Política

Flávio Dino dá despacho blindando chefe de sindicato do irmão de Lula

Decisão do ministro permite a Milton Cavalo permanecer em silêncio durante depoimento na CPMI do INSS

Por Metropóles 09/10/2025 13h01
Flávio Dino dá despacho blindando chefe de sindicato do irmão de Lula
Flávio Dino, ministro do Supremo Tribunal Federal - Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino concedeu habeas corpus permitindo ao presidente do Sindinapi, Milton Cavalo, permanecer em silêncio durante seu depoimento na CPMI, nesta quinta-feira (9/10).

“Me parece parte de um grande esquema de blindagem que usa advogados milionários e que tem muito relacionamento em Brasília”, disse o presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG). “Hoje, estamos mais uma vez de mãos amarradas por conta de uma decisão do Supremo Tribunal Federal, que é no mínimo estranha”, diz ele.

A decisão de Dino segue a jurisprudência de outros despachos anteriores. Graças ao despacho de Dino, Cavalo pode se recusar a falar. Não está sequer obrigado a fazer o juramento de dizer apenas a verdade.

A nova fase da Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal (PF) e pela Controladoria-Geral da União (CGU) na manhã desta quinta-feira, incluiu o cumprimento de mandados de busca e apreensão (BA) na casa do presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), Milton Cavalo.

O sindicalista tem depoimento marcado na CPMI do INSS, no Congresso Nacional, também na manhã desta quinta-feira. Segundo parlamentares, ele já chegou ao Senado Federal para depor.

Os policiais também estiveram na sede do Sindnapi e no Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região (Sindmetal), do qual Cavalo é diretor. Na sede do Sindnapi, o foco da PF foi a Cooperativa de Crédito dos Aposentados e Pensionistas (Coopernapi), ligada ao sindicato.

A Coopernapi funciona dentro do prédio do Sindnapi, no Centro de São Paulo. Segundo relatórios de inteligência financeira (RIFs) recebidos pela CPMI do INSS, a cooperativa, que atua como uma agência bancária do Sistema de Cooperativas Financeiras do Brasil (Sicoob), era usada nas movimentações financeiras do Sindnapi.

Entre janeiro de 2019 e junho de 2025, o sindicato movimentou R$ 1,2 bilhão na Coopernapi — sendo R$ 586 milhões em créditos e R$ 613,9 milhões em débitos. Há também registros de operações em dinheiro vivo realizadas na cooperativa.

Ao todo, a PF cumpre 66 mandados de busca e apreensão em sete estados e no Distrito Federal. Os mandados foram expedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) — atualmente, as investigações da Sem Desconto estão sob a relatoria do ministro André Mendonça.

A Farra do INSS foi revelada pelo Metrópoles em uma série de reportagens publicadas a partir de 2023. Em abril deste ano, o escândalo passou a ser alvo da PF com a primeira fase da Operação Sem Desconto, que vem deflagrando uma série de medidas contra a organização criminosa responsável pelos descontos irregulares.

Sindicato pagou R$ 8,2 milhões a empresas de dirigentes

Como mostrou a coluna, o Sindnapi pagou pelo menos R$ 8,2 milhões a empresas pertencentes a familiares de dirigentes da entidade.

Os pagamentos mencionados nos RIFs referem-se ao período de 2019 a 2025. Os repasses foram feitos pelo sindicato a empresas cujos donos são parentes do atual presidente, Milton Baptista de Souza Filho, o Milton Cavalo, e do ex-presidente, seu antecessor, João Batista Inocentini, o João Feio, morto em agosto de 2023.

Em reportagens anteriores, a coluna revelou o aumento do patrimônio dos dirigentes do Sindnapi durante o período da “Farra do INSS”.

Entre 2022 e 2024, por exemplo, a família de João Batista Inocentini ergueu mansão de 519 metros quadrados, com piscina e lago artificial, em um sítio localizado em Jarinu (SP). Inocentini fundou e comandou o Sindnapi até sua morte, em 2023.

Já Milton Cavalo, atual presidente da entidade, construiu casa de 360 metros quadrados em seu sítio, em Atibaia (SP).