Comportamento

Escritor Pedro Rhuas se torna referência para juventude queer em Maceió

Escritores trazem recontam histórias LGBTQIAPN+ e trazem novos finais

Por Marcos Filipe Sousa 28/06/2023 09h09 - Atualizado em 28/06/2023 09h09
Escritor Pedro Rhuas se torna referência para juventude queer em Maceió
Pedro Rhuas - Foto: Assessoria

Ser um adolescente queer nos final dos anos de 1990 e início dos 2000 era não ter referência em filmes, livros, televisão e séries de casais LGBTQIAPN+. E quando se tinha, os finais nunca eram
felizes. Essa frustração foi carregada pela geração dos 30+ até os dias de hoje, que acaba vivendo uma juventude tardia quando se depara com produtos midiáticos que introduzem essas histórias.

Contudo, nos últimos anos, uma safra de novos escritores queers vem mudando essa realidade e tornando-se inspiração para os adolescentes LGBTQIAPN+, com histórias e enredos em que consigam se identificar e jogando para bem longe qualquer trauma que os mais velhos carregam.

Um desses novos escritores é Pedro Rhuas, autor do livro "Enquanto eu não te encontro", de 2021,
da Editora Seguinte. A obra viralizou em redes sociais como TikTok e Instagram com perfis voltados para conteúdo literário e se tornou uma influência para o público LGBTQIAPN+. O livro, inclusive, está como destaque do Mês do Orgulho em livrarias da capital alagoana. 

A obra se passa na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, e conta a história das consequências do encontro primeiro encontro dos jovens Lucas e Pierre. Cheio de referências a cultura pop, a leitura é agradável, e para os mais velhos, como eu, traz o frescor da juventude, já para os mais novos, é um belo exemplo de como as paixões podem surgir da forma mais improvável.

Conversei com Pedro, onde tocamos em diversos assuntos, desde da suas inspirações, explosão de  livros voltados ao público LGBTQIAPN+ e contato com os seus leitores.

7Segundos: Na sua adolescência você teve influências literárias que te trouxeram para esse caminho da escrita?

PH: A paixão pelos livros foi despertada cedo em minha vida. Aos onze anos, comecei a devorar sagas literárias como Percy Jackson e Nárnia. Aos doze, a rascunhar minhas primeiras obras de ficção. O passo decisivo foi aos quatorze anos, quando passei a produzir conteúdo literário, postando notícias sobre livros e resenhas em sites. Eu devorava a literatura jovem mainstream. Cheguei a ler trinta livros em um mês. No entanto, poucas dessas obras tinham protagonismo LGBTQIAP+ ou eram centradas em experiências brasileiras. Foi somente com a publicação de títulos como "Will & Will", do John Green e do David Levithan, que passei a ter acesso a obras com protagonismo queer voltadas ao público jovem. Ainda assim, naquele período, eram poucas. Mas mesmo esse breve contato foi transformador. Sabia, desde então, que precisava escrever narrativas com essa temática, mas que se passassem no Brasil. Mais ainda, que fossem ambientadas no Nordeste.

7Segundos: 
Uma reclamação de adultos LGBTQIAPN+ com mais de 30 anos é que durante a adolescência e juventude não tinham esse tipo de referência literária. Como você observa essa referência que se tornou para as novas gerações?

PH: 
Na minha adolescência, eu acompanhei o movimento do aumento na publicação de obras com protagonismo LGBTQIAP+ por grandes editoras. A sensação era de uma constante euforia. Afinal, esse tipo de publicação era raro na literatura comercial. Hoje, após as batalhas que enfrentamos duramente nas últimas décadas, chegamos em um ponto onde nossas narrativas já não estão exclusivamente escondidas. Estamos no topo das listas dos mais vendidos, com grandes fenômenos editoriais, nas vitrinas das livrarias. As novas gerações têm acesso facilitado a essas produções, o que é potente e transformador. No entanto, apesar do que conquistamos, há muito para se caminhar. A maioria dos títulos ainda são pautados em experiências brancas, cisgêneras, estadunidenses - quando muito, sudestinas. É preciso mais diversidade.

7Segundos: 
Quais são os tipos de retorno que você tem dos seus leitores? Tem alguma história que você pode compartilhar?

PH: 
Todos os dias, recebo mensagens encantadoras dos meus leitores. Mensagens que me lembram o porquê de a literatura ter se tornado o caminho que encontrei profissional e artisticamente. Às vezes, me contam sobre como eu os ajudei a enfrentar situações difíceis em suas vidas: como os consolei a respeito do luto, da dor, das opressões diárias; de como minhas palavras os confortaram diante de violências no dia a dia, e, às vezes, até de pensamentos suicidas. São histórias de conexão, paixões, às vezes também desencontros. Tantas. Me sinto muito feliz de participar da vida dos meus leitores.

7Segundos: 
Alagoas é um dos estados que mais se mata LGBTQIAPN+ no país, por outro lado, o seu livro é destaque nas livrarias da capital. Que recado você daria aos seus leitores daqui que passam por desafios diariamente na luta contra a lgbtfobia?

PH: 
Primeiramente, quero dizer às pessoas que me leem em Alagoas que elas são vistas. Que suas histórias, sotaque, gênero e sexualidade são válidos. Que amar quem amam é bonito, mesmo em um  contexto de violência quecoloca nossa comunidade em uma posição de vulnerabilidade no estado. No Mês do Orgulho LGBTQIAP+, não esqueçam do seu valor, que suas vozes são importantes e que vocês têm, também, histórias para contar. Que meus leitores de Alagoas possam se tornar protagonistas de suas narrativas; narrativas ambientadas no estado, seja no interior ou na capital. Afinal, vocês importam. Muito obrigado por apoiarem "Enquanto eu não te encontro" e celebrarem obras com protagonismo LGBTQIAP+ comigo!