Mergulhadores buscam adolescentes perdidos em caverna inundada na Tailândia
Centenas de pessoas estão mobilizadas há oito dias no resgate dos 12 garotos e seu técnico de futebol que, no sábado passado, entraram em um complexo rochoso subterrâneo e não foram mais vistos desde então
Há oito dias, 12 garotos de um time de futebol e seu técnico de 25 anos chegaram no início da tarde à entrada da caverna Tham Luan Nang, na Tailândia. Eles prenderam suas bicicletas ao gradil, pegaram suas mochilas e entraram no local para aparentemente explorar as profundezas de uma montanha no norte do país - e não foram mais vistos desde então.
O lugar na Província de Chiang Rai é a quarta caverna mais longa da Tailândia e bastante popular por turistas e com quem vive ali por suas impressionantes formações rochosas de pedra calcária.
Primeiro, elas se abrem e formam um ambiente amplo e de teto alto, parecido com o de um grande anfiteatro, e depois dão em passagens estreitas que levam a uma rede de cavernas menores nas quais os locais dizem não ser seguro se aventurar, especialmente durante a temporada de chuvas, que normalmente começa em julho.
Algumas horas depois do grupo entrar, um guarda notou que as bicicletas ainda estavam por ali, mesmo depois do horário de fechamento do parque onde fica Tham Luan Nang.
Deu-se então o início de uma angustiante busca pelos meninos, que têm idades entre 11 e 16 anos, e seu treinador. A grande mobilização de esforços comove o mundo em torno de uma corrente de apoio e esperança de que o grupo será encontrado.
Especialistas em cavernas disseram à BBC que, contanto que eles estejam em um local acima do nível da água que inundou a caverna, há chance de sobreviverem. Tudo depende se o grupo encontrou um local com água potável.
Eles poderiam sobreviver oito dias sem comida, disse o diretor do Departamento de Serviços Médicos, Somsak Akkasilp. Mas eles correm o risco de contrair uma infecção devido à água suja ou em contato com um animal dentro da caverna, acrescentou.
Os maiores riscos são a hipotermia e a falta de oxigênio. Acredita-se que a temperatura no interior da caverna seja de 20°C a 25°C, o que é relativamente quente. Isso não deve ser um problema se suas roupas não estiverem molhadas.
A natureza porosa da pedra calcária também favorece que haja oxigênio suficiente no interior, mas sabe-se que cavernas na região podem conter bolsões de ar de má qualidade, com um alto nível de dióxido de carbono.
"O que inundou foi uma passagem estreita de cerca de 2 km que leva para dentro da caverna. Se os meninos estiverem do outro lado dela, podem estar em uma câmara mais elevada que ainda pode estar seca", disse Joshua Morris, que organiza tours por montanhas e cavernas na Tailândia e colocou duas de suas equipes para ajudar no resgate.
Existe ainda a necessidade de controlar o medo e o lado psicológico. "Estar preso em uma caverna assim é provavelmente uma das coisas mais aterrorizantes pelas quais uma pessoa pode passar", afirmou Morris.
Interior da caverna inundado
Grandes níveis de precipitação podem fazer o interior da caverna ser inundado em até cinco metros, por isso recomenda-se que ela seja explorada apenas entre novembro e abril, como informou um guia local à BBC.
Começou a chover não muito tempo depois que o time e seu técnico entraram, e esse tem sido um dos principais obstáculos até agora.
Logo, a chuva tornou impossível passar pela entrada principal da caverna - acredita-se que isso tenha impedido o grupo de voltar.
Equipes de resgate tentam usar bombas industriais para drenar a água, mas o nível sobe mais rápido do que o volume que é possível retirar.
Chuva intensa dificulta o resgate
Diante desse problema, foi necessário então buscar outra forma de entrar. Especialistas acreditam que a rede de cavernas tem outras passagens para seu interior, mas encontra-las em meio à floresta é bastante difícil.
A chuva intensa também prejudica o trabalho a partir do ar, em helicópteros, para encontrar novas entradas. Também limita o alcance de drones, usados para detectar sinais de calor dentro da rocha que poderiam indicar onde estão os desaparecidos.
