AL: coronel é investigada por levar cartaz contra Bolsonaro em vacinação
A participação da militar nos dois atos foi publicada nas suas redes sociais.
O Conselho de Segurança Pública de Alagoas abriu procedimento disciplinar para investigar a conduta da tenente-coronel Camila Paiva, do Corpo de Bombeiros, acusada de manifestação política contra o presidente Jair Bolsonaro.
Um dos fatos que gerou a investigação se refere a um cartaz que a oficial levou no dia em que se vacinou no Colégio Militar Tiradentes, em 19 de maio, que dizia: "viva o SUS", "fui vacinada" e "fora, Bolsonaro." O local da vacinação é de propriedade da PM.
A outra denúncia se refere à participação do ato do último dia 29, em Maceió, contra o presidente e a favor da vacinação em massa da população.
A participação da militar nos dois atos foi publicada nas suas redes sociais.
Ao UOL, a militar alega que só soube da investigação pela imprensa alagoana e chama a atenção que outros militares se manifestaram politicamente de forma pública —indo a atos pró e contra Bolsonaro ou em redes sociais— não são alvo de apuração semelhante.
"Desde a época de Dilma [Rousseff], grande parte se posicionava, participava de atos, publicava críticas à então presidente Dilma. Atualmente, boa parte dos militares também participa de atos pró-Bolsonaro, publica, compartilha nas redes sociais. Inclusive, tiraram fotos fardados com o presidente na oportunidade que ele teve aqui em Alagoas e publicaram isso, demonstrando apoio político, utilizando até a imagem da corporação", diz.
Paiva afirma ainda que o presidente não possui qualquer grau de hierarquia sobre militares estaduais, que tem o governador de estado como chefe-maior. "Temos casos de militares que criticam o governador do Estado [Renan Filho-MDB], que é o nosso superior máximo nas forças militares estaduais. Muita gente publica críticas ao governo estadual e nunca foi aberto procedimento para ninguém em nenhum desses casos", conta.
Sobre a vacinação usando o cartaz na escola militar, Paiva alega que não se tratava de um ato de serviço e que outros militares se vacinaram com camisas com a imagem de Bolsonaro. "Ali era o local que eles escolheram para vacinar, não foi escolhido por mim. Na verdade, não fiz uma alegação político-partidária: fiz a favor da saúde pública, a favor da vida. E teve gente que quando se vacinou gritou 'obrigado, Bolsonaro', fez vídeo e não foi notificado", alega.
Ela ainda lembra do episódio que envolveu o ex-ministro da Saúde general Eduardo Pazuello, que foi absolvido pelo Exército após participar de ato de apoio ao presidente em Brasília.
"E o que chama a atenção nesse meu caso é que eu sou mulher e me posicionei contra esse governo. Mas por que só para mim foi aberto esse procedimento? Havia outros militares homens lá comigo, e o que eu tenho de diferente? O regulamento só se aplica a mim? E no caso, não se aplicava quando as críticas eram à presidente Dilma?", questiona.
Nenhum caso semelhante denunciado
Relator do processo, o conselheiro Fábio Ferrário informou que o Conselho de Segurança de Alagoas, composto por 15 integrantes, foi notificado dos casos e vai apurar se houve alguma ilegalidade nos atos públicos de Paiva.
Segundo ele, não há qualquer motivação política por trás da investigação aberta. "O conselho é um órgão plural justamente para evitar qualquer tipo de partidarismo e perseguição. Temos membros do poder judiciário, da Assembleia Legislativa, dos direitos humanos, da OAB [Ordem dos Advogados do Brasil]. Ali avaliamos condutas, não a pessoa. Mas se trata de um fato uma oficial superior que merece atenção, mas que temos agora é um fato apresentado. Ela terá o direito a se manifestar e explicar sobre o que foi apontado", explica.
O conselheiro explica que o processo está na fase de coleta de documentos e material necessários para que a militar seja notificada e apresente a sua defesa.
Questionado se havia outros militares sendo investigados por causa de ação semelhante, Ferrário negou. "[Caso similar] Que tenha sido levado ao conhecimento do conselho não aconteceu. Nunca chegou nenhuma notícia de fato de ato semelhante. Se chegar, terá o mesmo procedimento", garante.
Ferrário ainda explica ainda que o conselho tem autonomia para aplicar punições, em caso de comprovada transgressão, que pode chegar à indicação de saída do cargo.
"A análise vai resultar da absolvição, até uma suspensão ou advertência, chegando à possibilidade demissão —que nesse caso é levada para decisão do governador. Tudo vai depender da conduta, não posso falar nesse caso porque ainda não há nenhuma formação de juízo", conclui.