Pesquisa avalia a internacionalização na Costa dos Corais

Há cerca de cinco anos, quando avaliava a gestão ambiental no litoral norte de Alagoas, o professor Lindemberg Medeiros de Araujo, do Instituto de Geografia e Meio Ambiente, detectou um crescente investimento de capital estrangeiro na região. Ele então apresentou um projeto de pesquisa sobre o tema ao CNPq e a partir de 2009 começou a investigar essa questão.
O pesquisador, que além de ser professor do curso de Geografia, é também orientador do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Ufal, envolveu sete alunos para realizar levantamentos no onze municípios alagoanos do litoral norte, entre Maceió e Maragogi. Entre eles, André Camilo da Silva, da graduação em Geografia, que participou como pesquisador colaborador de iniciação científica de agosto de 2012 a agosto de 2013.
A pesquisa realizada por André Camilo, sob a orientação do professor Lindenberg, foi certificada como Excelência Acadêmica, no final do ano passado, e selecionada entre os nove trabalhos da Ufal a serem apresentados na 66ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), de 22 a 27 de julho, na Universidade Federal do Acre. "Realizei vários estudos agregados ao Laboratório de Turismo, Território e Meio Ambiente e fiz visitas de campo, aplicando entrevistas a proprietários de hotéis, pousadas, resorts e barracas que se localizam na zona costeira de Maceió", informou o estudante.
O estudante, que buscou ouvir os sujeitos envolvidos no objeto de pesquisa, ficou satisfeito com o reconhecimento. "Fiquei muito feliz pelo meu trabalho ter conquistado Excelência Acadêmica e, muito mais, por ter sido escolhido para representar a Ufal na reunião do SBPC este ano. Isso comprova que vale a pena desenvolver pesquisas e converter em conhecimento, nisso consiste o porquê da pesquisa científica. Como estudante e pesquisador reconheço a necessidade de dar um respaldo à sociedade, buscando analisar os problemas da nossa realidade e propor caminhos", relatou o estudante.
Problema com os resorts
Os pesquisadores avaliaram as formas de empreendimentos turísticos instalados e detectaram problemas, principalmente relacionados aos resorts. "Esses empreendimentos se instalam na orla e privatizam áreas públicas, como mangues e praias, que são áreas da União, sob proteção da Marinha, e deveriam estar abertas ao público. Até mesmo pescadores, de famílias que habitam a muitos anos essas áreas, se vêem impedidos de chegar à praia, onde seus barcos ficam fundeados", denuncia o professor Lindemberg Medeiros.
Do ponto de vista cultural, os grandes empreendimentos estrangeiros também tendem a isolar os hóspedes da realidade local. "Essa exclusão da comunidade nativa, conhecida como enclave, é bem evidente. Tudo nesses resorts, desde a decoração aos alimentos consumidos, tende a ser padronizado, segundo os hábitos do país de origem. É como viajar, mas sem sair do país", relata o professor.
Em relação a economia, esses empreendimentos também acabam não representando um incentivo ao desenvolvimento local. "Até 90% do lucro é repatriado para o pais de origem do resort. São questões que demandam uma intervenção do poder público, para definir regras para esses empreendimentos. Em um desses resorts, por exemplo, flagramos os funcionários jogando o lixo no mangue. Um contra-senso, já que a preservação da natureza é fundamental para o turismo", ressaltou Lindemberg.
Utilizando ferramentes como o Google Earth, o professor Lindemberg Medeiros constatou que 32 unidades do litoral, entre terrenos e empreendimentos, estão sob o comando de estrangeiros na costa norte de Alagoas. "Isso representa 3,3 km² do nosso território nas mãos de empresários de outros países. Tem um desses resorts, de bandeira espanhola, que até construiu um muro na areia para privatizar a praia. Nós não podemos ficar abertos e desprotegidos dessa forma. Esses empreendimentos precisam respeitar as regras nacionais", destacou o pesquisador.
O professor colocou como exemplo a experiência cubana. A ilha está se abrindo para o investimento turístico internacional, mas com regras rígidas para quem resolve investir no país. "Em Cuba, Os hotéis e resorts internacionais devem deixar 51% dos lucros no país, além de se comprometerem a treinar e contratar mão de obra local. Isso garante que os investimentos estrangeiros colaborem decisivamente com o desenvolvimento sócio-econômico do país onde o empreendimento é instalado", explica Lindemberg.
Em contraponto, o professor exemplifica o que aconteceu na costa mexicana, onde os grandes empreendimentos turísticos de capital estrangeiro se instalaram de forma menos dirigida. "Isso provoca um neocolonialismo. Esses países ricos ocupam o território., exploram as belezas naturais, e o retorno para o local é quase nenhum. Na verdade, em Cancun, os empreendimentos provocaram uma segregação. Os pobres foram afastados para não incomodar o turismo", refletiu o professor.
Essa é uma questão que deve ser avaliada com atenção, segundo o pesquisador, enquanto a internacionalização do turismo ainda está se consolidando na costa alagoana. "Em Alagoas, coletamos relatos de moradores denunciando preconceito e discriminação promovidos por italianos, que chamavam os nativos de feios e mal-educados. Isso não pode acontecer. O turismo é importante, movimento 2 trilhões de dólares no mundo, mas deve acontecer com respeito à cultura e ao povo de cada nação", pondera Lindemberg.
A rota ecológica
A próxima etapa da pesquisa, já aprovada pelo CNPq, é avaliar o trecho mais preservada da costa norte. Segundo informações de Lindemberg Medeiros, são 23 km sem resorts e sem grandes hotéis, com 13 pousadas, sendo 9 delas pertencentes a estrangeiros. "Estes empreendimentos têm outra filosofia, eles preservam o meio ambiente, protegem a paisagem e interagem com a comunidade local. Temos um israelense, dono de uma dessas pousadas, que dá aulas de inglês para as crianças que moram na vizinhança. É uma outra forma de relação com a população nativa", relata o pesquisador.
Nesses empreendimentos de menor porte, os pesquisadores detectaram propostas de sustentabilidade, como a preocupação com coleta seletiva de lixo e a utilização de fontes de energia alternativa, como a instalação de placas solares. "As pousadas tem poucos quartos, atendem os hóspedes de forma mais personalizada e buscam investir nas melhorias locais, em parceria com as prefeituras. Essas são formas de investimento menos impactantes, que podem ser preservados. Nossa preocupação é que depois de construída a ponte na cidade de Porto de Pedras, os resorts queiram invadir também essa área. Antes disso, o poder público deve planejar e definir as regras de preservação.", afirma o professor.
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