Cultura

Lendas locais mexem com o imaginário dos alagoanos

Cada cidade traz suas particularidades

Por Pedro Vasconcelos* 31/10/2021 08h08
Lendas locais mexem com o imaginário dos alagoanos
Halloween - Foto: Sykadelx/Getty Images

O Dia das Bruxas, ou, como é mais conhecido mundo afora, Halloween, é um feriado comemorado em vários países, principalmente nos Estados Unidos. Esse é um dia onde crianças saem fantasiadas e batem à porta em busca de doces, e as pessoas enfeitam suas casas com adereços sobrenaturais e assustadores.

Com a popularização da data, celebrada neste domingo (31), vários outros locais passaram incrementá-la em sua cultura, inclusive o Brasil. Hoje, não é nada incomum que pessoas passem o dia fantasiados de criaturas que vieram de fora do país.

Por isso, o 7Segundos traz hoje eventos locais. De São Miguel dos Milagres a Penedo, Alagoas está regada de histórias misteriosas.

A Lenda do Menino Petrúcio

Esta lenda fala de um garoto de 11 anos falecido na década de 1930. Petrônio era conhecido por sua bondade, ao ponto de a população visitar seu túmulo no cemitério São José, em Maceió, para pedir por graças.

Quando as preces são atendidas, as pessoas vão ao túmulo e deixam presentes, como fitinhas de agradecimento e plaquinhas com o dizeres: “obrigado pela graça alcançada”, ou “Obrigado, Menino Petrúcio”. Os presentes chegam a ser mais inusitados. Alguns visitantes deixam representações do corpo humano feitas de gessos, como pernas, quando têm algum tipo de cura nas mesmas, por exemplo.

A Mulher da Capa Preta

A lenda diz que, no início do século XX, um homem conheceu uma bela moça por quem se interessou durante um baile. Os dois ficaram juntos durante toda a festa.

Ao dar meia noite, ela disse que precisava ir embora, mas como estava chovendo, o homem se ofereceu para acompanhá-la. O jovem então pegou a capa que trazia consigo e cobriu a moça. No caminho de volta, a mulher disse que poderia deixá-la na porta do cemitério. Mas antes deu-lhe seu endereço.

Tempos depois, o homem foi até o endereço que tinha recebido para procurar pela moça. A mulher que o atendeu informou que não existia ninguém com aquele nome morando ali, mas que era como se chamava sua filha, que já havia falecido.

Ele se recusou a acreditar no que ouviu e começou a achar que alguém estava lhe pregando uma peça. Após um tempo discutindo, eles foram ao cemitério para que a família mostrasse o túmulo da jovem. Ao chegar no local, a primeira coisa que viu foi a capa que lhe pertencia em cima da cruz próxima ao túmulo.

Embora tenha aparecido baile como uma jovem, a história diz que a mulher tinha 52 anos quando morreu. Ela vivia sozinha e tinha medo de nunca se casar, pois sofria de tuberculose, e levou essa insatisfação para o túmulo.

A lenda urbana é um marco guardado pelo Cemitério Nossa Senhora da Piedade, no bairro do Prado, em Maceió. O túmulo representado na história é de Carolina de Sampaio Marques, nascida em 21 de março de 1869 e falecida em 22 de novembro de 1921. Nele, há a réplica em mármore de uma capa jogada em uma cruz acima do túmulo.

O Bode do Ponte

A lenda do Bode do Ponte se passa no século XIX, no litoral norte do estado. A história diz que o dono do Engenho Ponte, localizado em Porto de Pedras, aterrorizava seus escravos e matava os que não conseguiam aguentar as horas dobradas de trabalho. Alguns eram enterrados vivos.

O senhor do Ponte acabou construindo uma casa na beira da praia de São Miguel dos Milagres, que pertencia ao município de Porto de Pedras na época. Lá ele continuou a enterrar seus escravos vivos. Nestes locais, começaram a crescer bananeiras. A lenda conta que, em uma ocasião, o senhor do Ponte colocou na mesa bananas para alguns escravos comerem. Depois dos escravos terem se alimentado, ele avisou que se tratava de uma banana que havia nascido na cova de um dos escravos que ele tinha enterrado.

O homem continuou com suas atrocidades até o dia em que faleceu.

No seu enterro, os que compareceram viram que não havia ninguém no caixão, apenas pedras.

A partir daí, os moradores do engenho Ponte, das regiões de Porto de Pedras, Tatuamunha, Lages, São Miguel dos Milagres e vilarejos vizinhos começaram a perceber coisas estranhas acontecendo.

Horrorosos berros de bode passaram a ser ouvidos do engenho à casa na beira da praia. E então as pessoas começaram a comentar que o senhor do Ponte teria se transformado em um bode.

A história conta que os berros e gritos eram tão horripilantes que faziam as pessoas desmaiarem de medo. O Bode do Ponte aterrorizou vilarejos por muitas décadas e, um certo dia, deixou de assombrá-los.

Após um tempo, algumas pessoas começaram a sonhar com o “Bode do Ponte”. Segundo a história, ele aparecia para mostrar o lugar em sua casa onde enterrara as botijas de ouro, prática comum entre pessoas ricas daquela época.

A lenda conta que algumas pessoas tentaram cavar nos locais dos sonhos, mas nunca encontraram nada. Outras nem quiseram saber, dizendo que o ouro do Bode do Ponte era coisa do diabo.

A casa onde a história se originou foi moradia de várias famílias e já chegou a ser uma delegacia nos anos 1920. Hoje, o local se encontra em ruínas. A lenda é tão forte na região que acabou ganhando um documentário chamado "A Lenda do Bode do Ponte", dirigido por Pablo Gomes.

A morte das sete meninas de Arapiraca

O trágico afogamento de sete garotas durante uma excursão ao Pontal de Coruripe acabou se tornando parte do folclore arapiraquense.

Em um domingo, no ano de 1961, o grupo saiu do Colégio São Francisco, em Arapiraca, por volta das 6h30 e só chegou ao Pontal do Coruripe por volta das 9 horas. À época, não havia estradas, apenas caminhos pelos canaviais, tanto que a excursão se perdeu três vezes antes de chegar ao local.

As alunas que foram ao passeio faziam parte da “Cruzada”, um movimento católico voltado para meninas após a primeira comunhão. Todas participaram de uma missa antes de irem para o mar. Para muitas, aquele era o primeiro contato com o mar. Para aquelas sete garotas, foi o último.

O velório delas aconteceu no dia 8 de outubro de 1961, Arapiraca em peso compareceu. A história virou uma lenda para alertar os moradores locais sobre os perigos do mar.

A Ilha de São Pedro

Esta lenda aconteceu em Penedo. Segundo a história, São Pedro enviou o apóstolo São Tomé para pregar o evangelho e ensinar aos índios o cultivo da terra.

Sumé, como os locais chamavam e reverenciavam São Tomé, deixou o registro de suas pegadas e da ponta de seu cajado num rochedo, chamado a Pedra de São Pedro, localizado numa ilha nas proximidades.

De acordo com os estudos do historiador Antonio Gonçalves de Mello, a história influenciava no turismo da região, já que turistas subiam uma “rocheira”, do lado contrário à ilha de São Pedro, para ter visão da pedra e ouvir a história dela. Depois, eles pediam para fazer a travessia até a ilha e encontrar a pegada do santo.

Hoje, o local tem difícil acesso devido ao abandono e ao crescimento da vegetação.