Thiago Abel

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O ser professor no Brasil: entre o cansaço e a urgência de ser visto.

17/10/2025 07h07 - Atualizado em 17/10/2025 08h08
O ser professor no Brasil: entre o cansaço e a urgência de ser visto.

Dia do Professor: entre o cansaço e a urgência de ser visto. 

Em mais um 15 de outubro os professores brasileiros celebram o dia deles instituído no século XIX, mas a data é mais pra celebrar ou refletir? 

O professor Fábio Luiz, natural de Penedo que hoje é uma das referências em ensino de história em Arapiraca lançou reflexões importantes sobre dia em sua página no Instagram. Endossado pelos viários likes, comentários e compartilhamentos de colegas de profissão o professor levantou questionamentos importantes sobre o trabalho em sala de aula e o que a classe espera da sociedade além do 15 de outubro. 

Para o professor Rodrigo Abraão, também uma referência no ensino em Arapiraca e atualmente professor do IFAL, o trabalho do professor precisa vir se equilibrar entre as atualizações tecnológicas e a didática amparada pela autoridade e disciplina necessária para o aprendizado de qualidade. 

Esse professor e colunista desse site reflete um pouco mais a seguir, e te convida a pensar junto como olhar com mais sensibilidade para uma categoria já calejada pelo tempo e desafios da educação. Vamos? 

Ser professor hoje não é tarefa fácil. A cada manhã, muitos de nós acordam já sabendo que, além de ensinar, terão de enfrentar estruturas ruins, cobranças irreais, desconfiança familiar… e uma carga invisível que, lentamente, corrói por dentro.

O peso da sobrecarga

A educação familiar e a escolar têm se afastado. Há quem veja a escola como inimiga, em vez de parceira. Esse cenário impõe um peso enorme: professores sentem-se desautorizados, isolados, como se carregassem não só o conteúdo em sala, mas também a frustração de quem espera pouco entendimento.

As demandas são múltiplas: preparar aulas, corrigir trabalhos, acompanhar frequência, participar de reuniões, adaptar-se a novas tecnologias, cumprir metas — e tudo isso, muitas vezes, fora do horário. O tempo que poderia ser usado para descanso, para formação ou para cuidar da própria saúde, simplesmente desaparece.

Adoecimento mental: um problema real

Não são metáforas. Dados científicos apontam que muitos professores estão adoecendo mentalmente:
• Pesquisa da UFMG identificou que nos professores da educação básica (6º ao 9º ano), transtornos mentais comuns — depressão, ansiedade, sofrimento emocional — aparecem em 53,3% dos casos. 
• Nesse mesmo estudo, dor musculoesquelética atingiu cerca de 26,7%; a Síndrome de Burnout foi identificada em 6,6%. 
• Em Natal, levantamento recente mostra que mais de 20% dos profissionais da educação afirmam vivenciar adoecimento mental. 
• Outra pesquisa no Paraná indica que 70% dos professores da rede estadual relataram adoecimento por conta do uso de múltiplas plataformas digitais, sobrecarga tecnológica e cobrança de metas. 

Esses números são alarmantes, principalmente porque implicam não só sofrimento individual, mas impacto direto na qualidade do ensino, no vínculo com os alunos e no compromisso com a profissão.

Estrutura, ambiente, assédio

Além da sobrecarga mental, há aspectos físicos e sociais que tornam a função insalubre em muitos casos:
• Estrutura escolar precária: salas com falhas, recursos insuficientes, ambientes que não favorecem nem ensino nem saúde.
• Perfil da comunidade: violência, expectativas irreais, falta de apoio da família ou mesmo oposição a estratégias pedagógicas, o que adiciona tensão ao dia a dia.
• Assédio moral: muitos professores relatam problemas com gestores que cobram resultados sem diálogo, que criticam em público, que desautorizam decisões de sala de aula. A cultura de punição e medo ainda está presente.

Quando a valorização marca a diferença

Mas não é só tragédia — há exemplos que mostram o que muda quando professores são respeitados, apoiados e reconhecidos:
• Um estudo recente do Instituto Península, em parceria com o Movimento Profissão Docente e a FGV, mostrou que a qualidade do professor é o fator que mais impacta os resultados educacionais no Brasil: cerca de 57,8% no ensino fundamental municipal e 36% no ensino médio estadual. Ou seja: investir em quem ensina não é gasto, é investimento direto no aprendizado dos alunos. 
• Programas como o “Mais Professores” (e iniciativas locais de formação continuada, acolhimento psicológico, suporte pedagógico) têm mostrado que o simples fato de dar voz e suporte ao professor produz resultados: professores mais motivados, menos rotatividade, melhor ambiente de sala de aula. (Ainda que esses programas sejam insuficientes, apontam caminhos). 

A importância de reconhecer a missão

O professor é peça-chave numa sociedade que pretende ser mais justa, mais consciente. Quando ele adoecer, não perde só sua saúde, perde-se um agente de transformação. O carinho dos alunos, o reconhecimento social, mesmo que pequeno, funciona muitas vezes como combustível: um gesto de gratidão, um olhar que diz “você importa”, pode dar força para continuar.

Mensagem de conforto e convocação

Para você, professor ou professora, que lê isso e talvez esteja cansado, talvez inseguro, saiba que suas lutas, dificuldades e conquistas não são só suas. Elas são coletivas.
• Quando um professor adoece, adoecemos todos — a comunidade escolar, os alunos, a sociedade.
• Quando um professor conquista reconhecimento ou melhores condições, todos os que dependem da educação ganham: alunos têm mais equidade, famílias se sentem mais confiantes, cidadãos mais conscientes.

Você não está sozinho na luta. Suas conquistas, mesmo as pequenas — uma aula que funcionou, um aluno que se sentiu acolhido, um colega que escutou você — são parte de algo maior.

Que este Dia do Professor seja também um lembrete: precisamos nos organizar, pedir políticas públicas que cuidem da saúde mental, fortalecer redes de suporte, cobrar estrutura digna, respeito, autonomia.

Porque educar — transformar — é tarefa de coletividade. E a coletividade precisa reconhecer, apoiar e cuidar de quem ensina.