Inflação faz consumidor recorrer ao crédito e eleva o endividamento na capital
Volume de dívidas cresceu 2,3%, em fevereiro, e o número de inadimplentes subiu 7,6%

O Carnaval passou, mas as contas parecem ter ficado nos orçamentos dos maceioenses. A Pesquisa do Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), feita em parceria entre o Instituto Fecomércio AL e a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), aponta um crescimento de 2,3% no endividamento e de 7,6% na inadimplência, em fevereiro. Na comparação anual, o volume de pessoas com dívidas aumentou 29,2% e o de contas em atraso chegou a 43,9%.
As elevações nos indicadores anuais sugerem que, ao longo de 2024, o consumidor sentiu a inflação e recorreu ao crédito, mas enfrenta dificuldades para equilibrar o orçamento. Apesar disso, o percentual de famílias endividadas sem condições de pagarem seus débitos recuou -1,9%, no mês, e -7,1%, no ano.
Na variação mensal, o percentual de famílias muito endividadas subiu 4,88% e, das mais ou menos endividadas, 9,44%. Com isso, houve redução nos percentuais de famílias pouco endividadas (-5,18%) e sem dívidas (-8,11%). “Esse cenário reflete a conjuntura econômica brasileira marcada pela alta inflação, pelo aumento das taxas de juros e desaceleração do crescimento econômico, apesar do emprego ainda continuar estável. Esses fatores impulsionam o endividamento, pois as famílias recorrem ao crédito para manter o padrão de vida”, ressalta Francisco Rosário, assessor econômico do Instituto Fecomércio.
Endividamento é maior nas famílias com menor renda
No geral, o maior percentual de famílias endividadas encontra-se na faixa de renda de até 10 salários-mínimos (sm). Nesta faixa, aumentou 4,3% o volume de famílias muito endividadas, enquanto nas de maior renda (acima de 10 sm), este percentual foi de 2,4%. Mas há uma ressalva: apesar do percentual menor nesta faixa, o número praticamente dobrou em relação a janeiro.
No desagregado de renda, as duas faixas tiveram alta de dívidas: 2,2% nas famílias de menor renda e 5,3% nas de maior renda (bem próximo aos 5,5% de janeiro). Isso indica que famílias com mais renda têm mais acesso ao crédito e maior intenção de consumo, conforme apontado pelo Índice de Consumo das Famílias (ICF). “Já as de menor renda, por terem menor acesso ao crédito e maior sensibilidade aos juros altos, veem seu endividamento crescer em ritmo mais lento”, observa Rosário.
Maceioenses passam 66 dias com contas em atraso
Em média, as famílias maceioenses passam 66 dias com contas em atraso e comprometem o orçamento por 30 semanas para quitar dívidas. Destes, 10,6% comprometem a renda por três meses; 32,6% de três a seis meses; 48,4% de seis meses a um ano; e 8,1% por mais de um ano.
O peso das dívidas no orçamento varia: 8,9% comprometem até 10% da renda; 83,5% entre 11% e 50%; e 4,9% mais de 50%. Outros 2,7% não souberam estimar. Em média, 29,6% da renda familiar vai para dívidas - quase no limite considerado saudável (30%).
Houve um recuo de -1,9% no volume das famílias de menor renda que não poderão pagar suas dívidas, em fevereiro. Já entre as de maior renda, esse número aumentou 120% na variação anual, o que preocupa, pois o endividamento cresce mais rápido que o consumo. “O consumo da faixa de renda mais alta está sendo afetado pela inflação de serviços e pelo crédito caro, levando ao endividamento acelerado para manter o padrão de consumo”, explica o economista.
Sobre os tipos de dívidas, o cartão de crédito responde por 98,4% das dívidas; carnês, 31,1%; crédito pessoal, 4,7%; financiamento de casa e carro, 4,3% cada; crédito consignado, 1,6%; cheque especial, 0,4%. Outras formas somam 3,4%
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