Meio ambiente

Relatório do Biota aponta redução de mortes e nascimento de animais marinhos em Alagoas

Dados apontam ação humana como uma das principais causas da mortalidade

Por Felipe Guimarães 08/01/2023 08h08
Relatório do Biota aponta redução de mortes e nascimento de animais marinhos em Alagoas
Baleia jubarte é encontrada morta em Marechal - Foto: Cortesia/ Biota

O relatório anual do Instituto Biota de Conservação Ambiental referente ao quantitativo de animais marinhos encontrados mortos ou encalhados nas praias do litoral de Alagoas, demonstrou que no ano de 2022 houve uma redução no número de mortes e de nascimentos de algumas espécies.

Os dados são apurados pela equipe do próprio Biota e revelam uma redução significativa nos encalhes de tartarugas marinhas e aves ao longo dos últimos quatro anos. Em 2019, o estado de Alagoas chegou a registrar 1242 encalhamentos de quelônios. Em contrapartida, em 2022, esse número caiu para mais da metade, tendo sido catalogados 530.

Para aves a situação não foi diferente, em 2019 houve 67 registros de encalhes. Já em 2022, quatro anos depois, esse número foi aproximadamente cinco vezes menor, tendo sido registrados somente 12 casos.

A situação, entretanto, não parece ser a mesma para os mamíferos aquáticos. Em 2019 foram encontrados 44 animais em situação de encalhe. Já em 2022, os registros caíram para 17. Esse número é realmente inferior se comparada com a situação de quatro anos atrás, contudo, entre os animais marinhos encontrados nas costas do litoral alagoano, somente os mamíferos aquáticos apresentaram um aumento com relação ao ano anterior. Veja no gráfico abaixo para uma melhor visualização dessa situação.

Gráfico: Felipe Guimarães


Principais vítimas

Conforme a apuração feita pelo Instituto Biota, apesar desses animais serem facilmente divididos em grupos, há entre eles outra divisão, feita por espécie. No caso das tartarugas marinhas, as principais vítimas dos encalhes são as Chelonia mydas, conhecidas popularmente como tartarugas-verdes, com 4.313 casos registrados, seguidas pelas Lepidochelys olivacea, conhecidas como tartarugas-olivas, com 1.243.

Contudo, é importante ressaltar que esses números não representam de fato uma totalidade das mortes desses quelônios, configurando somente de 10% a 20% da taxa de mortalidade dessas espécies. A maior parte dos óbitos ocorre em alto mar, não sendo possível mensurar o problema em toda a sua totalidade.

Gráfico: Felipe Guimarães


Já no caso dos mamíferos aquáticos, as principais vítimas encontradas encalhadas fazem parte da família dos cetáceos, como golfinhos e baleias, com 236 registros. Em segundo lugar estão os sirênios, com 11 casos.

No caso das aves, a maior parte das espécies encontradas nas areias do litoral alagoano são as Calonectris borealis, conhecidas como Pardela-de-bico-amarelo e a Calonectris borealis, conhecida como pardela-de-bico-preto.

Gráfico: Felipe Guimarães


Ação humana

De acordo com o Biota, a principal cidade onde esses animais são encontrados é Maceió. A causa apontada pela instituição se dá pela ação humana, como a urbanização e portanto existe uma ameaça maior por conta de ações antrópicas.

A poluição é outro fator a ser levado em conta para a contribuição das mortes e encalhes. De acordo com a Superintendência Municipal de Desenvolvimento Sustentável (Sudes), nos anos de 2021 e 2022 foram retirados no total 37 mil toneladas de lixo das praias do litoral maceioense.

Desde 2018 o Instituto Biota vem realizando, além do registro de encalhes, a necropsia dos animais marinhos, com intuito de reunir informações sobre o estado de saúde e as causas que os levaram ao encalhe e à morte.

Nos anos de 2018 a 2020, 194 foram necropsiados, sendo 90 mamíferos, 68 tartarugas e 36 aves marinhas. Os demais, que não foram possíveis de necropsiar, Por conta do avançado estado de decomposição, foram avaliados e enterrados na própria praia ou solicitado apoio para recolhimento com as prefeituras locais.

Dos 90 mamíferos necropsiados, 50 apresentaram algum tipo de interação antrópica, ou seja, ações ocasionadas pelo ser humano, como emalhe em rede de pesca, traumas e mutilações (ex: cortes com facas para retirada de pele, músculo, nadadeiras, retirada da língua, perfuração com arpões, colisão com embarcações, etc).

Além disso, outras causas que levaram o animal a encalhar foram observadas, como as parasitoses, desnutrição, inanição (no caso dos filhotes que se perdem da mãe), infecções e até câncer.

Lixo removido da Praia da Avenida pela Prefeitura de Maceió. Foto: Juliette Santos


Sobre as tartarugas, 68 foram necropsiadas no mesmo período, onde 14 delas apresentaram algum tipo de interação antrópica, como interação com rede de pesca e ingestão de lixo. Dos demais problemas observados podemos destacar as pneumonias, parasitoses, desnutrição, e doenças infecciosas, como a fibropapilomatose.

Sobre as aves, das 36 necropsiadas no mesmo período, 7 delas apresentaram algum tipo de interação antrópica, como por exemplo a ingestão de lixo e de artefato de pesca (anzol). Entre outros problemas, destacam-se 29 animais com quadro de desnutrição e anemia, associado a parasitose.

Reprodução


Nos últimos anos, a reprodução das tartarugas também vem sendo afetada pela ação humana, especialmente em Maceió. Conforme apurado pelo biota, entre 2020 e 2021 foram registrados somente 357 ocorrências de reprodução. Nos últimos anos, esses números foram superiores, como entre 2019 e 2020, onde 683 casos foram catalogados.

A maioria dos registros (cerca de 40%) dão-se no município de Maceió, especialmente na praia do Mirante da Sereia, onde estão concentradas cerca de 65% das desovas da capital. Devido a alta densidade de desovas nessa praia, até já propomos a criação de uma unidade de conservação para proteger essa área tão singular (a ARIE das Tartarugas).

Tartaruga recém nascida. Foto: Biota




A atividade reprodutiva ocorre geralmente à noite, quando a fêmea sobe até a praia para escolher uma área onde fará o ninho e deixará os ovos. Após isso, leva em média 53 dias para que os ovos eclodem e os filhotes sigam em direção ao mar.

No momento da desova, fatores como iluminação na praia, flash, barulho e interação com as pessoas podem fazer com que a fêmea aborte o processo e volte para o mar sem desovar. No momento do nascimento, a iluminação na praia pode desorientar os filhotes, fazendo com que sigam em direção oposta ao mar, bem como o tráfego de veículos pode compactar a área, impedindo que saiam do ninho ou ainda atropelar os animais que estão caminhando em direção ao mar.