grito esteja partindo de uma casa de três quartos sem luxos. Também ajuda que a primeira-ministra, filha de um policial com uma funcionária de cantina escolar, tenha crescido ao sul de Auckland, na região de Waikato, que é de classe trabalhadora e conservadora. Em paralelo a seus empregos formais, seus pais cultivavam maçãs e peras para exportação. Ela ajudava a dirigir o trator,depois da escola.

A primeira-ministra iniciou sua caminhada rumo ao poder no ensino médio, quando se juntou ao Partido Trabalhista da Nova Zelândia aos 17 anos. Seu despertar para a política aconteceu graças à realidade que via em sua comunidade rural: dependência de drogas e álcool; amigos de escola que não tinham o que almoçar; vizinhos atingidos pela pobreza que cometeram suicídio. Foi, então, estudar política e relações públicas na Universidade de Waikato. Em 2008, aos 28 anos, foi eleita como a mais jovem membro do Parlamento da Nova Zelândia e tem sido considerada a estrela mais brilhante do Partido Trabalhista desde então. No entanto, às vezes ainda fala como uma outsider. “Eu poderia ter encontrado outras maneiras de satisfazer minha ambição, que não fosse ser primeira-ministra”, diz.