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Mercado dos games em Alagoas: crescimento, aspirações e dificuldades

O 7Segundos conversou com personalidades locais para falar sobre o assunto

Por *Pedro Vasconcelos 11/12/2021 08h08
Mercado dos games em Alagoas: crescimento, aspirações e dificuldades
Mercado dos games em Alagoas: crescimento, aspirações e dificuldades - Foto: BagoGames/CC BY 2.0

O mercado dos games vem crescendo e não é de hoje, mas, com a pandemia de covid-19, o nicho acabou tendo uma popularização ainda maior. E as mudanças não acontecem somente para a produção e consumo dos jogos, o cenário de e-sports (esportes eletrônicos) brasileiro também é um propulsor importante para o mercado. É o que indica o Levantamento Sobre o Cenário de Games em Alagoas, feito pelo Sebrae.

Citada no levantamento, a pesquisa “eSports: The New Playbook in Sports Marketing” (E-sports: A Nova Cartilha de Regras no Marketing de Esportes, em tradução livre), da SocialBakers, indicou um crescimento de 55,63% da quantidade de interações em redes sociais em relação aos e-sports, em 2020. Enquanto isso, na mesma época, a interação em relação a esportes tradicionais diminuiu em 19,48%.

O levantamento ainda citou a Pesquisa Game Brasil, do SixGroup, que diz que o crescimento do costume de jogar online com outros jogadores cresceu de 37% para 48,6%, para os que utilizam dispositivos móveis. Destes, aproximadamente de 34,4% declarou jogar online com outros jogadores todos os dias. Para os que utilizam computadores, o número foi de 65%, com 41,9% que jogam online com outros jogadores todos os dias. Por fim, 58,3% dos jogadores que utilizam consoles costumam jogar online com outros jogadores

Entretanto, apesar do crescimento nacional na área, a pesquisa indicou que o campo em Alagoas ainda é muito embrionário. O 7Segundos conversou sobre a vida no meio dos games e sobre o cenário no estado com o gamer e streamer alagoano, Argo Gran, e com o CEO do time de e-Sports do CRB, Romero Barone.

Confira as entrevistas:

Como você avalia o cenário atual relacionado a games no estado?

Argo Gran: “Existem três tipos de comunidades, Consoles, PCs e Mobiles. Eu, particularmente, posso falar com mais precisão sobre o mobile, que é a comunidade onde estou engajado. O cenário Alagoano é muito pequeno, diria que é um grão de areia perto da realidade nacional, onde comparo com o deserto do Saara, porque dentro do cenário alagoano só existem competições de Free Fire (que é um jogo mobile) e mesmo assim não são, ao meu ver, competições de grande porte. Para mim, competições de grande porte são gratuitas, com excelentes premiações, que mobilizam o cenário do jogo em questão.

Este ano, consegui movimentar a comunidade mobile com três competições de Free Fire, duas competições de CODM [Call of Duty Mobile] e duas competições de Wild Rift. Lógico que eu não estava só. Pessoas como Lucas Ferreira, Benício Cabral, que são do Arretado's Geek, Wilton Alexandre e Vivekananda Francisco me ajudaram bastante na organização dessas competições de porte amador, e que serviram para despertar interesses.

Se continuar nessa pegada, criando competições, o cenário local pode aumentar, se tiver interesse do setor privado e público em ajudar financeiramente ou até mesmo em criar novas competições que movimentem as comunidades locais. Lembrando que essas competições estimulam a criação de times, trabalhos em equipe e vários outros conceitos sociais para a formação principalmente dos jovens que são os maiores usuários de games. Estimulando a criação dessas equipes e movimentando o cenário local com competições, podemos levar esses times para competições de porte nacional e internacional."

Argo Gran (@_argogran_), gamer e streamer. Foto: Cortesia

Romero Barone: “O cenário, hoje, no estado ainda está engatinhando. Ele ainda é um cenário subaproveitado, pois há muitos talentos, muitos jogadores de várias modalidades que querem, precisam, e só estão esperando uma oportunidade para mostrar o seu desempenho. Mas, infelizmente, ainda encontramos muitas dificuldades em relação a apoios. Isso dificulta um pouco. Alagoas, comparada a outros estados do próprio Nordeste, como Pernambuco, Bahia, Natal, Ceará, fica um pouco atrás na questão da formação de atletas de qualidade e na questão de fomentação, mesmo dos e-sports.”

Quais são as dificuldades em seguir a carreira de gamer? São majoritariamente financeiras ou também existem barreiras culturais?

Argo Gran: “Para se tornar um gamer, primeiramente, você precisa gostar do que faz, assim como em toda profissão. Em segundo lugar, você tem que ter um suporte financeiro bom, tanto para a compra de equipamentos como para pagar suas contas. Isso porque você precisa de tempo para se dedicar ao jogo: treinar, gravar, transmitir, conquistar um público que possa lhe monetizar com as transmissões e a partir daí você passará a ter uma segurança financeira. Então tempo e dinheiro são as maiores dificuldades que um gamer pode encontrar inicialmente. Com relação às barreiras culturais, como em nosso estado isso não é algo comum, as pessoas não veem você como um profissional ou como alguém que quer se tornar um profissional.”

