Política

Presença de Bolsonaro provoca aglomeração em frente ao Palácio do Planalto

Presidente deixou residência oficial e foi à sede do Executivo, onde conversou com apoiadores. Ele voltou criticar isolamento contra o coronavírus e defendeu reabertura do comércio

Por G1 18/04/2020 19h07
Presença de Bolsonaro provoca aglomeração em frente ao Palácio do Planalto
Apoiadores de Bolsonaro se aglomeram para acenar ao presidente neste sábado (18) - Foto: G1

A presença do presidente Jair Bolsonaro voltou a provocar aglomeração de apoiadores em frente ao Palácio do Planalto na tarde deste sábado (18).

De acordo com a Organização Mundial de Saúde e especialistas, aglomerações facilitam a propagação do novo coronavírus. Para conter a disseminação do vírus, a recomendação é o isolamento social. Segundo dados das secretarias estaduais de Saúde, o Brasil acumula 2.203 mortos e mais de 35 mil casos confirmados da covid-19, doença provocada pelo coronavírus.

Por volta das 15h, o presidente deixou o Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência, onde mora com a família, e se deslocou até a sede do Poder Executivo.

Ele permaneceu durante cerca de 50 minutos no alto da rampa do Palácio do Planalto conversando com seguranças e acenando para um pequeno grupo que estava junto à grade. Questionado por jornalistas se teria algum compromisso no local, disse que foi ao Planalto para "ver o movimento".

Enquanto Bolsonaro observava a Praça dos Três Poderes, apoiadores começaram a se aglomerar em frente ao Palácio do Planalto.

Passados os 50 minutos, o presidente desceu a rampa e foi em direção ao grupo, já bem mais numeroso. Eram manifestantes que gritavam palavras de ordem contra o aborto e que se posicionaram atrás da grade de proteção do palácio. Algumas pessoas usavam máscaras, mas a maioria estava sem a proteção.

Separado pelas grades, Bolsonaro falou aos apoiadores e fez críticas às medidas de isolamento social adotadas por governadores e prefeitos que determinaram o fechamento do comércio.

O presidente afirmou que as ações provocam efeitos negativos na economia, citou a situação de trabalhadores informais e declarou que "milhões" de pessoas já perderam empregos com carteira assinada.

Bolsonaro afirmou que, como a economia não está girando, "vai faltar dinheiro" para pagar o funcionalismo público.

Sem citar nomes, o presidente disse não querer acreditar que as medidas de isolamento sejam parte da vontade de "políticos" que, segundo ele, querem "abalar a Presidência da República".

"Não vão me tirar daqui, tenho certeza", disse. Nesse momento, apoiadores começaram a gritar palavras de ordem contra o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

O presidente voltou a dizer que a abertura do comércio não depende dele, mas de governadores e prefeitos. "Se dependesse de mim, muito mais coisa estaria funcionando", declarou.

Bolsonaro lembrou recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que diz que estados e municípios têm poder para definir regras de isolamento.

Opositor das medidas de distanciamento social, Bolsonaro tem contrariado reiteradamente as recomendações de médicos e especialistas. Ele já compareceu a feiras, farmácia, manifestação e padaria, atitudes que também geraram aglomerações.

Em 15 de março, Bolsonaro participou de uma manifestação em Brasília. Em 29 de março, circulou pela cidade e visitou o comércio. No último dia 9, abraçou pessoas em uma padaria. No dia seguinte, foi a hospital, farmácia e conversou com apoiadores – chegou a limpar o nariz com o braço e em seguida cumprimentar uma mulher.

No dia 11, também fez fotos e abraçou apoiadores durante visita à obra de um hospital de campanha federal em Águas Lindas (GO) na companhia do então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e do governador Ronaldo Caiado (DEM). Essas atitudes provocaram divergências com Mandetta, defensor do isolamento social e demitido por esse motivo. Na cerimônia de posse do novo ministro da Saúde, Nelson Teich, no Palácio do Planalto, Bolsonaro também ignorou as orientações de distanciamento social ao cumprimentar e abraçar autoridades.