Ponto a ponto do caso da policial que prendeu assassino do pai 25 anos após crime
Givaldo José Vicente de Deus foi assassinado com um tiro à queima roupa em fevereiro de 1999
Após 25 anos da morte do pai, assassinado com um tiro à queima roupa em Boa Vista, a escrivã da Polícia Civil Gislayne Silva de Deus, de 36 anos, conseguiu justiça: ajudou a prender o acusado pelo crime. Foragido desde 2016, o homem, de 60 anos, foi preso na quarta-feira (25) na capital.
Gislayne era a mais velha de cinco filhos de Givaldo José Vicente de Deus e tinha 9 anos quando perdeu o pai, em 1999. Ele foi assassinado aos 35 anos, com um tiro à queima roupa, disparado por Raimundo Alves Gomes, que cobrava uma dívida de R$ 150.
Raimundo Alves Gomes, foi julgado e sentenciado em 2013 pelo Tribunal do Júri, do Tribunal de Justiça de Roraima (TJRR), 14 anos depois do crime, mas estava foragido desde a expedição do primeiro mandato de prisão, em 2016.
Como foi o crime?
O crime aconteceu no dia 16 de fevereiro de 1999, no bairro Asa Branca, na zona Oeste de Boa Vista, por volta das 16h. A vítima jogava sinuca com um amigo quando Raimundo apareceu no local para cobrar uma dívida de R$ 150.
De acordo com a policial, o pai dela era dono de um mercado e Raimundo era quem fornecia os produtos para ele. No dia do crime, Givaldo de Deus tentou negociar a dívida oferecendo um freezer em troca, mas o acusado não aceitou.
Raimundo deixou o local e cerca de meia hora depois, voltou armado. Conforme depoimento à época, a dona do bar viu a arma e chegou a avisar Givaldo que o acusado estava armado e que iria matá-lo. Raimundo e Givaldo entraram em luta corporal e chegaram a rolar no chão.
Givaldo foi baleado na sequência. Raimundo foi desarmado após o tiro e obrigado pelo amigo da vítima a levá-la para o hospital. Ele fugiu do local logo depois, a pé, mas foi preso pela Polícia Militar poucos metros depois.
Condenação
Raimundo foi preso em flagrante no dia do crime, mas liberado depois. Em novembro de 2013, ele foi julgado e sentenciado pelo Tribunal do Júri. A sentença foi de exatos 12 anos de prisão.
O caso teve a tramitação concluída ainda em 2013. Três anos depois, em 2016, a Justiça de Roraima expediu o primeiro mandado de prisão contra Raimundo Alves Golpes e desde então, ele era considerado foragido.
O crime de homicídio prescreve após 20 anos, a partir da sentença condenatória e se a pena for maior que 12 anos. De acordo com o advogado e presidente da Associação Nacional da Advocacia Criminal (Anacrim) em Roraima, Bruno Caciano, no caso de Raimundo, que teve a pena de 12, a prescrição seria em 16 anos a contar da conclusão do julgamento, ou seja, em 2031 — faltavam sete anos para que isso acontecesse.
Filha se tornou policial
Gislayne e as irmãs, outras quatro filhas de Givaldo, ficaram órfãs de pai. A mais nova tinha apenas 2 anos quando o crime ocorreu e cresceu sem lembranças dele.
A família nunca desistiu de que a justiça fosse feita. Gislayne não planejou ser policial mas, como se por obra do destino, foi pendendo para isso. Aos 18 anos, em 2007, ela iniciou o curso de direito e, sete anos depois, se tornou advogada.
Em 2022, ela ingressou na polícia penal de Roraima e atuou na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, a maior do estado, e também no Departamento do Sistema Prisional (Desipe), inclusive durante sua gravidez. Ela contou que ao trabalhar em uma unidade prisional, imaginava ver o assassino do pai, enfim, preso.
"Quando eu era [policial] penal, eu imaginava sempre ele chegando lá para cumprir a pena dele", afirmou a policial.
Um ano depois ela foi aprovada no concurso público da Polícia Civil e no dia 19 de julho de 2024 assumiu como escrivã. Ao ingressar na corporação, ela pediu para ser lotada na Delegacia Geral de Homicídios (DGH). Ela acreditava que, por meio da unidade, poderia encontrar e, finalmente, prender o autor do crime.
No departamento, ela reuniu informações sobre o paradeiro do homem e localizou o último mandado de prisão, expedido em 2019 pela Justiça de Roraima.
Prisão
A prisão de Raimundo Gomes aconteceu na noite da última quarta-feira (25), em uma área de chácaras no bairro Nova Cidade, na zona Oeste de Boa Vista.
Um vídeo registrou o momento em que a escrivã ficou frente a frente com o assassino do pai (veja acima). Ao g1, Gislayne contou que, após o encontro dela com o assassino do pai, ele disse que não tinha intenção de cometer o crime.
Raimundo passou por audiência de custódia na quinta-feira (26), onde teve a prisão mantida. Ele foi encaminhado para o sistema prisional de Roraima.