Profissionais podem responder por homicídio por deixarem morador de rua morrer na calçada
Morador de rua morreu com uma nota de R$ 2 na mão
A linha de investigação da polícia a respeito da morte do morador de rua, identificado até agora apenas como Anderson, na calçada do CER (Coordenação de Emergência Regional) Centro, na Rua Frei Caneca, pode mudar de vilipêndio a cadáver para homicídio qualificado, caso fique comprovado que a vítima foi retirada com vida da unidade hospitalar da prefeitura. A informação é do delegado Rodolfo Waldeck, titular da 4ª DP, que investiga o caso. Nesta quinta-feira, foram divulgadas imagens de câmera de segurança em mostra o morador de rua, que morreu em frente à emergência, sendo deixado na calçada do CER de cadeira de rodas.
O delegado está à procura de informações que confirmem as denúncias de que o homem estava vivo quando foi colocado para fora da CER. Waldeck aguarda o resultado da perícia do Instituto Médico-Legal (IML) para saber a causa da morte e a identificação da vítima.
— Estamos investigando. Entre várias providências, iremos realizar as oitivas dos envolvidos. Por ora, estamos investigando, inicialmente, um delito de vilipêndio a cadáver. Poderá haver outros — disse o delegado.
As imagens de uma câmera de segurança, obtidas pelo GLOBO com exclusividade, podem ajudar na investigação da polícia. O vídeo mostra que o morador de rua foi carregado por dois homens de terno e gravata, a mesma roupa de todos os seguranças do local, por volta das 5h de quinta-feira. O homem foi deixado na calçada. É possível ver ainda que uma das pessoas chega a vomitar próximo ao morador de rua após deixá-lo. Segundos depois, os dois retornam levando a cadeira de rodas vazia.
Morador de rua morreu com uma nota de R$ 2 na mão
— Ele morreu segurando uma nota de R$ 2 que alguém deu a ele por pena. Na noite de quarta-feira, ele se agarrou às grades da parte da frente da CER e gemeu de dor. Parecia que alguma coisa dentro dele havia estourado – contou uma testemunha.
Um morador de rua, que conhecia a vítima há cerca de dois meses, contou já ter, por várias vezes, recomendado ao homem que suspendesse o uso de drogas.
— Ele gostava de fumar crack e de beber cachaça. Ia até o CER quando estava com dor, era tratado, ficava bom e voltava para a rua para fumar e beber. Eu já o orientei várias vezes para dar um tempo no uso de drogas. Até, pelo menos, ficar bem de vez. Mas ele não me dava ouvido – disse o homem.
Na manhã desta sexta-feira, o delegado Rodolfo Waldeck informou que, inicialmente, o caso seria tratado como vilipêndio a cadáver (vilipendiar é desprezar ou menosprezar algo, alguém ou alguma coisa). O delito está previsto no artigo 212 do Código Penal e prevê pena de um a três anos e multa. Caso se comprove a denúncia, a tese do crime poderá mudar para homicídio qualificado, que prevê penas de 12 a 30 anos de prisão.
Waldeck ressaltou, no entanto, que vai tomar o depoimento de todos os envolvidos e que outros crimes poderão surgir a partir daí. O delegado afirmou ainda que as imagens podem configurar provas de outros delitos.
Anderson já tinha buscado atendimento no CER outras vezes
Um profissional de Saúde do CER Centro disse que o prenome da vítima é Anderson. Na terça-feira, uma equipe do jornal encontrou a vítima deitada neste local sobre um banco de pedra. O homem estava coberto por um lençol e gemia de dor. Um repórter tentou conversar, mas ele não conseguia falar tamanha a dor que sentia.
A pessoas conhecidas, Anderson dizia que costumava ir muito à Mangueira. Uma equipe de reportagem esteve na região nesta sexta-feira, mas não encontrou alguém que o conhecesse por foto, nem mesmo na cracolândia embaixo do viaduto da Mangueira.