Pesquisador da Ufal alerta para o impacto das manchas de petróleo no litoral
Em Alagoas, 10 municípios e 15 praias foram atingidos até agora e as manchas podem chegar ao Rio São Francisco
Pesquisador da vida marítima, com participação em expedição oceanográfica internacional, o professor Cláudio Sampaio, responsável pelo Laboratório de Ictiologia e Conservação do Campus Arapiraca, coordenador do Projeto Meros do Brasil em Alagoas e professor de Engenharia de Pesca da Unidade de Penedo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), está bastante preocupado com o impacto das manchas de petróleo detectadas no litoral nordestino.
Segundo o pesquisador, o petróleo foi encontrado em todos os estados do Nordeste, em mais de 135 localidades. Só em Alagoas, cerca de 10 municípios e 15 praias já foram atingidos. “A sociedade ainda não se deu conta da tragédia que está acontecendo em nossas praias e suas consequências. Apesar dos impactos negativos e grandes prejuízos à economia e ao ambiente, pouco se sabe sobre a origem desse petróleo”, questiona Cláudio Sampaio.
Para uma região em que o Turismo é uma das principais atividades econômicas, a reação ao trágico incidente não está à altura dos grandes impactos negativos para a economia e meio ambiente que o petróleo espalhado no litoral pode causar. “Essa é uma região de grande beleza cênica e onde o turismo e a pesca artesanal são muito importantes, gerando bastante preocupação pelos prejuízos sócio-econômicos e ambientais, pois boa parte dos moradores desses municípios vivem, direta ou indiretamente, destas atividades”, ressalta o professor.
Cláudio Sampaio avalia que os animais como corais, peixes, aves, peixes-boi e tartarugas marinhas são vítimas em potencial e estão criticamente ameaçados. “Pois além do impacto direto do óleo em seu corpo, o seu habitat e a alimentação estão comprometidos.Nas proximidades da foz do rio São Francisco foram detectadas grandes faixas de praias com óleo, tanto do lado sergipano, quanto alagoano, no Pontal do Peba, Piaçabuçu. Esse óleo pode entrar na região do estuário do rio São Francisco, através das movimentações das marés e ventos, aumentando ainda mais esse desastre”, alerta o pesquisador.
Os recifes de corais são as principais atrações turísticas do Estado e são responsáveis pela produção de alimento (peixes, crustáceos e moluscos), proteção da linha da costa e geração de emprego por meio do turismo. “Os corais são animais fixos e durante a baixa mar são facilmente contaminados e sufocados pelo óleo, matando não apenas os corais, mais muitos animais que dependem dos recifes para alimentação, proteção e local de reprodução”, explica Cláudio Sampaio.
O professor informa que as primeiras análises indicam um petróleo distinto daquele produzido no Brasil, sugerindo um grande vazamento em alto mar, sendo esse material transportado para as praias pela ação dos ventos e correntes marinhas, mas antes de alcançar as praias, podem contaminar muitas espécies marinhas, comprometendo a navegação de pequenas embarcações e estragando equipamentos de pesca, como redes e boias.
Cláudio alerta também para os riscos às pessoas. “Tudo indica que este óleo seja petróleo cru, sem qualquer processamento, então seu contato deve ser evitado devido a possibilidade de reações alérgicas. Ao perceber manchas de óleo no mar ou praias, avise ao órgãos competentes como o Ibama e o Ima”, orienta o professor.
Sobre os animais marinhos atingidos pelo óleo, o professor orienta que eles sejam abrigados do sol, enquanto o Ibama é acionado urgentemente. “Não tente limpar ou devolver ao mar qualquer animal encontrado sujo de óleo.Para agravar a situação, estamos no período migratório de aves e reprodutivo de tartarugas marinha, onde o litoral sul de Alagoas e Norte de Sergipe são as principais áreas de desova da tartaruga oliva no Atlântico Sul”, lamenta Cláudio Sampaio.
A rede de conservação de tartarugas marinhas (Retamane), a qual a Ufal e o Instituto Biota fazem parte, representando Alagoas, também está monitorando e contribuindo com o resgate de animais oleados e esclarecimentos a sociedade. “As tartarugas podem ser oleadas na superfície do mar, quando sobem para respirar, quando comem alimento contaminado, ou quando chegam à praia para depositar seus ovos. Os filhotes, ao buscar o mar depois do nascimento, também podem entrar em contato com o óleo nas praias”, alerta Sampaio.
Apesar da grande preocupação com mais essa tragédia, Cláudio Sampaio lembra que os problemas ambientais já eram graves. “Os animais marinhos já sofrem com inúmeros impactos humanos como a poluição por esgotos e resíduos sólidos, capturas acidentais, mudanças climáticas e turismo desordenado. Os prejuízos causados pelo impacto severo do óleo são difíceis de estimar, pois muitos desses animais possuem crescimento lento, reprodução tardia, baixo número de indivíduos adultos, fazendo com que a recuperação dessas espécies seja mais difícil”, ressalta o pesquisador.
O pesquisador destaca que há algumas iniciativas de Universidades públicas, fundações, Ongs e órgãos estaduais de meio ambiente, que buscam detectar a origem desse petróleo no mar, utilizando imagens de satélites, modelagem de correntes marinhas e a atualização dos dados de chegada de óleo na praia. “É fundamental, então, caso alguém registre óleo ou animais oleados, vivos ou mortos, avisar ao Ibama e ao Ima com urgência. A Unidade Penedo está em constante comunicação com pescadores, gestores públicos e pesquisadores, buscando colaborar com essa que é a maior tragédia com derramamento de óleo na região”, informa Cláudio.
Cláudio Sampaio esteve, no domingo (6), acompanhando a remoção de petróleo da Praia do Pontal do Peba (Piaçabuçu) e realizando uma navegação de 4 horas e meia. “Navegamos até a foz do rio São Francisco, passando pelos bancos de camarão, registrando a fauna (aves migratórias e residentes), botos cinza e até uma tartaruga morta, sem sinais de óleo. Encontramos apenas pequenas manchas de óleo próximas da praia do Peba e muito lixo flutuante. Uma ave, andorinha do mar, foi observada suja de óleo, mas estava voando e não foi possível fazer seu registro fotográfico”, relata o professor da Ufal.
Cláudio Sampaio destaca a mobilização dos pesquisadores das Universidades Públicas Federais para colaborar com a busca de soluções para esse lamentável vazamento de petróleo. “É digno de nota o envolvimento das universidades públicas, programas de pós-graduação, integrantes de projetos de pesquisa e extensão e Ongs, que tão logo registraram os primeiros sinais de derramamento desse óleo, passaram a monitorar e a sensibilizar a sociedade, na tentativa de amenizar os danos dessa tragédia”, concluiu o pesquisador.
Telefone do Ibama em Alagoas: 2122-8300
Telefone e Whatsapp do IMA (82) 98833-9397