Saúde

Adoecimento da mente: entenda os riscos da automedicação de psicofármacos

Especialistas explicam formas de tratar e combater os sintomas de doenças como ansiedade e depressão

Por Wanessa Santos 26/07/2024 12h12 - Atualizado em 26/07/2024 13h01
Adoecimento da mente: entenda os riscos da automedicação de psicofármacos
A pandemia da Covid-19 trouxe um aumento dos casos de depressão e ansiedade em todo o país, o que levou a um consumo elevado de remédios psiquiátricos - Foto: Reprodução/Canva

Ansiedade, depressão, transtorno bipolar, burnout (ou Síndrome do Esgotamento Profissional), TOC, esses são apenas alguns dos inúmeros quadros de transtornos mentais que têm afetado uma parcela considerável da população. Seja pela correria do dia a dia, ou pela cobrança excessiva de demandas de trabalho, rotina exaustiva e com pouquíssimo tempo para descanso e lazer, o fato é que as pessoas estão cada vez mais esgotadas mentalmente e acabam optando por um caminho que consideram mais curto para eliminar os sintomas: a automedicação de remédios psiquiátricos.

A pandemia de Covid-19 – entre os anos de 2020 e 2023, foi um inegável potencializador da venda de antidepressivos e estabilizadores de humor. Segundo um levantamento feito pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), o número de unidades comercializadas desses medicamentos aumentou de 82.667.898, em 2019, ano anterior à pandemia, para 112.797.268, no final de 2022, ou seja, um crescimento de 36% nas vendas.

Em Alagoas, as estatísticas não são diferentes. Em 2019, 635.281 medicamentos, entre antidepressivos e estabilizadores de humor, foram vendidos no estado. Já no ano seguinte houve um aumento de 24% nas vendas. O auge do consumo desse tipo de medicação no estado de Alagoas, de acordo com esse levantamento, foi no ano de 2021, quando foram comercializados mais de um milhão de remédios psiquiátricos.

Mas, diante de um quadro cada vez mais presente de indivíduos que sofrem com o adoecimento da mente, será que a única forma de tratamento para isso são os remédios? E, afinal, quais os principais perigos de iniciar o consumo desse tipo de medicação – que só deveria ser vendida mediante receita médica? A redação do portal 7Segundos entrevistou a médica psiquiatra Dra Jordana Farias, para esclarecer essa e outras dúvidas sobre o assunto.

Dra Jordana Farias, médica psiquiatra

7Segundos:

Dra, quais os principais riscos para a saúde, com o uso de medicamento psiquiátrico não prescrito por um médico?

Jordana Farias:


É imprescindível para o médico fazer o tratamento correto, visto que algumas medicações apresentam efeitos adversos, e sem o entendimento de como funciona o psicofármaco no indivíduo poderá causar risco à vida do paciente. São seis anos de faculdade além de alguns anos de residência médica para o médico ter segurança de realizar um diagnóstico e fazer os protocolos de tratamentos corretos, afinal, a diferença do veneno para o remédio é a dose. Sem o estudo e o devido conhecimento do especialista o paciente correrá sérios riscos de vida.



7Segundos:

Você considera que houve um aumento de diagnósticos como depressão e ansiedade, nos últimos anos, havendo a necessidade da prescrição desse tipo de medicação?

Jordana Farias:


Sim, infelizmente as pessoas estão passando por um declínio em sua saúde mental. Sabemos que a condição socioeconômica do nosso país é um grande gatilho para os dados alarmantes de síndromes ansiosas e depressivas. Com o aumento das doenças, consequentemente terá aumento dos tratamentos medicamentosos.

7Segundos:


Quando o uso de remédios pode ser evitado, ou substituído por outras formas de tratamento?

Jordana Farias:


É necessário realizar uma boa anamnese para formular um protocolo de tratamento, avaliar tempo, período e intensidade dos sintomas, influências genéticas, avaliar rede de apoio, risco de vida entre outros quesitos. Existem casos leves, moderados e graves. A psicoterapia também é tratamento que aliada a atividade física , uma boa alimentação reverte muitos casos ex: ansiedade iniciada há pouco tempo. Porém, pacientes em risco de vida além da medicação muitas vezes será necessário internamento hospitalar.

A médica especialista conclui com uma informação importante acerca do tratamento psiquiátrico, muitas vezes visto de forma preconceituosa por boa parte da população: “As pessoas têm a visão que o psiquiatra só medica, a realidade não é essa. Se houver necessidade será tratado. Existem pacientes que com acompanhamento multidisciplinar melhoram significativamente sem necessidade de psicofármaco. Mas cada caso é um caso”, ressalta.

Tratar de quadros de depressão e ansiedade, por exemplo, requer, antes de tudo, justamente de um acompanhamento médico adequado. Somente o especialista de saúde mental poderá avaliar a gravidade do problema e indicar o melhor tratamento para cada indivíduo.

Atualmente, além da intervenção medicamentosa, existem outras maneiras de combater os sintomas dessas doenças, como por exemplo: mudanças no estilo de vida – que vai desde a alteração na rotina e ajustes nos horários das atividades do dia a dia, até uma alimentação mais saudável e um sono mais regulado; a prática de atividades físicas regulares e, ainda, o acompanhamento psicológico.

Esse última, a terapia com um psicólogo, pode ser incrivelmente eficaz. E mais uma vez o médico psiquiatra tem atuação fundamental nesse momento, pois ele quem deverá indicar a abordagem correta para o paciente.

A psicoterapia, em casos de depressão e ansiedade, acaba sendo fundamental para que a pessoa possa trabalhar os pensamentos disfuncionais e as emoções que estão causando prejuízo. A perspectiva é de que esse tratamento ajude no bem-estar e na melhora do quadro a médio e longo prazo.

Ericka Duarte, psicóloga

A psicóloga comportamental e neuropsicóloga especialista em Análise do Comportamento Aplicada (ABA), Ericka Duarte, explica que, nos últimos anos, houve um aumento da busca por tratamento de pacientes com depressão e ansiedade em seu consultório. Em entrevista para o 7Segundos, ela tira algumas dúvidas sobre a psicoterapia.

A Ericka revelou que a terapia adequada, para casos de depressão e ansiedade, podem ajudar o paciente a identificar e modificar os padrões de pensamento, que são os responsáveis por trazer sofrimento para esses indivíduos.

A abordagem


A especialista em ABA revela que a abordagem que utiliza em suas consultas é a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC), que é uma das formas de psicoterapia que demonstra mais eficácia de acordo com inúmeros estudos clínicos.

Érika conta que por meio do acompanhamento psicológico, o paciente pode chegar a abandonar o uso medicamentoso, o que é uma das grandes dúvidas de muitos pacientes que utilizam esses remédios. Entretanto, a psicóloga explica que isso vai depender de diversos fatores, incluindo a gravidade do transtorno, a reposta individual ao tratamento, além da recomendação médica.

Terapia Social


Na internet, tem sido cada vez mais comum a divulgação de sites onde a população pode buscar por terapia online a preços mais acessíveis. Uma delas é a PsyMeet. Esse site promete oferecer uma gama de opções entre tipos de profissionais, e até mesmo a abordagem de cada um.

O valor de cada sessão, que ocorre online, pode chegar ao custo simbólico de R$30,00, segundo internautas que já utilizaram a plataforma. Uma opção interessante para quem estiver enfrentando uma situação de vulnerabilidade socioeconômica e que precisa de atendimento psicológico urgente.