Direitos Humanos

Intérprete de Libras da Uncisal transforma inclusão em realidade

Profissional há nove anos na universidade, Dayseelle Magalhães garante acessibilidade e promove equidade para estudantes, servidores e pacientes surdos

Por Agência Alagoas 26/09/2025 11h11 - Atualizado em 26/09/2025 11h11
Intérprete de Libras da Uncisal transforma inclusão em realidade
Ao longo da carreira, muitas experiências se tornaram inesquecíveis para a intérprete de Libras da Uncisal Dayseelle Magalhães - Foto: Assessoria

No Dia Internacional do Tradutor e Intérprete de Libras, celebrado em 30 de setembro, a Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal) destaca a trajetória de Dayseelle Magalhães, intérprete de Libras que há nove anos atua na instituição. Ela garante acessibilidade, inclusão e equidade para estudantes, servidores e pacientes surdos.

A relação de Dayseelle com a Língua Brasileira de Sinais começou por acaso, em um curso do Senai, em Maceió. Fascinada pelo universo visual, ela se inscreveu e, após alguns anos de espera, mergulhou no aprendizado. O entusiasmo abriu caminho para novas formações, como o curso de intérprete oferecido pela Associação de Amigos e Pais de Pessoas Especiais (AAPPE). Aos 20 anos, já como profissional, ela foi chamada para atuar no Centro Universitário Cesmac. “Quando me vi no meu primeiro emprego, como intérprete, eu disse: é isso que eu quero para a minha vida”, lembra.

Desde então, Dayseelle nunca parou de estudar. Graduada em Letras Libras, especialista em Tradução e Interpretação e em Educação Bilíngue para Surdos, atualmente é mestranda em Educação Especial pela Uncisal.

Histórias que marcam


Ao longo da carreira, muitas experiências se tornaram inesquecíveis. Uma delas foi acompanhar o desenvolvimento de Maria Luísa, alfabetizada por ela ainda aos quatro anos. “Era uma criança que não tinha língua, só se comunicava por gestos caseiros. Quando mostrei a Libras, ela se desenvolveu de uma forma extraordinária. Hoje, aos 14 anos, sinaliza perfeitamente e entende o mundo ao seu redor”, conta.

Na área da saúde, a história também se multiplica. “Imagine presenciar um parto e poder passar à mãe, naquele momento tão delicado, tudo que estava acontecendo”, relembra. Para ela, cada situação reforça a responsabilidade e a beleza de ser intérprete: “Garantir o acesso é mais do que traduzir palavras, é possibilitar que a pessoa participe do mundo.”

Além da interpretação, ela também promove cursos de Libras para colegas ouvintes. Em uma dessas experiências, sete alunos surdos conseguiram interagir diretamente com a turma. “Quando um deles disse no final que se sentia igual a todos, aquilo me marcou profundamente. A Libras dá pertencimento.”, lembrou.

Inclusão na universidade


Na Uncisal, Dayseelle vê sua função como instrumento de transformação social. “Dentro de uma instituição pública, a presença do intérprete é a garantia da equidade. Imagine ser uma pessoa surda e não poder ter acesso a informações simples. Estar aqui, possibilitando esse acesso, reafirma o papel da universidade como promotora de direitos e inclusão”, afirma.

A rotina, no entanto, exige preparo constante. Termos técnicos de diferentes cursos e áreas demandam estudo permanente. Já na saúde, a responsabilidade é ainda maior. “Interpretar pode impactar diretamente a vida de alguém. Um detalhe mal transmitido pode comprometer até o uso correto de um medicamento”, explica.

Para Dayseelle, o Brasil ainda precisa avançar muito em políticas públicas. “Mesmo com a Lei 10.436, o acesso ainda não é pleno. Vimos isso na pandemia, quando muitos surdos ficaram sem informação por falta de intérpretes e legendas. É preciso garantir a presença da Libras em todos os espaços”, ressaltou.

Libras como elo


Setembro é um mês simbólico para a comunidade surda. Entre as datas comemorativas estão o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência (21), o Dia Internacional das Línguas de Sinais (23), o Dia Nacional do Surdo, que marca a fundação do Imperial Instituto de Surdos Mudos (INES), a primeira escola para surdos no Brasil, em 1857 (26), e o Dia Internacional do Tradutor e Intérprete de Libras e Dia Internacional do Surdo (30). Essas datas reforçam a importância da Libras e o impacto do trabalho de Dayseelle na Uncisal.

Ao refletir sobre sua trajetória e o mês de setembro, marcado por várias datas importantes para a comunidade surda, Dayseelle deixa uma mensagem à comunidade acadêmica: “A Libras não é apenas um recurso de acessibilidade, mas um elo de pertencimento. Ela abre portas, conecta pessoas e promove equidade. Investir no aprendizado e no respeito à Libras é investir em uma universidade mais justa, inclusiva e humana”.