Morre o cantor espanhol Camilo Sesto, aos 72 anos
O popular artista espanhol, com 40 discos lançados, meia centena de números um em vários países e mais de 100 milhões de cópias vendidas, faleceu na madrugada deste domingo
O cantor espanhol Camilo Sesto morreu neste domingo aos 72 anos, informou em sua conta oficial no Twitter e confirmou ao EL PAÍS seu representante Eduardo Guervos. “Lamentamos muito comunicar que nosso grande e querido artista Camilo Sesto acaba de nos deixar. Descanse em paz.” Camilo Sesto, nascido como Camilo Blanes em Alcoy, Alicante, em 1946, tinha lançado em novembro seu último disco, Camilo Sinfónico, que reúne muitos sucessos de seus mais de 50 anos de carreira musical.
saúde de Camilo, embora delicada, não fazia prever um desenlace fatal. O músico foi internado na Clínica Quirón, na localidade madrilenha de Pozuelo de Alarcón, no sábado, devido aos problemas renais, e sua morte foi anunciada no início da madrugada deste domingo. A Sociedade Espanhola de Autores e Editores de música decidiu instalar a capela-ardente em sua sede, e o velório será aberto ao público nesta segunda-feira.
O anúncio da morte do autor de Vivir Así es Morir de Amor provocou uma onda de condolências nas redes sociais, começando por políticos como o presidente do Governo espanhol em exercício, Pedro Sánchez, e o deputado Albert Rivera. Um reconhecimento que o cantor teria gostado de receber em vida. Vivia sozinho (costumava dizer que por decisão própria) e praticamente esquecido em seu chalé de Torrelodones (Madri), acompanhado apenas por suas lembranças que enchem paredes e estantes. Na Espanha, não conseguiu nem o Prêmio Nacional de Música, embora algumas de suas composições possam ser cantaroladas por três gerações de espanhóis. Já do outro lado do Atlântico, foi sempre um ídolo popular, com sua música tocando diariamente nas rádios e um público muito jovem entre seus fãs.
Depois de mais de 50 anos de carreira, mais de 40 produções discográficas, vários discos de platina, centenas de composições e mais de 100 milhões de discos vendidos no mundo todo, o músico decidiu se reinventar pela enésima vez em novembro do ano passado. Lançou, a título de despedia, um novo álbum, Camilo Sinfónico, onde reapresentou seus grandes e numerosos sucessos (a parte vocal foi tirada das cópias originais) com o acompanhamento de uma orquestra sinfônica, mas a única promoção que ele fez do álbum foi uma apresentação tão simbólica quanto fugaz, no madrilenho Florida Park. Tinha praticamente perdido sua voz e se movia com dificuldade.
Cantor, compositor e produtor musical, suas obras cobrem gêneros como balada, pop e rock. Seu primeiro sucesso veio em 1970, quando lançou o álbum Algo de Mí, que alcançou rapidamente o primeiro lugar, e desde então não parou. Sua grande capacidade criativa foi demonstrada durante as décadas de setenta e oitenta, nas quais chegou a lançar um disco por ano. Essa intensidade criativa foi acompanhada por inúmeras turnês por todos os países ibero-americanos, e também pelos EUA (Nova York, Califórnia e Flórida) e Japão.
Camilo estava à frente de seu tempo. Foi precursor dos musicais na Espanha quando montou e produziu, em 1975, a ópera rock Jesus Christ Superstar, na qual interpretava o próprio Jesus Cristo, com Ángela Carrasco como Maria Madalena e Teddy Batista como Judas. O musical causou muitos problemas e foi muito contestado por católicos exaltados, mas o Rei do Amor, como era chamado, demonstrou que sua voz alcançava qualquer registro e que tinha a simpatia do público. Em dezembro, em sua casa, onde guardava em uma vitrine a túnica e as sandálias de couro que usou na obra, contou, durante uma entrevista ao EL PAÍS, que graças a Jesus Christ Superstar pôde romper o mito do “Camilito bonito” que seus críticos usavam para atacá-lo. Também compôs canções para outros artistas, como Miguel Bosé − cujo primeiro disco também foi produzido por Camilo Sesto − e David Bustamante.
Sua relação com as mulheres foi, no mínimo, estranha. Mal se soube de seus romances. “Apareceram muitos personagens, mas nenhum me fez mudar de ideia”, dizia sobre o matrimônio. Não teria suportado a vida de casado. “É assim que eu quero que seja: o palco e uma porta dos fundos com o carro ligado, e quando o público ainda estiver pedindo outra, eu já estarei no hotel. Se eu quiser que alguém esteja lá, já terei avisado.” Ele sempre foi uma pessoa solitária, que parecia ter alergia às fãs enlouquecidas. Em 1983, nasceu seu filho Camilo Míchel, fruto de uma relação com a mexicana Lourdes Ornellas. Três anos mais tarde, escreveu sua autobiografia e decidiu se aposentar voluntariamente dos palcos: “Saio porque quero envelhecer vendo meu filho crescer”, declarou. Voltou à música no início dos anos noventa, mas não conseguiu repetir seu sucesso.
Dotado de voz aguda, dicção perfeita dicção e ampla tessitura, suas canções falam de amor e de desamor, mas também de felicidade e alegria. Mestre da interpretação, vivia suas composições intensamente com tons desolados, mas também esperançados, alegres e festivos. Durante sua carreira, foi se adaptando aos novos tempos e passando das grandes orquestrações e utilização de coros femininos para ritmos mais vivos, com instrumentações mais tecnológicas.
Dono de um enorme repertório próprio, muito poucas vezes fez versões de canções alheias. Foi pródigo em duetos com cantoras como Ángela Carrasco, Lani Hall, Alasca, Isabel Patton, Rocío Dúrcal e Marta Sánchez. Seu repertório inclui temas inesquecíveis, mas sua canção Vivir Así es Morir de Amor transcendeu três gerações e é uma das mais pedidas nos caraoquês.
Seu público é majoritariamente feminino e se manteve fiel ao longo de três gerações, apesar da variedade de gêneros musicais com os quais teve de concorrer ao longo de sua extensa carreira: rock, pop anglo-saxão, música disco, a movida espanhola, glam, punk, soul, new age, grunge e world music.