Casal morre de covid-19 com apenas 5 minutos de intervalo
Walter e Nair eram casados havia 55 anos e estavam internados no Hospital da Aeronáutica, no Rio, quase de frente um para o outro
Nos últimos 55 anos, o militar Walter Procópio de Oliveira e sua esposa Nair Lussana de Oliveira só ficaram distantes um do outro por cinco minutos. Foi exatamente esse curto período, em 13 de julho, que os separou ao longo de mais de meio século. Naquele dia, os dois dividiam o CTI do Hospital da Aeronáutica, no Rio, ambos com covid-19. Nair teve um agravamento muito rápido da doença, tinha sido internada no sábado (11), e morreu pela manhã. Cinco minutos depois, Walter também se despediria das filhas Márcia e Ângela, da única neta, Juliana, e das duas bisnetas.
“O que nos consola é que eles se uniram no momento derradeiro e certamente estão juntos novamente”, disse Márcia, ainda sob o impacto da perda dupla e repentina.
Seu pai, disciplinador e bem humorado até quando o Flamengo perdia algum jogo, parou no hospital por causa de uma infecção provocada por um arranhão de gato. Naquele ambiente, contraiu pneumonia. Hipertenso e convivendo com cinco pontes de safena, teve complicações que abriram espaço para a covid-19. Tudo isso já deixava a família em alerta.
“Mamãe, no entanto, ainda acreditava na recuperação dele, embora estivesse um pouco deprimida e chorosa. Mas, na segunda semana de julho, ela se sentiu um pouco mal e resolvemos levá-la também para o Hospital da Aeronáutica. Pensei que fosse ser dispensada após a consulta. Mas a médica preferiu mantê-la por mais 24 horas lá por precaução.”
A família passava dias na casa de praia em Iguaba, Região dos Lagos, no Rio. Na viagem de lá até o hospital, naquele sábado, dona Nair falou pouco e ficou praticamente o tempo todo rezando o terço. Ao saber que teria de permanecer na unidade de saúde, perguntou à filha se ficaria ao lado do marido.
“Não, mãe. A senhora vai para um quarto. O papai está no CTI.”
No domingo (12), Márcia se programou para levar roupas e objetos de higiene pessoal para sua mãe, na esperança até que ela recebesse alta. Mas soube cedo que dona Nair tinha piorado, com falta de ar, e precisou também ser transferida para o CTI. Não adiantava ir ao local, pois não conseguiria nem ver o pai, nem a mãe.
Já na manhã de segunda-feira (13), o médico que cuidava de seu pai lhe telefonou para avisar sobre a morte de Walter. “Infelizmente, ele não resistiu. Foram feitos todos os procedimentos, não houve como evitar. Ele veio a óbito às 9h50”, avisou o profissional.
Apesar de muito abalada com o baque, Márcia teve forças para perguntar sobre o estado de dona Nair. O médico não sabia que aquela senhora, num outro leito do CTI, era a esposa de Walter. Constrangido e surpreso, ele teve de cumprir o protocolo, certamente numa das experiências mais difíceis de sua vida. “Sinto muito, Márcia. Ela faleceu às 9h45, cinco minutos antes do seu pai.”
Em redes sociais, a neta Juliana prestou homenagem aos avós com textos que comoveram parentes e amigos. “Meu avô me mimou muito. Fazia as minhas vontades ... comprava um monte de besteiras pra eu comer ... Era dono de uma gargalhada alta, mas ao mesmo tempo contida, e um sorriso encantador por causa de suas bochechas gordinhas ... Você foi marido, pai, avô e o biso das minhas filhas ... Sempre me senti amada por você, espero que tenha se sentido amada por mim, pois sempre foi e pra sempre será. Obrigado por ter lutado tanto. Saiba que você venceu.”
Para dona Nair também não faltaram palavras de carinho. “Minha avó foi a pessoa mais adoradora que conheci. Ela me mimou mais do que outro ser humano na Terra. Cacheava meu cabelo. Fazia a comida que eu quisesse ... Quando eu ficava doente, me pegava no colo pra falar com Jesus no quadro da Santa Ceia que ela tinha, e pedia por favorzinho pra Ele me curar ... Ela sempre deixou claro pra quem quisesse saber que eu era o amor da vida dela ... Vó, obrigada por ter sido uma mulher tão forte, uma mãe entregue, a minha avó e bisa das minhas filhas ... Obrigada pelo seu cuidado. Obrigado pelo seu amor.”