Falhas na Vila Olímpica foram causadas por funcionários insatisfeitos
A Vila dos Atletas da Rio 2016 abriu suas portas para as delegações no último domingo com falhas que ganharam o noticiário internacional. Mas alguns desses problemas não foram causados por incompetência institucional ou atraso na entrega de serviços: também houve sabotagem por parte de funcionários insatisfeitos. Essa é a leitura que o Rio 2016 faz extraoficialmente de uma parcela dos problemas com os quais teve de lidar com urgência a partir das reclamações oficiais da Austrália no domingo. O comitê não procurou culpados, não identificou suspeitos, mas gente do alto escalão do órgão não vê outra explicação para encontrar blocos de cimento dentro de vasos sanitários e ralos, por exemplo. O motivo: a insatisfação de funcionários com atrasos de pagamento e condições de trabalho.
A reportagem consultou fontes do Comitê Rio 2016 e confirmou que há, de fato, suspeitas de sabotagem que, no entanto, não foram colocadas publicamente pelas autoridades por não haver provas suficientes para apontar os culpados. Mas a leitura dos responsáveis é de que situações como detritos da obra dentro de ralos e vasos sanitários não são falhas corriqueiras de obras. Parte desses insatisfeitos trabalharam para a Odebrecht, de acordo com dirigente do Rio 2016 que relatou atraso da empresa nos pagamentos. A empreiteira não confirmou os atrasos. Disse que somente o Comitê Rio 2016 poderia responder a essas questões.
Oficialmente, o Rio 2016 cita a chegada de um grande contingente de atletas ao mesmo tempo ao explicar a dificuldade em atender às demandas. O órgão diz que os problemas que não são estruturais só podem ser checados 100% durante a ocupação e o uso, como em qualquer apartamento entregue ou hotel. Afirma também que um possível boicote seria de responsabilidade do consórcio Ilha Pura e das construtoras envolvidas, por isso, não poderia responder sobre o tema. Nesta quarta-feira, o prefeito Eduardo Paes qualificou como erro a ausência de alguém do Comitê para acompanhar de perto o progresso na Vila para evitar o constrangimento público da organização com a recusa de delegações de ficar no local.
Dirigente influente no Rio 2016 disse informalmente à reportagem que o comitê "entrou para resolver o problema, não para buscar culpados". Ele, contudo, usou o termo sabotagem para descrever uma parcela das falhas e citou funcionários da Odebrecht, ressaltando não ter como apontar com precisão os responsáveis - e não ser esse o objetivo neste momento. Outra pessoa consultada afirmou que alguns funcionários "brincaram" com a obra. Restos de materiais usados foram jogados em vasos e ralos, entupindo os canos e causando problemas na tubulação, até vazamentos. Até blocos de cimento foram encontrados na tubulação.
Mais uma questão envolvendo possivelmente funcionários, insatisfeitos ou não, foram os furtos. Sumiram todo tipo de objetos com tamanho para caber em uma bolsa. De tampas de vaso sanitário a espelhos dos banheiros, além de luminárias, lâmpadas, torneiras, chuveiros e painéis de alumínio presos no teto das acomodações. A situação foi relatada na última sexta-feira no blog Bastidores FC, que teve a informação confirmada por um dirigente do alto escalão do Rio 2016.
Chefe de missão da Argentina, Diego Gusman conversou com o jornal "La Nación" e também usou o termo sabotagem para explicar a situação da Vila. Segundo ele, blocos de cimento estavam obstruindo vasos sanitários. Esse boicote incluiu também a limpeza do local. Funcionários que circulam pela Vila relataram que logo após a limpeza ser feita, os imóveis eram novamente sujos por pessoal insatisfeito, o que seria uma forma de protesto.
Pelo menos uma medida oficial indica a preocupação com ações intencionais: depois que foi entregue para a Rio 2016, o local ficou sob vigilância da Força Nacional de segurança, e todas as pessoas que entravam e deixavam o local eram vistoriadas. Após os reparos de última hora, o Diretor Executivo de Operações do Rio 2016, Rodrigo Tostes, em coletiva na Vila, lembrou que a ação envolvia a entrada da segurança para "fechar as portas" logo após finalizada a limpeza, novamente deixando evidente essa preocupação.
Mas houve falhas do outro lado. O Rio 2016 recebeu os imóveis sem poder testar as ligações de água, luz e gás, que normalmente apresentam problemas nos primeiros ensaios feitos logo depois da conclusão de obras. Essas análises foram feitas em cima da hora e se somaram aos atos individuais para o desfecho divulgado para todo o planeta no último domingo.
A Ilha Pura, que administrou o empreendimento e tocou os trabalhos, disse que a orientação é que o Rio 2016 responda qualquer questionamento: "A equipe de manutenção da Vila dos Atletas foi acionada para atender a falhas em alguns apartamentos e está realizando os ajustes necessários. O objetivo é manter todos os esforços para concluir estes ajustes de modo que as delegações possam desfrutar da melhor forma da estadia na Vila dos Atletas”.
Na Vila, Tostes afirmou na noite de terça-feira que 25 dos 31 prédios já estavam prontos. Outros três foram disponibilizados nesta quarta-feira, e três que restam estarão à disposição até o fim desta quinta-feira.