Mudanças no Twitter preocupam pesquisadores brasileiros sobre regulação das redes sociais
Especialistas ressaltam que modificação na plataforma é ainda mais sensível para o Brasil porque pode acontecer em meio à eleição presidencial
O anúncio de que acionistas do Twitter aceitaram a proposta do milionário Elon Musk para comprar a plataforma levou ao aumento da preocupação de especialistas com a regulação das redes sociais. Argumentando aumentar a ”liberdade de expressão”, o empresário pretende mudar as políticas de moderação de conteúdo da plataforma, utilizada por cerca de 400 milhões de usuários no mundo todo.
Na opinião de especialistas ouvidos pela CNN, no Brasil, o tema fica ainda mais sensível porque a mudança pode acontecer em meio à eleição presidencial. O anúncio de Musk já causou agitação de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), que teve influenciadores bloqueados, como o deputado federal Daniel Silveira (PTB_RJ) e o blogueiro Allan dos Santos.
Para Yasmin Curzi, pesquisadora do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV, as mudanças pretendidas por Musk podem significar um retrocesso em acordos internacionais sobre moderação de conteúdo.
“A pressão de movimentos sociais e organizações internacionais têm feito com que o Twitter e outras plataformas revejam o conceito de liberdade de expressão e o equiparem a ordenamentos legais como o brasileiro. Nós já temos problemas suficientes, sobretudo em relação a ofensas a minorias em idiomas que não são o inglês, mas pelo menos a plataforma tem como política enfrentar o discurso de ódio e a desinformação. O que ele [Musk] está falando, basicamente, é que tudo isso pode ser desmantelado. Há um risco para o debate político”, avalia.
Com cerca de 17 milhões de inscritos no país e embora o Twitter não seja a rede social favorita dos brasileiros – fica atrás do Facebook (130 milhões), YouTube (127 milhões) e WhatsApp (120 milhões), de acordo com números do início de 2021.
Segundo especialistas, a rede se diferencia das demais plataformas pela capacidade de pautar o debate público. Centenas de políticos são ‘tuiteiros’ ativos e usam suas contas como diários oficiais informais, para anunciar decisões e publicar notas oficiais.
De acordo com os pesquisadores, essa é uma das características que faz o Twitter exercer influência indireta sobre redes mais populares, como WhatsApp e o Instagram. Ao mesmo tempo, notícias falsas e redes de ataque que surgem no Twitter também têm alta capacidade de viralizar de forma mais ampla no ambiente virtual.
Diretor do InternetLab, centro de pesquisa sobre internet e direitos humanos, o advogado Francisco Brito Cruz considera que a transação traz mais imprevisibilidade sobre a condução da comunicação das campanhas eleitorais. Ele ressalta, no entanto, que a moderação de conteúdo é um trabalho complexo, que envolve milhões de dados, e não se resolve só no discurso.
“Cada país tem uma concepção de liberdade de expressão. O que é entendido como nudez ou ofensa no Brasil tem a mesma interpretação em um país do Oriente Médio? A ideia de liberdade de expressão como uma coisa monolítica cria mais problemas do que resolve”, afirma o especialista, que complementa.
“Não se pode desconsiderar tudo que o Twitter já fez até aqui. A moderação de conteúdo da plataforma não é perfeita, mas é preciso compreender que isso é feito em escala industrial, de forma massiva, em 400 milhões de usuários. Qualquer moderação de conteúdo malfeita aumenta a desinformação em vez de colaborar para o debate”, argumenta.