Economia

Brasil chega à 6ª posição em ranking da ONU de investimento estrangeiro direto

Em relatório, organização destaca que desempenho ,mundial positivo em 2021 não deve se manter neste ano

Por CNN Brasil 09/06/2022 20h08
Brasil chega à 6ª posição em ranking da ONU de investimento estrangeiro direto
Países desenvolvidos concentram alta nos investimentos estrangeiros - Foto: Yuriko Nakao/Reuters

O Brasil avançou três posições e foi o sexto país que mais atraiu investimentos estrangeiros diretos em 2021, segundo um relatório da Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) divulgado nesta quinta-feira (9).

Os dados do Relatório Mundial de Investimentos apontam que o Brasil recebeu no ano passado US$ 50,3 bilhões em investimentos estrangeiros.

O valor representa uma alta de 78% em relação a 2020, quando o total foi de US$ 28,3 bilhões, mas ainda está abaixo do nível pré-pandemia, de US$ 65,3 bilhões.

A Unctad afirma que os setores mais beneficiados pelos investimentos foram agronegócio, fabricação de carros, eletrônicos, tecnologia da informação e serviços financeiros.

O valor dos chamados projetos “greenfield”, que ainda não saíram do papel, subiram 35%, enquanto o valor total de acordos de financiamento internacional tiveram alta de 32%.

Dentre os projetos “greenfield”, o relatório destaca o plano da montadora Bravo Motor para fabricar veículos elétricos, baterias e outros componentes no Brasil. O projeto é avaliado em US$ 4 bilhões.

Já dentre os acordos de financiamento, o maior é o de construção de uma fazenda offshore de geração de energia eólica avaliado em US$ 5,9 bilhões. A financiadora é a empresa espanhola Ocean Winds.

O desempenho do Brasil não foi uma exceção. A região da América Latina e do Caribe teve uma alta de 56% nos investimentos estrangeiros, totalizando US$ 134,4 bilhões.

O resultado também foi inferior ao período pré-pandemia, mas representou uma recuperação em relação a 2020, quando a crise sanitária levou a uma queda de 45% nos investimentos, a maior para o ano nas regiões em desenvolvimento.

De acordo com o relatório, o destaque na região foi o valor total anunciando em acordos de financiamento internacional, que superaram os níveis pré-pandemia. A Unctad atribui o resultado a grandes projetos na área de infraestrutura de transporte, em especial no Brasil, e em atividades de mineração e ligadas à energia renovável.

Para a agência, o desempenho positivo está ligado à alta demanda global por commodities agrícolas e minerais, ajudando no forte crescimento de investimentos estrangeiros em muitas economias da região.

Globalmente, os investimentos estrangeiros subiram 64%, com uma forte recuperação em relação a 2020 e totalizando US$ 1,58 trilhões. A maior parte, quase três quartos, desse crescimento se concentrou em países desenvolvidos.

O relatório atribui o bom desempenho à atividade aquecida de fusões e aquisições de empresas e um rápido crescimento de projetos de financiamento internacional em meio a pacotes de estímulo voltados à infraestrutura.

Outro fator importante para o resultado foram os lucros elevados de empresas multinacionais, que atingiram níveis recordes. O lucro das 5 mil maiores multinacionais dobrou, atingindo 8% para cada venda. Com isso, as multinacionais de países desenvolvidos mais que dobraram seus investimentos, responsáveis por três quartos do total global.

Apesar do bom desempenho, o relatório destaca que o investimento em projetos “greenfield” subiu menos que em aquisições e fusões, e segue abaixo dos níveis pré-pandemia. “Isso é uma preocupação, porque novos investimentos são cruciais para o crescimento econômico e perspectivas de desenvolvimento”, afirma.

No ranking global, os Estados Unidos lideraram a captação de investimentos estrangeiros, totalizando US$ 367 bilhões, ante US$ 151 bilhões em 2021. Em seguida, vem China (US$ 181 bilhões), Hong Kong (US$ 141 bilhões), Singapura (US$ 99 bilhões), Canadá (US$ 60 bilhões) e Brasil.

Para 2022, a Unctad alerta que o ambiente de negócios e investimentos mudou drasticamente com os efeitos da guerra na Ucrânia, mais especificamente com a elevação de preços de comidas e combustíveis e um ambiente financeiro mais apertado.

O relatório ressalta ainda incertezas sobre novos impactos da pandemia, a alta nos juros em grandes economias, um sentimento negativo nos mercados e o potencial de recessão.

Com isso, “sinais de fraqueza já estão aparecendo neste ano. Dados preliminares do primeiro quadrimestre apontam uma queda de 21% no anúncio de projetos greenfield, 13% em fusões e aquisições e 4% em acordos de financiamento de projetos”.

A projeção da agência é que o processo de crescimento de 2021 não se manterá neste ano, que os fluxos de investimento estrangeiro direto devem ter tendência de queda ou, no melhor cenário, estabilidade.

O relatório também destaca que o plano de implementar um imposto mínimo global de 15% sobre o lucro de grandes multinacionais, previsto para ser implementado entre 2023 e 2024, deve ter “grandes implicações para as políticas de investimento”.

“Embora as reformas tributárias aumentem a arrecadação de receitas para os países em desenvolvimento, do ponto de vista da atração de investimentos, elas trazem oportunidades e desafios”, afirma a secretária-geral da Unctad, Rebeca Grynspan.

Para ela, “os países em desenvolvimento enfrentam restrições em suas respostas às reformas, devido à falta de capacidade técnica para lidar com a complexidade das mudanças tributárias e pelos compromissos de tratados de investimento que podem dificultar a ação efetiva da política fiscal. A comunidade internacional tem a obrigação de ajudar”.