Saúde

Universo lúdico estimula adesão de crianças ao tratamento do HIV/AIDS

Equipe do Hospital Hélvio Auto iniciou nova abordagem com dez crianças com dificuldades no tratamento; duas já apresentam carga viral indetectável

Por Agência Alagoas 27/12/2018 15h03
Universo lúdico estimula adesão de crianças ao tratamento do HIV/AIDS
Crianças atendidas pelo HEHA: universo fantástico dos super-heróis é parceiro no enfrentamento do HIV/AIDS - Foto: Ana Paula Tenório

Ao identificar a dificuldade de adesão à terapia antirretroviral para HIV/AIDS, em algumas crianças acompanhadas pelo hospital, a equipe do Serviço de Assistência Especializada (SAE) do Hospital Escola Dr. Helvio Auto (HEHA), iniciou um trabalho que estimula a autonomia infantil por meio da inserção do imaginário lúdico na tomada da medicação.

Mesmo sendo um trabalho considerado de longo prazo, a equipe já começa a ver os resultados. As primeiras crianças que participaram do método já apresentam carga viral indetectável, que é quando a quantidade de vírus HIV na corrente sanguínea atinge níveis tão baixos que a probabilidade de transmissão, em alguns casos, fica abaixo dos 2% ou é considerada intransmissível.

A ideia do trabalho surgiu quando a assistente social do HEHA, Jaíze Costa, começou a identificar que algumas famílias tinham problemas para administração correta da medicação para HIV/AIDS em suas crianças, o que aumentava as chances de uma queda no sistema imunológico, abrindo as portas para as infecções oportunistas.

Como a abordagem das crianças deve ser diferenciada, em um dia normal de trabalho, ao tentar estimular uma mãe e uma criança na tomada correta da medicação, ela viu que em todas as consultas, o menino usava um boné do Capitão América, então surgiu a ideia de estimular a identificação das crianças com o lúdico, no caso, o universo dos super-heróis e heroínas e utilizar essa identificação para ajudar na adesão ao tratamento.

“Nós conversávamos com a mãe, para identificar qual personagem ou super-herói que a criança mais gostava, para que pudéssemos iniciar esse trabalho de parceria. Por exemplo, se uma criança gostava do homem-aranha, fazíamos um trabalho de estímulo com os bonecos, explorando os superpoderes. Realizávamos trocas amigáveis com a criança, para que no momento da tomada do remédio a criança utilizasse a empatia com o personagem para transformar aquele momento numa ocasião mais leve e divertida. Nós fazíamos um paralelo entre a história de vida da criança, e a história dos personagens, fortalecido por esse vínculo de identificação”, explicou Jaíze Costa.

Método

A princípio, dez crianças com dificuldades comprovadas de adesão ao tratamento, foram inseridas nesse método. Além de super-heróis e heroínas, personagens dos clássicos infantis, contos de fada, princesas, filmes e desenhos animados também foram inclusos. Um trabalho desse porte para indetecção da carga viral de uma criança, dependendo da capacidade de adesão da família, leva de 1 a 2 anos, pois a questão do vínculo familiar é preponderante para boa administração da medicação. No período de um ano, duas crianças já apresentam carga viral indetectável e outra, cuja carga viral, na primeira abordagem era de 132.658 cópias e passou a 355 cópias (a caminho da supressão).

A equipe do Hospital Helvio Auto também analisa o desempenho escolar dos pequenos por meio de relatórios solicitados às escolas, para avaliar a criança de forma generalista. Vale salientar que o trabalho foi feito em consonância com a equipe interdisciplinar, em especial, o Serviço Social, Pediatria e Farmácia.

Os trabalhos seguem com o restante do grupo com o mesmo intuito, baixar o índice de carga viral a níveis indetectáveis e conferir uma melhor qualidade de vida para as crianças e suas famílias.

“Podemos comprovar que o lúdico realmente facilita o acesso à criança e permite o estabelecimento de vínculo entre ela e o profissional, viabilizando uma conduta mais assertiva e leve diante de um terreno tão árido quanto este, de uma rotina de tomada de remédio diária, de acompanhamento multidisciplinar regular, de realização de exames, que é o desafio de conviver com o HIV na infância”, concluiu a assistente social Jaíze Costa.