FHC: "Huck vai deixar de ser celebridade e ser líder?"
Tucano afirma que apresentador precisa começar a exercer liderança

No momento em que lança o quarto e último volume de seus Diários da Presidência, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) assiste com ceticismo às articulações de Luciano Huck para as eleições de 2022. Em entrevista ao Estado, FHC diz que o apresentador precisa ser líder, e não uma celebridade. "É preciso ver se Huck vai deixar de ser celebridade para ser líder", afirmou.
Em 2018, FHC mostrou simpatia pela ideia de que Huck saísse como candidato e quebrasse a polarização entre Bolsonaro e PT, mas o apresentador desistiu de disputar. Geraldo Alckmin, que contou com uma coalizão de centro, teve só 4,76% dos votos.
1. O sr. fala no livro sobre excessos dos procuradores. Vê semelhanças entre abusos da época com supostos abusos da Lava Jato?
Não sei se há paralelo. O que estão tomando como abuso da Lava Jato: a interceptação telefônica. No telefone você fala com naturalidade. E as pessoas trabalham juntas, o procurador e o juiz. É provável que na Lava Jato haja também, como houve no passado, uma visão política. No passado, no meu tempo, era uma visão contra o governo e pró-PT, basicamente. Na Lava Jato pode ter havido uma visão política. Mas o juiz quando julga tem fatos. Não dá para dizer que contaminou todo o processo.
2. Compartilha da mesma opinião do senador Aloysio Nunes?
Tem que separar bem. Houve alguma coisa específica que incidiu sobre a decisão? Aí tem que rever. Mas se a decisão está embasada em fatos, então não tem sentido. São fatos. Posso não me conformar, por exemplo, com o caso do Eduardo Azeredo. Acho um absurdo. Foi condenado a mais de 20 anos por uma coisa que me parece que ele não tinha responsabilidade direta.
3. Vê abuso na Lava Jato?
Não sei dizer. Na média a Lava Jato foi positiva. Colocou na cadeia ricos e poderosos que nunca iam presos. Não gosto de ver gente na cadeia, não tenho satisfação. Mas não posso deixar de reconhecer que a Lava Jato foi uma reação à corrupção do sistema democrático.
4. No livro, o sr. fala que o Brasil poderia pagar um alto preço pela eleição do Lula. O preço seria o governo Bolsonaro?
Para o meu gosto, os dois são um preço alto. Mas que eu saiba, não teve nada no governo Bolsonaro até agora que tivesse sido contra a lei. Não votei no Bolsonaro e não apoio o governo, mas é preciso ter equilíbrio nessas coisas. Há liberdade, imprensa livre, Justiça e Congresso funcionando. Outra coisa é discordar das medidas que são tomadas. Não vejo que o governo Bolsonaro tenha incorrido em alguma coisa que fosse crime, contra a lei.
5. E a suspeita de "rachadinha" no gabinete de Flávio Bolsonaro e a suposta proximidade com milícias?
Mas isso não é ele. Não posso condenar o presidente por sua família. Tem que ver caso a caso. Me parece suspeito que alguém que ligado a Presidência da República tenha ligações com milícias.
6. Em 2018, o PSDB teve o pior resultado de sua história e hoje se fala em 'novo PSDB'. Onde o partido errou e o que acha do discurso do governador João Doria de um novo PSDB, mais conservador?
Não foi o PSDB só. O sistema político que nós montamos na Carta de 1988 está de desmilinguido. O exemplo mais óbvio disso é que o partido majoritário hoje - chama-se PSL - está brigando entre si agora e tem só 54 deputados. Na Câmara, tem 513. É uma proporção pequena.
7. O PSDB não errou então?
Todos erraram. Vou dar um exemplo simples: o PSDB nunca aceitou a realidade contemporânea, que é a internet. Quer organizar um movimento ou um partido como? Com reuniões físicas? Isso é uma coisa antiga.
8. O que acha dos expurgos que governador Doria está fazendo no PSDB?
Sou contra expulsão a menos que a pessoa seja condenada.
9. Em 2002, disse que Lula não estava preparado para ser presidente. Acha que Bolsonaro está?
Estava errado no caso do Lula, não quero fazer a mesma coisa com o Bolsonaro. O que Lula fez que outros não conseguiram? Formar uma maioria, explicar ao País para onde é que vai.
10. Lula é um preso político?
Não, eu não acho. Pode ter motivação contra ele, inclusive por juízes, mas não é por isso que ele é condenado. É condenado por fatos.
11. Há um movimento que busca um candidato de centro para evitar os extremos. Luciano Huck poderia ser esse nome?
Eventualmente sim, mas o que significa isso? Significa que a pessoa tem que exercer a liderança política. Sou amigo do Luciano, etc. Agora, preciso ver se ele vai deixar de ser celebridade para ser líder. Celebridade é uma coisa importante, tem acesso ao povo, mas líder é outra coisa. Se ele fizer esse passo, ele tem chance. Às vezes pessoas são eleitas sem ter essa qualidade, chegam ao governo e não governam. Ou governam com dificuldade.
Veja também
Últimas notícias

Unidade Trapiche do Hemoal Maceió funciona em horário reduzido neste sábado (15)

Juizados da Mulher da Capital e de Arapiraca analisam 256 processos de violência doméstica

Motociclista fica gravemente ferido após colidir contra poste na Mangabeiras

Unidade do Hemocentro de Arapiraca tem nova gerente

Mãe denuncia negligência médica após perder bebê em hospital de Maceió

Delmiro Gouveia recebe projeto “Pianusco - Som das Águas” neste sábado
Vídeos e noticias mais lidas

Alvo da PF por desvio de recursos da merenda, ex-primeira dama concede entrevista como ‘especialista’ em educação

12 mil professores devem receber rateio do Fundeb nesta sexta-feira

Filho de vereador é suspeito de executar jovem durante festa na zona rural de Batalha

Marido e mulher são executados durante caminhada, em Limoeiro de Anadia
