SBT demite jornalista com câncer: 'Mudança é gritante após morte de Silvio'
A emissora demitiu uma leva de funcionários na última segunda-feira (5)
O SBT demitiu uma leva de funcionários na segunda-feira (5), entre eles, uma produtora de jornalismo que está com câncer. Contatada pela reportagem, a emissora disse que "essas ações fazem parte da reestruturação pela qual o departamento de jornalismo do SBT está passando".
O que aconteceu
Splash conversou com a agora ex-funcionária, que pediu anonimato por medo de represálias. Ela estava no canal desde 2017, e era produtora especial do SBT, com passagens por programas como SBT Brasil e Primeiro Impacto.
A jornalista foi diagnosticada com câncer em 2019 e realizava o tratamento médico graças ao convênio que tinha da empresa. Ela faz uso do medicamento Lorbrena, indisponível no SUS, com custo de cerca de R$ 35 mil por mês. A medicação ajuda a conter o avanço da metástase.
Splash teve acesso ao laudo médico da profissional, que está com adenocarcinoma de pulmão em estágio 4. A doença se espalhou para o cérebro. "Esse remédio conseguiu, no meu caso, segurar bem a doença. Eles [os tumores] estão lá, a imagem mostra, mas eles não cresceram. No cérebro não pode crescer nada", contou à reportagem.
Demissões
Segundo a jornalista, as demissões começaram com a chegada de Leandro Cipoloni, agora diretor nacional de jornalismo. "Ele chegou uma semana antes do Natal. A pessoa que ele colocou ia chamando cada um, dizendo que é uma questão de reestruturação e que eles precisavam desligar a gente".
Ela diz que a demissão foi uma surpresa. "Graças ao convênio do SBT, eu me trato em hospital de ponta. Quando fui chamada para ser cortada, eu falei: 'Vocês não vão me propor nenhum acordo? Como é que faz? Porque eu estou em tratamento'. Eu falei para eles: 'Me deixem só com o convênio, não paga a rescisão, eu dou um jeito de trabalhar com outra coisa'. Na hora você fica desesperado".
Todo mundo sabe a luta que é [lidar com o câncer]. Tem dia que você passa mal, tem dia que você não consegue trabalhar. Mas, desde que eu estou com esse remédio forte, eu não fiz nenhuma burrada. Então foi um susto. Não tem nenhum produtor que entenda de política como eu entendo na Redação.
A profissional contou que um dos argumentos usados foi de que ela não adquiriu o câncer devido ao SBT. Agora, ela tem o tratamento garantido por seis meses. "Depois eu faço o quê? Porque eu não sei se vou estar trabalhando. Não é simples".
Mudança após a morte de Silvio Santos
Para a jornalista, a experiência de trabalhar no SBT mudou muito após a morte de Silvio Santos. "A mudança é gritante. A empresa tem que dar lucro. É o que você ouve no corredor: 'Vamos fazer um novo SBT'".
Ela diz que, nos bastidores, todos estão com medo de perder o emprego. "Mudou muito o clima. As pessoas estão chorosas. E o que é mais impressionante é que o SBT sempre foi conhecido como a empresa com o melhor clima para trabalhar".
Não tinha clima melhor, era uma emissora leve, sabe? A mudança precisa existir, mas não dessa forma tão bruta.
Posicionamento do SBT
Procurada por Splash, a assessoria do SBT não falou sobre o caso da funcionária com câncer, apenas citou que as ações fazem parte da reestruturação pela qual o departamento de jornalismo do SBT está passando. "Não se trata de corte de profissionais e, sim, de substituições/reestruturação, que estão sendo realizadas pela nova direção do departamento de jornalismo. Ressaltamos que o SBT não comenta suas estratégias operacionais", informaram, em nota.
Daniela Beyruti, vice-presidente do canal, comentou em uma publicação no Instagram que "não estava sabendo" da demissão da funcionária com câncer. "Não estou sabendo disso, vou investigar", escreveu. Até o momento da publicação dessa reportagem, a mulher não havia sido contatada pela emissora após a demissão.