Sistemas de saúde de São Paulo, Rio, Manaus e Fortaleza estão perto de entrar em colapso
UTIs lotadas, hospitais sem vagas e contêiner frigorífico para armazenar corpos são realidades mostram avanço da covid-19
O avanço da pandemia de coronavírus (Sars-CoV-2) nos últimos dias intensificou a pressão sobre o sistema de saúde de capitais pelo país. A situação agravou-se, sobretudo, naquelas que concentram o maior número de mortos pela doença Covid-19:
- São Paulo (mais de 600 mortes confirmadas) – nesta sexta-feira (17), ao menos cinco hospitais operavam com a capacidade total de atendimento nas UTIs, sendo um deles o Emílio Ribas, referência no tratamento de doenças infectocontagiosas;
- Rio (mais de 220 mortes) – as quatro principais emergências do Rio não têm mais vagas de UTI disponíveis;
- Manaus (mais de 120 mortes) – diante da falta de espaço para armazenar corpos de pacientes que morreram em um hospital da cidade, um contêiner frigorífico foi instalado para armazenar cadáveres;
- Fortaleza (mais de 110 mortes)– entre segunda-feira (13) e terça-feira (14), no período de 24 horas, aumentou de 38 para 73 o número de internações por Covid-19 em UTIs; também dobraram as internações com uso de ventilação mecânica.
Além disso, diante do crescimento vertiginoso dos casos no Maranhão, a rede pública de São Luís tem ocupação de 90% dos leitos clínicos exclusivos para Covid-19.
O balanço mais recente sobre os casos de coronavírus no Brasil divulgado pelo Ministério da Saúde mostrou os seguintes dados:
- 2.141 mortes – na quinta eram 1.924 (aumento de 11,2%)
- 33.682 casos – na quinta eram 30.425 (aumento de 10,7%)
- em sete dias, foram registradas 1.024 mortes adicionais (aumento de 90,4%)
Nesta sexta, São Paulo tinha cinco hospitais operando com a capacidade total de atendimento nas UTIs. Uma dessas unidades é o Emílio Ribas, referência no tratamento de doenças infectocontagiosas. O hospital está com 100% dos leitos ocupados e, mesmo assim, recebe mais de 100 solicitações de internações por dia. Os leitos do Emílio Ribas são ocupados por pacientes que têm entre 22 e 78 anos – a maior parte deles tem mais de 65.
O comando da UTI do Emílio Ribas é do médico intensivista Jacques Sztajnbok, que acumula quase três décadas de hospital. Ele já enfrentou outras epidemias, como a do sarampo, febre amarela e H1N1, mas diz que a crise do coronavírus é diferente. Segundo Sztajnbok, com as UTIs lotadas, surge vaga apenas quando alguém tem alta ou morre. Ele diz ficar preocupado com o destino dos pacientes recusados pelo hospital: "É claro [a situação desses pacientes] nos toca, porque fica aquela preocupação sobre que destino teve o paciente a gente disse não".
Já na Zona Leste de São Paulo, quatro hospitais municipais estão sem vagas nas UTIs para casos graves: Tide Setúbal, Cidade Tiradentes, Ermelino Matarazzo e Doutor Inácio Proença de Gouveia. No Hospital das Clínicas, que é ligado à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, mais de 80% das vagas de UTI também já estão ocupadas.
O governo do estado diz que tem um sistema para aproveitar melhor as vagas e que pacientes da capital podem ser transferidos para o interior. A Secretaria de Saúde também estuda como usar vagas dos hospitais particulares para atender pacientes do SUS.
Rio de Janeiro
As principais emergências do Rio não têm vagas disponíveis. Os hospitais Albert Schweitzer, Salgado Filho, Souza Aguiar e Miguel Couto estão com 117 leitos de UTI ocupados. No hospital Ronaldo Gazolla, referência no combate à Covid-19, dos 55 leitos disponíveis, só dois estão livres, – mas poderão ser ocupados apenas por quem já estiver na unidade.
Nesta quinta-feira (16), a ocupação do hospital já havia superado 90%. A prefeitura prometeu inaugurar mais dez leitos de UTI ainda nesta sexta.
Nos hospitais Carlos Chagas e Getúlio Vargas, da rede estadual, a situação é ainda pior. Todos os leitos estão ocupados. O quadro se repete no Instituto do Cérebro e no hospital de Anchieta, na Zona Norte da cidade: são mais 81 vagas ocupadas.No hospital Universitário Pedro Ernesto, apenas quatro dos 19 leitos estão disponíveis. Assim como no hospital Ronaldo Gazolla, só poderão ser ocupados por quem já está na unidade.
Manaus
Depois que um vídeo mostrou nesta quinta corpos de mortos com suspeita de Covid-19 espalhados por macas ao lado de pacientes vivos e internados no Hospital e Pronto-Socorro João Lúcio, em Manaus, um contêiner frigorífico foi instalado no local na madrugada desta sexta-feira (17). O objetivo é dar apoio na estrutura de armazenagem cadáveres na unidade de saúde, que sofre com falta de espaço. O Governo do Amazonas diz que a câmara vai acondicionar corpos de mortos por Covid-19.
Por volta das 10h30 desta sexta, a Secretaria de Comunicação (Secom-AM) informou que todos os corpos já haviam sido retirados do hospital. Oito deles foram colocados dentro da câmara fria.
O João Lúcio não foi o primeiro hospital a receber a instalação de câmara frigorífica. O Hospital Delphina Aziz, centro de referência para tratamento do coronavírus em Manaus, instalou uma câmara no estacionamento no início do mês. À época, o Amazonas ainda tinha 12 mortes confirmadas.
Fortaleza
Entre segunda e terça-feira desta semana, aumentou de 38 para 73 o número de internações em UTIs por causa da Covid-19 em Fortaleza. Isso representou um aumento de 92,1% no total de hospitalizações, de acordo com informações da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa). Também passaram de 31 para 61 as internações com uso de ventilação mecânica, medida de auxílio respiratório aplicada em casos mais graves. O crescimento foi de 96,8%.
O número de internações por casos suspeitos da Covid-19 em Fortaleza também teve aumento. Nas UTIs, passaram de 36 para 56, um acréscimo de 55,6%. Em relação a pacientes com ventilação mecânica, subiram de 29 para 46, incremento de 58,6%.
Além disso, o Ceará atingiu nesta quinta-feira 100% da capacidade das UTIs exclusivas para tratamento da Covid-19 na rede pública. A secretária executiva de Vigilância e Regulação da Sesa, Magda Almeida, afirmou que o estado tem pacientes na fila de espera por uma vaga.