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Indígena caminha 350 quilômetros, por oito dias, da Bahia até Maceió

Ao 7Segundos, Arõatan Caambembe relatou experiências durante o trajeto

Por 7Segundos 15/07/2021 14h02 - Atualizado em 15/07/2021 16h04
Indígena caminha 350 quilômetros, por oito dias, da Bahia até Maceió
Arõatan Caambembe - Foto: Ellen Oliveira/7Segundos

O jovem indígena Arõatan Caambembe, de 18 anos, conseguiu completar a façanha de caminhar cerca de 350 quilômetros que separam seu lugar de origem na cidade de Paulo Afonso, Sertão da Bahia, até o litoral de Maceió. O feito foi conquistado no dia 3 de julho após oito dias de viagem. Ao 7Segundos, Arõatan falou um pouco sobre o percurso, os desafios superados e a experiência vivenciada.

“O objetivo foi imitar uma migração indígena. Eu sou índio e me desafiei saindo da Bahia até Maceió andando. O trajeto completo durou oito dias. Foram oito dias caminhando. A rota é antiga, traçada pelos nossos ancestrais que saíram da aldeia Kariri-Xokó. A experiência foi muito difícil de ser concluída, mas eu faço essas coisas justamente para relembrar a perseverança e a garra que eu tive, caso me lance a qualquer outro desafio”, contou o jovem.

O jovem faz parte dos Caiçaras, um grupo que cultiva o estoicismo e acredita que na vida é preciso definir objetivos e persegui-los, mesmo com as durezas do caminho. Ele saiu de Paulo Afonso, na companhia de um amigo, no dia 26 de junho e, ao chegar no município de Maravilha, no Sertão de Alagoas, o companheiro de viagem se machucou, perdeu as unhas do pé e não pôde continuar o trajeto. Arõatan decidiu seguir sozinho.

“Foi o momento mais difícil, onde realmente eu tive que repensar muito. Foi a parada mais longa que eu fiz durante a caminhada. As unhas dos pés dele caíram totalmente. De sangue quente, durante a caminhada ele tava sentindo dor, mas não tanto. Mas quando ele tirou o sapato e as meias durante a parada e foi olhar como tava, as unhas do pé dele já tinham ido embora, daí que o sangue esfriou pra voltar a andar já não dava mais. Tava impossível de continuar a caminhada” revelou.

O indígena Arõatan Caambembe, de 18 anos. - Foto: Ellen Oliveira/7Segundos

Arõatan contou sobre as dificuldades e desafios encontrados na estrada. “Passei por inúmeras dificuldades. No segundo dia, estava programado para dormirmos [eu e meu amigo] em Maravilha e ao chegar no posto da PRF, comunicamos aos policiais sobre o percurso que estávamos seguindo e nos recomendaram a não seguir o trajeto por ser perigoso, devido à circulação de grupos criminosos na região. Os policiais cederam espaço para que a gente armasse a barraca em frente ao posto”.

Ele também revelou sobre projetos futuros. “Existem mais caminhadas e mais projetos, mas agora, o momento é focar no desenvolvimento pessoal. Eu faço a caminhada, no sentido relembrar que eu posso fazer e consigo fazer, quando eu estou me sentindo desestimulado. A aprovação no vestibular é o que mais almejo no momento. Medicina pra poder trazer mais pessoas para fazer esse desafio junto comigo”.