Romero Barone: “A carreira de gamer, hoje, no nosso estado – no Nordeste, até – é um pouco mais complicada. Por algumas situações. Pela visibilidade, onde os principais campeonatos sempre estiveram no Sudeste, São Paulo. Quem queria algo a mais tinha que se sacrificar e se mudar para São Paulo, Rio de Janeiro, por exemplo, principalmente São Paulo. Hoje, está mudando um pouco. Já tem vários campeonatos reconhecidos a nível Nordeste. Por exemplo, nós do CRB estaremos indo agora, domingo (12), disputar as finais do maior campeonato de Free Fire do Nordeste, que é a Liga Nordeste do Free Fire. Será transmitido pelo SBT e tudo mais. Então já está começando a facilitar um pouco.

Algumas questões que que impedem um pouco são as questões financeiras, pois não são muitas ordens, até no Nordeste, que conseguem pagar salários de verdade, salários altos. Com salários ‘altos’, eu quero dizer salários condizentes com o trabalho do atleta, ou até mesmo alguma ajuda de custo. Não são todas as organizações, pois a maioria não consegue ter bons patrocinadores. As empresas ainda têm um pé atrás em relação a isso. A patrocinar, a investir, a incentivar a modalidade.

Tem a questão que os pais cobram muito. Veem o filho ali, no celular ou no computador, no videogame, no console, jogando um bom tempo, treinando com o time e tudo mais e não veem o resultado financeiro. São pais onde, prioritariamente, o que sempre funcionou e deu dinheiro eram as faculdades, estudar e etc. Não que não precise. Não entendam isso. Mas, por exemplo, a minha geração, as próximas gerações já vão ter uma mente um pouco mais aberta para os e-sports. Vão, sim, cobrar notas boas, uma boa condução dos estudos, mas também vão entender que a criança, o adolescente, vai ter um time e que, ali, ele pode, sim, se tornar um profissional.”

Romero Barone, CEO do time de e-sports do CRB. Foto: Cortesia

Existe um incentivo para as pessoas que querem seguir essa carreira? Se não, o que ajudaria a aumentar a procura?

Argo Gran: “Até onde sei, não existe nenhum incentivo financeiro, público ou privado, para quem quer seguir a carreira. Entre os eventos que citei, alguns foram realizados dentro de eventos do setor público, mas incentivo voltado exclusivamente ao gamer ou times de e-sports, até onde sei, em nosso estado não existe. Os e-sports vêm crescendo mundialmente com competições de vários níveis e com grandes premiações. Criar competições já começaria a movimentar o cenário local. Esse seria o primeiro incentivo. O setor público poderia criar bolsas financeiras para jogadores que precisem, ou para times.”

Romero Barone: “Olha, o maior incentivo para seguir na carreira de gamer é o sonho, é o amor pelo jogo. Muitas vezes, também, a vontade de tirar os pais de uma situação ruim, financeiramente. É um sonho que realmente ainda incentiva os atletas hoje a seguirem nesse cenário. Ele é muito difícil, pois faltam, sim, incentivos do próprio governo, prefeituras, de conseguir apoios financeiros. Essa é a realidade. Infelizmente, sem dinheiro a gente não faz muita coisa. É muito difícil você conseguir montar um time de algum jogo sem investir nada, ele conseguir chegar longe e, aí sim, se destacar para depois começar a chamar atenção de patrocinadores e tudo mais. Infelizmente, é muito difícil. Então, o que falta são incentivos financeiros de empresas. Hoje, as visualizações dos conteúdos de e-sports são enormes, então a marca fica muito mais visível do que, às vezes, anunciar em alguma televisão, alguma rádio, alguma coisa desse tipo, né? O alcance hoje do esporte é muito grande. As empresas precisam começar a abrir os olhos em relação a isso. Que a marca dela vai ser estampada para muita gente. Muita gente mesmo.”

Para as pessoas quem têm interesse no mundo dos games, o que devem fazer para começar uma carreira?

Argo Gran: “Deve amar o jogo que escolher seguir carreira. Deve ter tempo para se dedicar. Deve ter uma ajuda financeira para custear seus equipamentos. Esses três pontos são os principais, o resto você conquista com o tempo. Se você é pai ou mãe que tem um filho que gosta de jogar um jogo específico, converse com ele, pesquise sobre o cenário do jogo. Se tudo fluir positivamente, invista nessa carreira. Hoje, um atleta de e-sports pode ter salários milionários, isso fora vários outros benefícios com patrocinadores. Mas digo que não é um caminho fácil, mas é gratificante quando você chega lá.”

Romero Barone: “Olha, a maior dica que eu posso dar a alguém quer seguir uma carreira de gamer é focar em um jogo. A gente recebe muitas mensagens no DM da organização [do CRB]. Às vezes, até no nosso, mesmo. Eles [os jogadores] simplesmente querem participar, mas não têm o foco, não têm o objetivo. Eles não sabem o que querem. Por exemplo, tem vaga na organização. Então você pergunta: ‘Pô, mas para quê?’. ‘Ah eu posso jogar FIFA ou Free Fire?’. Legal, mas são jogos totalmente distintos. Um é de futebol e o outro é de tiro. Então, a maior dica que eu posso dar é essa: foque em um jogo. Veja o jogo você se considera bom, o que você gosta, o que você ama, e foca nele. Treina, aprende o jogo, consome o jogo, aprenda os mínimos detalhes do jogo, que isso vai fazer muita diferença. Depois disso, procura um time, procura uma organização, se empenha, não desiste, porque é difícil, infelizmente. É difícil, mas acho que essa é a maior dica que eu posso dar. É o foco, é você escolher um jogo e seguir nele, senão você acaba ficando muito disperso.”