Desabastecimento de vacinas atinge 65,8% dos municípios brasileiros, aponta pesquisa
O Ministério da Saúde nega um problema generalizado e diz que, em dezembro, atendeu "100% do que foi solicitado pelos estados"
Uma pesquisa conduzida pela Confederação Nacional de Municípios (CNM), entre 29 de novembro e 12 de dezembro, revelou um dado alarmante: 65,8% dos municípios brasileiros enfrentam desabastecimento de vacinas essenciais. A divulgação, realizada nesta sexta-feira (27), apontou que o problema afeta principalmente imunizantes contra varicela, Covid-19 e DTP (difteria, tétano e coqueluche), expondo a população a riscos crescentes em meio a surtos e aumento de casos de doenças preveníveis, informa a Folha de S. Paulo.
De acordo com a pesquisa, que abrangeu 2.895 municípios, a vacina contra a varicela lidera o ranking de escassez, estando indisponível em 52,4% das cidades consultadas (1.516). Em média, essas localidades enfrentam mais de 90 dias sem reposição do imunizante. A situação é agravada pela falta de vacinas contra a Covid-19 para adultos, reportada em 25,4% das cidades (736), com interrupções médias de 45 dias nos estoques.
A gravidade da situação é destacada pelo presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, que atribui o problema à irregularidade nos estoques nacionais, cuja gestão é responsabilidade do Ministério da Saúde. Ziulkoski alertou para o impacto do "relaxamento" da população em relação à vacinação, combinado à falta de doses, que pode ampliar as lacunas de cobertura vacinal.
Ministério da Saúde contesta cenário de crise - O Ministério da Saúde nega um problema generalizado. Segundo Éder Gatti, diretor do Departamento do Programa Nacional de Imunizações, "o Ministério cumpre o seu papel na aquisição das vacinas e, em dezembro, tivemos o atendimento de 100% do que foi solicitado pelos estados". Ele reconheceu, contudo, atrasos pontuais, como no caso da vacina contra varicela, devido a falhas de produção do fornecedor, com expectativa de regularização no início de 2025.
Sobre a vacina contra a Covid-19, Gatti garantiu haver estoques suficientes e ressaltou que novas distribuições ocorreram no final de novembro e início de dezembro. Entretanto, a escassez de outras vacinas, como a DTP, é preocupante, especialmente diante do maior surto de coqueluche desde 2014. O Brasil registrou um aumento de quase 2.000% nos casos da doença em 2024, totalizando 4.395 casos e 17 óbitos, dos quais 16 em crianças menores de um ano.
Vacinas em falta e impacto regional - O levantamento também identificou ausência de outras vacinas importantes: meningocócica C (12,9% dos municípios), tetraviral (11,6%) e febre amarela (9,7%). Santa Catarina lidera a lista de estados mais afetados, com 87% das cidades relatando desabastecimento, seguido por Ceará (86%), Espírito Santo (84%) e Minas Gerais (83%).
A distribuição desigual também chama a atenção. No Sudeste, 72% dos municípios reportaram falta de vacinas, seguido pelo Centro-Oeste (67%), Nordeste (64%), Sul (63%) e Norte (42%).
Soluções e desafios logísticos - O modelo de logística compartilhada do Programa Nacional de Imunizações — em que o governo federal é responsável pela compra e distribuição aos estados, enquanto estados e municípios distribuem localmente — é apontado como parte do problema. Em meio a atrasos e falhas na cadeia de fornecimento, gestores municipais cobram maior eficiência do Ministério da Saúde e um reforço no planejamento de estoques.