Alagoas

Apesar de berço de Marta, Alagoas mostra que está distante de igualdade de gênero no futebol

A terra da Rainha Marta enfrenta obstáculos e precisa mostrar mais pela modalidade

Por Pedro Acioli 12/08/2023 08h08 - Atualizado em 14/08/2023 10h10
Apesar de berço de Marta, Alagoas mostra que está distante de igualdade de gênero no futebol
Alagoana Rainha Marta - Foto: Reprodução/Instagram

Em um cenário onde o futebol feminino tem conquistado cada vez mais espaço e visibilidade, afinal está acontecendo a que pode ser considerada a maior Copa do Mundo Feminina de todos os tempos, com o maior número de espectadores, maior número de anunciantes e maior premiação, o estado de Alagoas enfrenta sérios desafios para passos significativos rumo ao desenvolvimento da modalidade. A terra que viu nascer a lendária Marta, reconhecida mundialmente como uma das maiores jogadoras de futebol de todos os tempos, enfrenta obstáculos, e precisa mostrar mais pela modalidade para poder honrar de fato o legado da Rainha.

O Legado de Marta: Inspiração e Desafios

Marta Vieira da Silva, a "Rainha do Futebol", seis vezes eleita melhor do, é uma das personalidades mais icônicas e admiradas do mundo esportivo, e sua origem alagoana é motivo de orgulho para o estado. Sua trajetória brilhante serve como inspiração para jovens atletas que almejam trilhar um caminho no futebol feminino. Infelizmente sua caminhada com a camisa da seleção feminina chegou ao fim e trouxe à tona uma discussão: Alagoas tem estrutura para revelar uma nova Marta? O legado de Marta também ressalta a necessidade de investimentos e melhorias estruturais no cenário esportivo local, como ela enfatiza em várias entrevistas, inclusive na marcante após a eliminação da seleção brasileira na final da Copa do Mundo Feminina. Importante lembrar que em busca de seu sonho, Marta ainda criança foi para o Sudeste do país, jogar no Vasco, evidenciando que historicamente Alagoas mostra uma deficiência no cenário do futebol feminino.

Realidade do futebol feminino no Brasil e em Alagoas


Segundo um relatório da FIFA, que foi publicado no dia 28 de outubro de 2022 com informações de 30 ligas e cerca de 300 clubes ao redor do mundo, mostrou números alarmantes: 12% das atletas do Campeonato Brasileiro Feminino A1 2022 foram contratadas para jogar mediante sem recebimento de salário, sendo uma situação que não ocorre na Série D do Campeonato Brasileiro masculino mas que ainda é uma realidade no futebol feminino.

A diferença também está presente no patrocínio estatal, de acordo com dados publicados pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), em 2022 a seleção masculina recebeu R$200 milhões. Enquanto a seleção feminina recebeu R$70 milhões que ainda seriam divididos entre mais sete categorias de base.

Em Alagoas, a diferença entre patrocínio do Governo do estado de times masculinos e femininos também ocorre. Em 2022, o governo renovou patrocínios de CSA e CRB, com cada um recebendo R$2,5 milhões, todavia o patrocínio para a União Desportiva Alagoana (UDA), era apenas de R$100 mil, renovando para R$200 mil em 2023.

O Campeonato Brasileiro A1 2023 bateu recordes em quantidade de patrocinadores, foram 80 patrocinadores distribuídos entre 16 equipes. Entretanto, ao comparar com a Série A masculina, a quantidade é bem maior, chegando a marca de 134 patrocinadores.

Alagoas não tem representantes na série A1 do Campeonato Brasileiro feminino, uma vez que a realidade na elite do futebol feminino já é de resistência, em divisões inferiores, a disparidade com a modalidade masculina só cresce.

A equipe alagoana mais bem colocada é a UDA que no campeonato deste ano foram eliminadas nas quartas de final pela equipe do RB Bragantino.

Campeonatos femininos no estado

Copa Rainha Marta
Ascom Selaj



Apesar de contar com talentos promissores e apaixonados pelo esporte, Alagoas enfrenta obstáculos estruturais que impactam diretamente o desenvolvimento do futebol feminino. A escassez de infraestrutura adequada, falta de recursos financeiros e limitações em programas de formação representam desafios a serem superados. No próximo dia 15 de agosto, será realizado o Conselho Arbitral do Futebol Feminino pela Federação Alagoana de Futebol (FAF), para decidir sobre os assuntos acerca da realização do Campeonato Alagoano Feminino 2023, UDA, Acauã, Canoense, Guarani de Paripueira, CRB, Coruripe, Desportivo Aliança e Atlético-AL participarão do campeonato. Em comparação com o nordeste, Alagoas tem o 3° maior campeonato, em número de equipes, ficando atrás somente do sergipano e do paraibano, demonstrando que existe sim uma demanda de atletas que necessitam de mais visibilidade.

Em 2015, a Secretaria do Esporte, Lazer e Juventude (Selaj), inovou com a criação da Copa Rainha Marta. Atualmente é a maior competição de futebol feminino no nordeste, na edição de 2020 foram 30 equipes inscritas, entre times profissionais e times semi-amadores. No entanto, a falta de visibilidade, torna a competição díficil de chegar no público amante de futebol.

Ações feitas pela Selaj e FAF

Secretário Especial da Selaj Charles Hebert
Divulgação Assessoria



O Secretário Especial da Selaj e também Secretário-Geral da FAF, Charles Hebert explicou ações dos órgãos para a modalidade “Nós somos, hoje, um dos estados do nordeste que mais investe no futebol feminino. Pela Selaj, nós temos a maior competição de futebol feminino do nordeste que é a Copa Rainha Marta com 30 equipes, inclusive até com equipe indígena. Nós investimos esse ano 200 mil reais na UDA, que chegou muito bem na (série) A2. E esse ano investimos também na série A3, com a equipe do Acauã que o estado aportou 30 mil reais para que ela desenvolvessem durante a competição, e essas equipes ainda recebem investimentos da CBF.”

Charles também ressaltou o trabalho da FAF “A federação tem ampliado as equipes que participam da Copa Rainha Marta que são melhores classificadas (primeiro e segundo lugar) e não possuem filiação a federação, tem entrado na federação e tem todas as custas quanto a filiação, carteira. Tanto é que quando começou o Campeonato Alagoano exisitam 3,4 equipes e hoje temos 8.”

Iniciativas em Busca de Avanços


Diante desses desafios, diversas iniciativas vêm sendo implementadas para impulsionar o futebol feminino no Mundo. Como a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) lançou o Manual do Futebol Feminino para melhorias da modalidade, o manual conta com aspectos físicos, psicológicos e técnicos. Além disso, campanhas de apoio da comunidade e do público brasileiro, no geral, vem sendo fundamentais para atrair a atenção e o investimento necessários.

O Caminho Rumo ao Merecimento


O caminho para elevar o futebol feminino em Alagoas é um desafio complexo, mas a paixão e determinação das jogadoras, aliadas ao apoio da comunidade e ações concretas, têm o potencial de transformar a realidade esportiva do estado. O legado de Marta é uma base sólida sobre a qual o estado pode construir, buscando oportunidades para alçar voos mais altos no cenário nacional e internacional do futebol feminino.