Caso Daniel: em áudios após o crime, Allana marca festa e fala de ressaca
Indiciada e presa sob suspeita de participação na morte do jogador da Daniel Corrêa, Allana Brittes, de 18 anos, teve uma conversa amistosa e aparentemente banal com um amigo, que também presenciou o espancamento na casa família Brittes, horas depois do crime.
Os prints e áudios de WhatsApp constam no inquérito policial entregue pela Polícia Civil do Paraná ao Ministério Público, que deve fazer a denúncia dos acusados até esta sexta-feira (23).
No diálogo, iniciado às 20h40 de 27 de outubro, cerca de 12 horas depois da morte do jogador, Allana e uma testemunha-chave do caso não comentam nada sobre o crime. A filha de Edison Brittes, o Juninho Riqueza, que dias depois confessaria ter matado Daniel após um "after party" em sua própria casa, fala sobre a ressaca depois de seu aniversário, ri e combina mais uma festa entre amigos.
Allana tenta convencer a testemunha a se encontrar com os pais, na presença de outros convidados. A intenção, segundo a polícia, era combinar uma versão para os fatos da madrugada anterior que eximisse os Brittes de qualquer culpa no assassinato de Daniel.
"Tô morrendo de sono e de ressaca kkkkkk", afirma a moça, em uma possível referência à quantidade de bebida alcoólica ingerida na noite anterior.
Na conversa, o amigo de Allana afirma que está em uma festa de aniversário e marca o encontro para o dia seguinte, o domingo do primeiro turno das eleições. Mas no dia 28 de outubro, ele volta a dizer que irá a um "churrasco da eleição". Segundo o advogado de defesa da testemunha, o rapaz tentava despistar Allana porque não queria encontrá-la nem a sua família.
"Chama os Purkote também", pede Allana, em referência aos irmãos gêmeos que estavam em sua casa no momento em que Daniel começou a ser espancado. O rapaz afirma que Eduardo Purkote, que depois seria preso sob suspeita de ter agredido o jogador, também está no churrasco.
"Os Purkote vão sair junto com você?", pergunta Allana. "Que horas você volta mais ou menos, você acha? Ou que horas, tipo, que dá um ar? Só pra gente conversar rapidinho."
O amigo pergunta, então, se Allana não conseguiria encontrá-los à tarde, mas ela pede para que o encontro seja à noite.
"Não tem problema, pode ser qualquer horário à noite. Qualquer horário, sendo hoje tá sussa. É... Tá bom meu amor?", diz a adolescente em áudio.
Allana pergunta duas vezes se o amigo consegue levar "os piás" para sua casa e por duas vezes pede para que o amigo mande sua localização pelo aplicativo, o que o rapaz não faz.
"Quero convidar vocês para a minha festinha da semana que vem", diz Allana. Em outro momento, a filha do casal Brittes dá risada quando o rapaz menciona o convite a uma amiga em comum dos dois.
Os jovens finalmente resolvem se encontrar na segunda, 29 de outubro, às 14h. Allana oferece para chamar um Uber de onde a testemunha estiver para a casa dos Brittes, mas o amigo a convence para que o encontro seja em um shopping center. "Não consegue ir ao shopping. Eu tenho um compromisso, aí não dá tempo", explica. "Tá bom pode ser", responde a filha de Juninho. Dias depois, ele diria à polícia que sentiu medo sobre o que poderia acontecer.
Após encontro, testemunha revela caso à polícia
Depois do encontro no shopping com Edison, Cristiana e Allana Brittes, o rapaz, cujo nome permanece em sigilo, foi à polícia para revelar tudo o que sabia sobre o espancamento de Daniel. Logo depois de falar com os investigadores, ele saiu do Paraná e deu uma entrevista à imprensa, se mostrando muito abalado e temendo por sua vida.
De acordo com ele, Juninho orientou os convidados da festa de Allana a mentirem sobre o que tinham visto na madrugada em que Daniel foi morto. Edison teria afirmado que se alguém rompesse o "elo", ele saberia.
A família Brittes e outros quatro rapazes, incluindo Eduardo Purkote, foram presos nos dias seguintes, suspeitos de envolvimento no assassinato de Daniel.
Allana foi indiciada por fraude processual e coação de testemunha e está em prisão temporária.