Um robô subaquático também foi empregado para enviar informações sobre o nível de água no interior da caverna e as condições do local.
Enquanto isso, mergulhadores da marinha tailandesa foram acionados para sair em busca do grupo na rede de cavernas inundada. Quatro mergulhadores britânicos e militares americanos também estão auxiliando.
Mas os mergulhadores têm de passar por locais muito apertados e não podem ir muito longe, pois podem ficar sem ar. A escuridão quase completa dentro da rede de cavernas e o acúmulo de destroços e lama também prejudicam sua visibilidade, que é de apenas alguns centímetros à frente.
A sensação de navegar pelas passagens inundadas foi descrita por eles como "nadar em café quente".
Pegadas de esperança
Na terça-feira, foram vistas pegadas recentes dentro do complexo de cavernas, o que deu esperança de que os desaparecidos estariam em segurança.
Mensagens enviadas pelos garotos antes de começar a exploração indicavam que eles tinham levado lanternas e comida, mas é improvável que estivessem preparados para passar mais do que algumas poucas horas ali dentro.
Apoio pelas redes sociais
O caso mobilizou o país. Tailandeses formaram pelas redes sociais uma corrente de esperança. Uma hashtag que pode ser traduzida como "os estranhos que queremos conhecer mais" está sendo usada para transmitir a preocupação com o grupo.
Outras hashtags que se traduzem em frases como "13 vidas devem sobreviver" e "tragam para casa os jogadores Moo Pa" também são usadas.
No local de resgate, passados os primeiros dias, como voluntários e equipes não haviam até então conseguido encontrar uma outra entrada para a caverna, as autoridades elaboraram um plano: perfurar a pedra para criar uma passagem alternativa para o interior da montanha.
Mas a dificuldade para achar um local adequado para posicionar o maquinário pesado em meio à mata na encosta repleta de lama da montanha, e, ao mesmo tempo, garantir que as rochas ao redor não desmoronariam tornaram essa ideia impraticável.
Na sexta-feira, o primeiro-ministro Prayut Chan-o visitou a base de resgate, no estacionamento da entrada da caverna, onde estão 840 soldados, 90 integrantes de forças especiais, quatro helicópteros, escavadores e equipamentos para situações de desastre. Familiares dos desaparecidos também estão acampados do lado de fora da caverna.
No mesmo dia, foi identificada uma pequena abertura nas montanhas sobre a caverna. Especialistas britânicos entraram por meio dela e conseguiram chegar a uma profundidade de 20 metros. Policiais também a usaram para atingir uma grande câmara que ainda está seca e que esperam que leve a outras partes do complexo de cavernas.
'Caixas de sobrevivência'
Essa é uma solução considerada mais promissora enquanto a chuva não der uma trégua. O excesso de precipitação chegou a fazer com que o bombeamento de água tivesse de ser parado na quinta-feira. Os mergulhadores interromperam seus esforços diversas vezes pelo mesmo motivo.
A quantidade de chuva que cai neste momento é "incomum" mesmo para essa época do ano, disse o governador de Chiang Rai, Narongsak Osotthanakorn, à emissora CNN. "Nossas equipes lá dentro tiveram de retroceder para a boca da caverna. Não podemos lutar contra a água", afirmou.
Dezenas de "caixas de sobrevivência" contendo comida, mapas, celulares foram enviadas para a caverna, de acordo com a polícia.
O plano é que sejam mandadas para seu interior por passagens que sejam encontradas nas rochas e, se não chegarem diretamente até os meninos e seu técnico, flutuem pelos rios formados lá dentro e atinjam o local onde eles estão.
Elas carregam ainda uma mensagem: "Se for recebida, enviem uma resposta e mostrem no mapa onde estão".
Também há planos de enviar câmeras para as áreas profundas da caverna e, assim, elaborar quais serão os próximos passos ou até mesmo fazer contato com os desaparecidos.
Em uma coletiva de imprensa neste sábado, Narongsak Osotthanakorn disse que o país tem lições a aprender com esse tipo de operação, até então inédita. Enquanto isso, equipes treinavam a retirada de pessoas em macas para estarem prontas caso o grupo seja achado.