Cerca de 800 vítimas de violência sexual são atendidas na Saúde em um ano
Desse total, 91% são do sexo feminino e 79% na faixa etária infanto-juvenil
No primeiro ano de funcionamento, a Rede de Atenção às Vítimas de Violência Sexual (RAVVS) atendeu 795 pessoas, sendo 91% do sexo feminino e 79% correspondente à faixa etária infanto-juvenil. O balanço anual foi apresentado aos integrantes dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário durante encontro realizado no último dia 15, no auditório do Hospital da Mulher, no bairro Poço, em Maceió.
Além de os atendimentos realizados pela RAVVS, ao longo do primeiro ano de funcionamento do serviço foram realizadas 38 capacitações, 3.697 pessoas foram treinadas e quatro campanhas de conscientização foram promovidas (Maio Laranja, Lei do Minuto Seguinte, 12º Fórum de Desenvolvimento Regional e Seminário de Divulgação da RAVVS).
E além dos serviços de atendimento implantados na Maternidade Escola Santa Mônica, Hospital Geral do Estado (HGE), Hospital Ib Gatto Falcão, sede da RAVVS, e no Hospital da Mulher, por meio da Área Lilás, o serviço foi descentralizado para a II Macrorregião de Saúde. Com isso, através de um núcleo de assistência no Hospital de Emergência do Agreste, em Arapiraca, os moradores de 46 municípios do Agreste, Sertão e Baixo São Francisco também passaram a receber atendimento especializado.
Segundo a coordenadora da RAVVS, Camile Wanderley, a Área Lilás do Hospital da Mulher proporciona atendimento integrado da saúde e segurança pública, cujo objetivo é assistir à vítima de violência sexual de forma acolhedora, rápida e eficaz. O espaço conta com uma equipe multiprofissional capacitada para realizar o atendimento humanizado, por meio de psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, ginecologistas, pediatras, médicos peritos e policiais civis, promovendo a assistência em um único espaço.
Desde que foi inaugurada até o último dia 15 a Área Lilás do Hospital da Mulher acolheu 14 vítimas de violência sexual, com profissionais conseguindo fazer todos os procedimentos necessários ao atendimento dos pacientes em apenas três horas. Entre as vítimas, sete tinham menos de 12 anos de idade e as outras sete tinham acima de 13 anos.
“Todas essas conquistas só foram possíveis devido às pessoas que compõem a RAVVS, pois elas vestem a camisa, são comprometidas, estudam e procuram, sobretudo, entender o assunto. Graças ao modelo de gestão ágil e eficaz que utilizamos, chamado Scrum, conseguimos dinamizar o nosso processo de trabalho”, disse Camile Wanderley.
A coordenadora da RAVVS frisou, ainda, que lidar com as vítimas de violência sexual requer muita atenção e sensibilidade. Isso porque o público infanto-juvenil é o de maior vulnerabilidade, o que acaba deixando sequelas, não só físicas, mas também psicológicas.
“É um tipo de violência que deixa marcas profundas, pois é um ser humano que está em pleno desenvolvimento natural. Para conseguirmos com que essa criança passe pelo seu processo de desenvolvimento de forma menos comprometida, por conta dessa violência, é preciso reestruturar a família e trabalhar o espaço escolar, para que ela possa ser novamente inserida na sociedade, sem revitimizá-la, que, a meu ver, é o mais importante”, ressaltou.
Plano de Enfrentamento – Os próximos passos da RAVVS, conforme Camile Wanderley, é construir um Plano de Enfrentamento da Violência Sexual no estado, cujo intuito é que possam ser abertas novas portas para melhorar o fluxo de atendimento da I e II Macrorregiões de Saúde. Isso vai ser possível com a construção do Hospital Metropolitano, no Tabuleiro do Martins, o Regional do Norte, em Porto Calvo, o Regional da Mata, em União dos Palmares, e o Regional do Alto Sertão, em Delmiro Gouveia.
Em trabalho conjunto com o Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ-AL), a RAVVS vai estruturar espaços integrados, que vão atender mulheres e crianças na capital. Além disso, Camile Wanderley destacou que algumas prefeituras já estão sinalizando a vontade de inserir a RAVVS nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs). A equipe da rede também pretende capacitar ainda mais profissionais de saúde e fazer todo o projeto de promoção junto à Secretaria de Estado da Educação (Seduc).
“A equipe inteira acredita que, por meio da educação e da promoção da saúde, vamos garantir um número diferenciado do que vem sendo evidenciado, fazendo, inclusive, com que muitos casos que ainda não foram denunciados venham à tona para que possamos neutralizar essa violência e dar o melhor suporte às vítimas”, concluiu a coordenadora da RAVVS.
Presente ao evento, a deputada estadual Ângela Garrote destacou a importância da RAVVS. “A Assembleia Legislativa está à disposição de todos. Uma situação que me deixa inconformada é quando vemos os dados da violência contra a mulher que estão acontecendo pelo Brasil afora. Como procuradora da mulher na Assembleia, juntamente com a bancada feminina, saibam que estamos atentas no que está acontecendo em Alagoas. Estamos de mãos dadas para fazermos o melhor para todas as vítimas de violência sexual no Estado”, garantiu.
Para o advogado Pedro Montenegro, do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cedeca) Zumbi dos Palmares, a ampliação da RAVVS para o Hospital da Mulher está contribuindo, ainda mais, para assistência qualificada e humanizada a todas as vítimas de violência sexual. Isso porque, o abuso sexual da criança ou do adolescente é, muitas vezes, feito em casa, com o próprio pai ou padrasto da vítima, e nem sempre a mãe percebe.
“É um crime perverso, sobretudo quando se trata de crianças e adolescentes. Existe todo um cuidado, preocupação e uma motivação de toda a equipe que compõe a RAVVS. Por isso, nós, do Cedeca, estamos aqui para não só parabenizar, como também continuar dando o nosso restrito apoio a uma iniciativa tão importante quanto essa”, disse.
A proposta da Área Lilás, de acordo com diretora-geral do Hospital da Mulher, Eliza Babosa, é manter integridade das vítimas e gerar um bem-estar, já que são atendidas separadamente das pessoas que chegam à unidade hospitalar. "É um ambiente humanizado, acolhedor e confortável, necessário para receber vítimas dessa natureza. O agressor muitas vezes faz parte do convívio familiar. A pessoa sente vergonha, então ela precisa ter um atendimento diferenciado para esse tipo de situação. É uma iniciativa pioneira no Estado", explicou.
Além de Camile Wanderley, Ângela Garrote, Pedro Montenegro e Eliza Barbosa, participaram do evento o secretário executivo de Ações de Saúde, Paulo Teixeira, representando o gestor da pasta estadual, Alexandre Ayres; a deputada Jó Pereira; o secretário executivo de Políticas da Segurança Pública, Manoel Acácio Júnior; e a chefe de gabinete da Sesau, Magda Omena. Além deles, estiveram presentes na reunião, representantes dos Conselhos Tutelares, do Hospital Ib Gatto Falcão, da Superintendência de Atenção à Saúde da Sesau (Suas), da Secretaria de Segurança Pública de Alagoas (SSP) e da Secretaria de Estado de Prevenção à Violência (Seprev).