Saúde

Alagoas registra aumento de ocorrências de surto psicótico no 1º trimestre de 2025

Segundo psicóloga, aumento pode ter sido motivado pelo resultado da vida das pessoas em sociedade e pela forma como os determinantes sociais afetam o indivíduo

Por Jamerson Soares 22/03/2025 08h08 - Atualizado em 22/03/2025 10h10
Alagoas registra aumento de ocorrências de surto psicótico no 1º trimestre de 2025
Ocorrências de surto psicótico aumentam no primeiro trimestre de 2025 em Alagoas - Foto: Ilustração

O período carnavalesco passou e com ele também veio aquela sensação de que a realidade bate à porta, incluindo a reabertura da percepção sobre as problemáticas que assolam a sociedade. Uma delas é a grande quantidade registrada de surtos psicóticos, que vem chamando a atenção durante o mês de março de 2025 em Alagoas.

Verificando a lista de ocorrências em tempo real do Corpo de Bombeiros, foi possível ver que de quinta (20) para essa sexta-feira (21), por exemplo, foram registrados cerca de 20 casos de surto. A maioria dos atendimentos foi realizada em Maceió e União dos Palmares.

Dados disponibilizados pela corporação revelam que de janeiro a março de 2024, foram atendidos 29 casos. No mesmo período de 2025, o número subiu para 35.

No Brasil, houve um aumento no número de atendimentos para surtos nos últimos cinco anos, segundo dados do Ministério da Saúde. Em 2020, pouco mais de 5 milhões de casos foram atendidos, enquanto em 2024 esse número ultrapassou 9 milhões.

De acordo com especialistas, o crescente aumento pode ter sido provocado pelos efeitos da pandemia, o agravamento de transtornos mentais e o aumento do consumo abusivo de substâncias químicas.

Para Milena Costa, psicóloga e especialista em saúde mental, direitos humanos e populações vulnerabilizadas, esse aumento de casos pode ter sido motivado pelo resultado da vida das pessoas em sociedade e pela forma como os determinantes sociais afetam o indivíduo.

"Não dá pra gente colocar tudo nas costas do biológico, como o neoliberalismo quer que a gente faça, individualizando questões que são coletivas. Acredito que pensar em saúde mental é necessariamente pensar nos determinantes sociais de saúde: pensar como que está a renda dessa população, o acesso à moradia, à educação, à segurança ou insegurança alimentar, inclusão social e o desenvolvimento da infância", explicou a profissional.

O que é o surto?

Segundo a psicóloga, o surto pode ser considerado um quadro psicótico breve e agudo, que geralmente acontece depois de algum trauma, dependendo do contexto de vida em que a pessoa se encontra e tendo como sintomas: ideias delirantes, de perseguição, alucinação, ansiedade, entre outros.

"Geralmente os sintomas são ideias delirantes, em geral, paranoides de perseguição, alucinação, seja visual, auditiva, confusão mental, ansiedade acentuada, muito medo também e uma agitação motor é muito comum. Claro que é de pessoa para pessoa, então depende de como vai materializar esse sofrimento", pontuou.

A especialista também explicou que o surto não é comum só em pacientes esquizofrênicos, ou seja, qualquer pessoa pode chegar em um estado extremo de exaustão e desorganização mental e emocional.

"E nada acontece do nada, sempre existem motivações. Mas, como todo o sofrimento psíquico, o surto psicótico é multifatorial. Não dá pra gente relacionar a uma única causa. Geralmente é um conjunto de fatores que levam a pessoa a chegar nesse estado: seja em relação com o trabalho, as relações ao redor, com o dinheiro, com a sexualidade, com a raça ou com o território".

Psicóloga Milena Costa. (Foto: cortesia)

Cidade e infância

Sobre a maioria dos casos registrada em Maceió, a profissional acredita que as causas podem estar relacionadas com a proporção da cidade, já que é a mais populosa de Alagoas e é a que tem o maior número de equipamentos de saúde.

"Porém acho válido, sim, relacionar esses dados ao contexto da cidade, como é que está a qualidade de vida em Maceió, como é que está a taxa de desemprego, como é que está a renda da população, a mobilidade urbana, como é que está o acesso à cultura. Então eu acho válido relacionar esses dados ao contexto da cidade sim, pensando na qualidade de vida do cidadão", disse ela.

Ainda segundo a psicóloga, a infância é o período em que as pessoas estão mais suscetíveis a um sofrimento mais intenso diante do contexto que estão inseridas.

"E nisso também cabe o público LGBTQIA+, diante do acesso que essas pessoas têm, como é que está o acesso à saúde, alimentação, cultura, mobilidade, se essa pessoa consegue transitar em todos os espaços, então acredito que a gente pode fazer essa relação e pensar sobre problematizar".

Orientações do Corpo de Bombeiros

Quando se trata de lidar com uma pessoa em surto, seja em casa ou na rua, é essencial agir com calma e empatia. Confira abaixo algumas orientações gerais que podem ajudar.

Para quem presencia alguém em surto:
1. Mantenha a calma: evite gritar ou fazer movimentos bruscos, pois isso pode agravar a situação;
2. Garanta a segurança: certifique-se de que a pessoa e as pessoas ao redor estejam em um ambiente seguro. Afaste objetos perigosos, se possível;
3. Comunique-se com cuidado: fale de forma tranquila e respeitosa. Evite confrontos ou discussões;
4. Chame ajuda especializada: entre em contato com o Corpo de Bombeiros (193) ou com o SAMU (192) para assistência médica e psicológica;
5. Evite contenção física: só use contenção física se for absolutamente necessário e com muito cuidado, para evitar ferimentos.

Para quem percebe que está prestes a ter um surto:
1. Procure um local seguro: afaste-se de situações ou ambientes que possam piorar o estado emocional;
2. Respire profundamente: técnicas de respiração podem ajudar a reduzir a ansiedade;
3. Peça ajuda: entre em contato com um amigo, familiar ou profissional de saúde mental.
4. Informe alguém de confiança: se possível, avise alguém sobre o que está sentindo para que possam ajudar;
5. Evite decisões impulsivas: tente não tomar decisões importantes nesse momento.